O Banco BPI aumentou os lucros em 35% nos primeiros nove meses do ano, para 390 milhões de euros. Destes 390 milhões, 324 milhões são resultados que dizem respeito à atividade em Portugal – os lucros em Portugal duplicaram nestes nove meses. O banco renegociou já 3.400 contratos de crédito à habitação, desde que foram lançadas as medidas de apoio público. Mas, na semana em que entra em vigor um novo pacote de medidas, o presidente do banco alerta que só as pessoas que necessitam mesmo devem recorrer, porque isso gera “uma fatura que se vai pagar mais à frente“.
Os resultados consolidados beneficiaram de uma quase duplicação (+84%) da margem financeira, um indicador que basicamente reflete a diferença entre os juros cobrados pelo bancos nos empréstimos que concede e, por outro lado, os juros pagos pelas fontes de financiamento do banco (designadamente os depósitos). A margem financeira ascendeu a 688 milhões de euros.
O banco comunicou a informação à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), esta segunda-feira, e o presidente-executivo João Pedro Oliveira e Costa apresentou os resultados numa conferência de imprensa em Lisboa.
O stock de depósitos de clientes diminuiu 6% na comparação com o período homólogo, um efeito que se fez sentir sobretudo no primeiro semestre com a “fuga” para certificados de aforro e com a utilização de poupanças para amortizar créditos à medida que as prestações de crédito subiram à boleia das Euribor.
Ainda assim, o banco conseguiu aumentar a carteira de crédito à habitação, em 4% na comparação homóloga, para cerca de 14.600 milhões de euros. “A contratação de habitação diminuiu 15% face ao período homólogo, alcançando cerca de 1.800 milhões nos primeiros nove meses de 2023 como consequência da menor procura de mercado”, diz o banco.
Banco renegociou créditos de 3.400 clientes. 4.700 recebem bonificação de juros
O BPI renegociou, até agora, os créditos de 3.400 clientes de crédito à habitação, desde que foram lançadas as primeiras medidas governamentais para mitigar o impacto da subida das taxas Euribor (em novembro de 2022). Trata-se de 2,8% da carteira de crédito à habitação do banco, assinala o comunicado de imprensa do banco.
O banco tem, também, 4.700 clientes que estão a receber bonificação de juros, que foi lançada mais tarde. A bonificação média ronda os 10 euros por mês.
“Temos assistido a muitos comentários sobre a preocupação com o crédito à habitação, e nós também temos essa preocupação, mas é preciso dizer que nos últimos três anos recuperou 20 imóveis e este ano não recuperou nenhum“, afirma João Pedro Oliveira e Costa.
O facto de o banco não estar a receber quaisquer habitações de clientes, executados por deixarem de pagar as prestações, deve-se à “atitude preventiva que o banco tem, temos sempre uma forma de atuar junto dos nossos clientes antes de se chegar a uma situação mais difícil”, diz João Pedro Oliveira e Costa, destacando também que o banco tem uma “enorme sensibilidade com as habitações dos portugueses e dos nossos clientes” e tem sempre “soluções concretas” para apresentar aos clientes.
Só clientes que “precisam mesmo” devem aderir a medidas do Governo
Esta semana vão entrar em vigor as novas medidas governamentais apresentadas pelo Ministério das Finanças, que incluem um reforço da bonificação e da estabilização da prestação, e o banco diz-se “preparado” para receber os pedidos de clientes que irão querer, pelo menos, simular a sua situação e tomar uma decisão.
“Aqueles que têm mesmo dificuldade devem aderir e não os restantes”, diz João Pedro Oliveira e Costa. “Na prática, vai-se pagar esse alívio agora mais à frente, capitalizado com juros do próprio crédito. Acho que é importante se aqueles que não têm essa necessidade premente se o devem fazer porque essa fatura vai aparecer mais à frente“, acrescenta.
De qualquer forma, João Pedro Oliveira e Costa diz que não devem ser “os bancos a fazer algum tipo de conselho sobre este assunto, porque é uma opção que cada um terá de fazer conforme os seus gastos e os seus rendimentos”.
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