Uma jornalista russo-americana da Radio Free Europe/Radio Liberty (RFE/RL) foi detida na Rússia e acusada de não se registar como “agente estrangeiro”, revelou a sua empresa.

Alsu Kurmasheva, editora da Radio Free Europe/Radio Liberty, é a segunda jornalista norte-americana a ser detida na Rússia este ano, depois de Evan Gershkovich, repórter do Wall Street Journal, ter sido preso por alegada espionagem em março.

Kurmasheva, editora do serviço Tatar-Bashkir da RFE/RL, está num centro de detenção temporária, disse a Tatar-Inform, uma agência de notícias estatal na república do Tartaristão.

O Comité de Proteção dos Jornalistas (CPJ) classificou as acusações contra Kurmasheva como “falsas”, exigindo que as mesmas sejam retiradas e a jornalista libertada.

A Tatar-Inform disse ainda que as autoridades acusaram a jornalista de recolher informações sobre as atividades militares da Rússia “para transmitir informações a fontes estrangeiras”, nomeadamente sobre professores universitários mobilizados para o exército russo.

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Detida em Kazan, a capital da república russa do Tartaristão, Alsu Kurmasheva enfrenta acusações de não se registar como “agente estrangeiro” na qualidade de pessoa que recolhe informações e pode ser condenada até cinco anos de prisão.

“Alsu é uma colega altamente respeitada, esposa dedicada e mãe de dois filhos”, disse o diretor da RFE/RL, Jeffrey Gedmin. “Alsu precisa de ser libertada para que possa voltar para a sua família imediatamente”.

Os Estados Unidos consideram que a detenção de uma jornalista russo-americana por parte das autoridades russas é um novo caso de “hostilização” desse país para os cidadãos americanos, e criticou que Moscou não tenha notificado Washington ainda dessa detenção.

O porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, afirmou que o governo norte-americano está a seguir o caso. “Ainda não fomos notificados oficialmente (da detenção) pelo governo russo, mas é um caso que estamos a seguir desde que lhe retiraram o passaporte em maio, proibindo-lhe a saída do país”, disse Miller em conferência de imprensa.

A Embaixada dos EUA em Moscovo afirmou estar ciente dos relatos da captura de Kursmasheva. A jornalista foi inicialmente detida no Aeroporto de Internacional de Kazan a 02 de junho, depois de viajar para a Rússia por causa de uma emergência familiar, segundo a RFE/RL.

As autoridades no aeroporto confiscaram os passaportes russos e americanos da jornalista, que foi multada por não registar o seu passaporte dos EUA junto das autoridades russas.

Kurmasheva aguardava pela devolução dos seus documentos quando lhe foi feita a acusação na quarta-feira, informou a RFE/RL. “Naquela altura, estava claro que não tinham nada contra ela, portanto talvez fosse uma forma de intimidação. E depois disso demoraram três meses para decidir como iriam organizar o caso contra ela”, disse Galina Arapova, do Centro de Defesa da Comunicação Social da Rússia.

A RFE/RL foi instruída pelas autoridades russas a registar-se como agente estrangeiro em 2017. Alsu Kurmasheva reportou sobre as comunidade de minorias étnicas nas repúblicas do Tartaristão e Bashkortostan na Rússia.

Vários analistas indicam que Moscovo pode estar a utilizar americanos presos como moeda de troca, após o aumento das tensões EUA-Rússia com a invasão da Ucrânia.

Nos últimos anos, pelo menos dois cidadãos norte-americanos foram presos na Rússia e trocados por russos presos nos EUA, incluindo a estrela de basquetebol Brittney Griner.

“O jornalismo não é um crime e a detenção de Alsu é mais uma prova de que a Rússia está determinada em reprimir a informação independente”, afirmou Gulnoza Said, coordenador do CPJ para a Europa e Ásia.

Gershkovich compareceu várias vezes em tribunal desde a sua detenção e apelou várias vezes, sem sucesso, à sua libertação.

O Serviço Federal de Segurança da Rússia alegou que Gershkovich “agiu de acordo com as instruções do lado americano, recolheu informações que constituem segredo de Estado sobre atividades de uma das empresas do complexo militar-industrial russo”.

O jornalista e o Wall Street Journal negam as acusações e o governo dos EUA declarou que foi detido injustamente.