A Dacia continua a ser o construtor que mais vende veículos equipados com motores bi-fuel, aqueles que podem consumir gasolina ou gás de petróleo liquefeito (GPL), arrancando com o primeiro, mas consumindo a partir daí o segundo, com vantagens para a carteira e para o ambiente. O GPL é uma mistura dos gases propano e butano, cuja percentagem varia consoante os países e que já estamos habituados a utilizar para alimentar o fogão ou o aquecimento lá de casa.
Um motor a GPL é, essencialmente, uma unidade a gasolina que usufrui de pequenas alterações para queimar igualmente GPL, sendo uma alternativa aos motores que consomem gás natural comprimido (GNC). Com a vantagem do primeiro necessitar de apenas recarregar o depósito a uma pressão de 20 bar, contra 200 bar do segundo. A questão que se impõe é saber até que ponto, em final de 2023, ainda vale a pena adquirir um veículo a GPL, para quem pretenda um modelo barato que poupe a carteira e o ambiente, ou se é preferível avançar para um modelo híbrido. Para tirar isto a limpo, nada melhor do que uma conversa com responsáveis da Dacia e da Galp.
É fácil encontrar um posto de abastecimento de GPL?
Nada impede um veículo a GPL de funcionar apenas a gasolina, uma vez os motores adaptados pelo fabricante para serem bi-fuel podem queimar indiscriminadamente qualquer um dos dois combustíveis. Contudo, só se utilizar GPL é que o condutor consegue poupar tanto a sua carteira como o ambiente, o que torna determinante a facilidade em encontrar um posto de combustível onde, idealmente, seja possível abastecer de gasolina e GPL.
Segundo a Dacia, existem em Portugal 431 bombas de abastecimento de GPL, número que está longe das aproximadamente 3000 que servem gasolina e gasóleo, mas que ainda assim garantem uma cobertura quase nacional. O processo de abastecimento é fácil e quase tão rápido quanto gasolina.
O gás está pressurizado a cerca de 20 bar e, se inicialmente o processo era complexo nos carros que foram adaptados sem ser pelos fabricantes, hoje os veículos bi-fuel já não têm de instalar uma botija de gás na mala, limitando-lhe capacidade, possuindo um bocal para recarregar junto ao da gasolina e um depósito de segurança colocado no local do pneu sobressalente (com o tanque de gasolina a ficar localizado sob o assento traseiro).
Como é o GPL em termos ambientais?
Face à gasolina, o gás de petróleo liquefeito tem vantagens em matéria de emissões. A quantidade de partículas que lança para atmosfera é 81% menor, segundo a Galp, para depois ao volume de CO2 ser 21% inferior, com os NOx a representarem valores similares.
Esta vantagem por unidade de volume diminui, se tivermos presente que a quantidade de combustível necessário para percorrer o mesmo número de quilómetros é ligeiramente superior no gás, o que leva as reduções no caso do dióxido de carbono, por exemplo, a caírem para 10%.
Custos de utilização com GPL são melhores que gasolina?
Apesar do GPL anunciar um elevado poder calorífico, o motor de um veículo bi-fuel gasta mais quando queima GPL do que gasolina. A diferença varia consoante as características do veículo, rondando os 20% em condições normais. Mas como o preço do GPL é 50% inferior ao da gasolina (no momento em que escrevemos estas linhas), a vantagem em termos de custos favorece claramente o gás em detrimento da gasolina.
Considerando que, em média, o GPL custa 0,83€/kg e a gasolina 1,85€/litro, um automóvel que consuma 7 kg/100 km de GPL, necessitaria de 5,8 l/100 km de gasolina. Isto implica gastar 10,73€ se o condutor circular a gasolina ou apenas 5,81€ se optar por GPL, o que garante uma redução de 46% nos custos, o que pode equivaler a 738€ para um condutor que percorra 15.000 km por ano. Este é um ganho superior ao que se pode esperar até de um veículo similar com motor híbrido (full hybrid) a gasolina, face a um similar não electrificado.
Um veículo a GPL anda mais ou menos que a gasolina?
Considerando motores iguais ou, pelo menos, equivalentes, uma unidade que funcione a GPL fornece sensivelmente a mesma potência. O valor pode até ser mais elevado ou mais baixo do que a mesma unidade a gasolina, mas isso deve-se sobretudo à estratégia da marca. E o melhor exemplo é dado pela própria Dacia, que recorre no Jogger ao mesmo motor com 3 cilindros e 999 cc para a sua versão a GPL (bi-fuel) e a gasolina. Esta unidade sobrealimentada debita 110 cv na versão a gasolina e 100 cv na versão bi-fuel, assegurando igualmente um binário inferior (170 Nm em vez de 200 Nm). E, neste caso, o Jogger a gasolina atinge 183 km/h de velocidade máxima (contra 174 da versão ECO-G, a GPL), sendo ainda mais rápido na aceleração. Tarda 11,2 segundos para ir de 0-100 km/h, o que significa que é 2 segundos mais rápido do que a versão a gás.
Curiosamente, na mesma marca, também o Sandero Stepway oferece versões a gasolina e a ECO-G, mas aqui o cenário é distinto, uma vez que o 1.0 TCe fornece apenas 90 cv, enquanto a versão a GPL mantém os 100 cv do Jogger. Neste caso, é a versão a GPL a mais veloz e rápida.
Um modelo a GPL é mais caro? E compensa?
Não há grandes diferenças no preço de venda dos modelos a GPL, sendo que no caso da Dacia até chegam a ser mais baratos, ainda que por uma margem mínima. Se considerarmos o Jogger na versão Extreme com sete lugares, a motorização ECO-G a gás é proposta por 21.650€, ao passo que o motor 1.0 TCe a gasolina exige um investimento de 22.050€.
A diferença de 400€ não justifica optar por um motor ou outro, pelo que a decisão para o potencial cliente será determinada pelos menores custos de utilização que, como vimos atrás, permitem poupar 46% no dispêndio em combustível. Isto caso se habite numa área servida por um posto de recarga de GPL.
Se o interesse é poupar e a questão é perceber se a opção por um motor a gasolina híbrido faz mais sentido do que um concorrente a GPL, também é possível encontrar a resposta na Dacia, uma vez que o Jogger disponibiliza igualmente a versão 1.6 Hybrid com 140 cv. Com um consumo cerca de 20% inferior face ao mesmo modelo com motor não electrificado a gasolina (1.0 TCe 110 cv), o que se traduz em igual percentagem de poupança em matéria de custos, o motor híbrido posiciona-se praticamente meio caminho nos benefícios para a carteira, entre as versões a gasolina e a GPL, sendo esta a mais vantajosa. Mas o factor que mais desequilíbrio pode causar entre o híbrido e o GPL é mesmo o preço, uma vez que o modelo electrificado, ao ser proposto por 28.850€, obriga a desembolsar mais 7200€ – o que equivale a um incremento de 33,3%.