O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse esta quarta-feira que as suas propostas de reformas profundas da arquitetura financeira internacional “estão a ganhar força”, admitindo progressos apesar “das profundas divisões” na comunidade internacional.

Num briefing à Assembleia-Geral da ONU sobre o relatório designado como “Nossa Agenda Comum”, Guterres disse que estão em curso debates sobre o reforço da governação mundial em domínios que incluem a saúde, o ambiente, o espaço exterior e a cooperação digital.

Há sinais de um novo impulso para adaptar a tomada de decisões intergovernamentais às realidades atuais, desde a Assembleia-Geral, ao Conselho de Segurança e à Comissão de Consolidação da Paz”, afirmou.

“As nossas propostas de reformas profundas da arquitetura financeira internacional estão a ganhar força desde Bridgetown, a Paris, e passando por Nova Deli”, sublinhou, acrescentando que essas ideias continuarão a ser debatidas na Cimeira do Clima COP28 (a realizar entre 30 de novembro e 12 de dezembro no Dubai) e na Cimeira do Futuro, agendada para o próximo ano.

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Ainda num balanço da semana de alto nível da 78.ª Assembleia-Geral da ONU, que chegou ao fim na semana passada, o ex-primeiro-ministro português indicou que manteve 141 reuniões bilaterais e que em todas elas, “sem exceção”, os líderes internacionais “falaram da importância das soluções multilaterais” e apelaram a reformas das instituições multilaterais, uma vez que “não estão a dar resultados”.

Houve fortes críticas ao descompasso entre as instituições de governação global e as realidades económicas e políticas do nosso mundo. Houve uma profunda preocupação com o estado do planeta e com o clima que estamos a deixar às gerações futuras. E houve repetidos apelos para novas diretrizes e proteções para novas tecnologias. Em suma, os temas comuns que emergiram da semana de alto nível são os temas da Nossa Agenda Comum”, afirmou.

O líder da ONU observou que as propostas e ideias do relatório “Nossa Agenda Comum” são “pontes” entre as aspirações e aquela que pode vir a ser a realidade da humanidade, apelando a que as propostas da Nova Agenda para a Paz, da reforma da arquitetura financeira global e do Pacto Digital Global sejam adotados em 2024, durante a Cimeira do Futuro.

Em termos genéricos, o relatório apela a uma renovação do contrato social, ancorada nos direitos humanos e baseada na Agenda 2030 e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; reconhece as responsabilidades para com os jovens e gerações futuras; e enfatiza a necessidade de se transformar os mecanismos de governação global.

De acordo com Guterres, também o sistema das Nações Unidas está a dar passos importantes para transformar a forma como trabalha, tendo lançado um novo Conselho Consultivo Científico e aumentado o envolvimento com outras partes interessadas importantes, desde a sociedade civil, aos parlamentos e ao setor privado.

O líder da ONU também anunciou que lançará “nos próximos dias” um Conselho Consultivo sobre Governos Locais e Regionais e nomeará um órgão consultivo de alto nível sobre Inteligência Artificial ainda este mês, para apresentar recomendações sobre governação até ao final do ano.

O mundo mudou nos dois anos desde que publiquei o meu relatório. A atualização desta quarta-feira mostra que a comunidade internacional também mudou. Apesar das profundas divisões, fizemos progressos. (…) O próximo ano de preparativos para a Cimeira do Futuro será crítico.”, frisou, perante o corpo diplomático presente na sessão.