A presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna avisou esta quinta-feira que o risco de fecho de serviços de urgência vai agravar-se, alertando que, se nada for feito, será impossível cumprir as escalas no último trimestre do ano.
Lèlita Santos referia-se ao alerta feito pela Ordem dos Médicos e por um movimento cívico promovido por médicos, denominado “Médicos em luta”, de que muitas urgências do país correm o risco de fechar devido à falta de médicos, problema ao qual se junta a apresentação de escusas ao trabalho extraordinário, além das 150 horas obrigatórias por lei.
Numa resposta escrita à agência Lusa, a médica internista afirmou que atualmente existem já “vários hospitais com o risco de fecho das suas urgências”.
A presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna sublinhou contudo que o problema não é apenas nestes serviços, dos quais se “fala mais porque é a face mais visível do problema”.
A falta de profissionais, nomeadamente médicos, tem conduzido a uma sobrecarga a vários níveis com dificuldades de apoio nos internamentos, nas consultas e em múltiplas outras unidades. Isto conduz à desagregação das equipas, cansaço e desmotivação com a fuga para a clínica privada ou para outros países, com melhorias remuneratórias, mas sobretudo melhores condições de trabalho e projetos mais aliciantes e com facilidade em os realizar”, salientou Lèlita Santos.
Na sua opinião, “a situação vai agravar-se e, se nada for feito”, haverá “a impossibilidade de cumprir as escalas de serviço para este último trimestre que se aproxima”.
A internista defendeu que os médicos precisam de estar motivados e terem mais condições de trabalho para realizarem os seus projetos, bem como tempo para os concretizarem.
Defendeu ainda que os médicos também precisam de “tempo para estar com os doentes e pensar e trabalhar nas equipas, remunerações adequadas e reconhecimento”, o que no seu entender os iria reter no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
Aludindo à especialidade de Medicina Interna, disse que “é e sempre foi uma especialidade aliciante por ser versátil”, mas acrescentou que “atualmente a organização nos hospitais conduz a que estes médicos tenham uma grande sobrecarga de trabalho agravada pela saída de outras especialidades dos serviços de urgência”.
Além disso, observou, “o excesso de doentes agrava esta situação porque mais uma vez as condições clínicas, que seriam melhor atendidas em outras unidades de saúde, como os cuidados de saúde primários, não são também pelo défice de recursos a esse nível”.
Para a presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, “é necessário e urgente que a tutela encare estes problemas com urgência e promova o diálogo com os sindicatos e com a Ordem dos Médicos em redor de propostas realistas, que preservem a segurança dos doentes que estão dependentes das condições de trabalho dos médicos”, afirmando que as propostas até agora feitas não lhe parecem razoáveis.
Questionada sobre as vagas de Medicina Interna que ficam por preencher nos hospitais, a especialista disse que muitos internistas que fazem a sua formação no SNS saem após o exame da especialidade devido à falta de condições de trabalho.
“A manter-se a situação o SNS vai ter muita dificuldade em resistir”, lamentou Lèlita Santos.
No início de setembro, um grupo de profissionais enviou ao ministro da Saúde uma carta aberta com mais de 1.000 assinaturas de médicos a avisar da sua indisponibilidade para fazerem mais horas extra a partir de 12 de setembro.
Desde então, segundo o movimento Médicos em Luta, que entretanto se constituiu, a indisponibilidade dos médicos provocou “problemas na elaboração da escala do serviço de urgência” em pelo menos 21 hospitais, incluindo Viana do Castelo, Garcia da Orta, Bragança, Barreiro, Guarda, Viseu, Santarém, Braga, Matosinhos, Leiria, Aveiro, Caldas da Rainha, Torres Vedras, Portimão e o Hospital Santa Maria (Lisboa).