Os lucros do Novo Banco aumentaram 49% nos primeiros nove meses do ano, para 638,5 milhões, informou a instituição esta quinta-feira em comunicado. O aumento nos lucros foi conseguido graças à margem financeira, que mais que duplicou – o indicador que reflete a diferença entre os juros pagos pelos clientes nos créditos e os juros que o banco paga pelos depósitos e pelas suas outras fontes de financiamento. O banco disse, numa conferência com analistas, que não tem quaisquer sinais de que a carteira de crédito possa ter problemas no futuro próximo. E indicou que a cotação do capital em bolsa pode surgir no primeiro semestre de 2024.
Essa última revelação foi feita em entrevista à agência Reuters. “O nosso trabalho é estarmos prontos quando os acionistas estiverem prontos para avançar. A minha visão continua a mesma: operacionalmente o banco estará pronto [para um IPO] no primeiro semestre de 2024“, disse Mark Bourke em entrevista à Reuters.
O gestor sublinha, porém, que a bolsa tem estado menos recetiva a operações de cotação de empresas na bolsa. Isso piorou com “o revés muito significativo nas últimas semanas” com a tensão no Médio Oriente. A ideia é aproveitar oportunidades quando elas surgirem, indicou o presidente da comissão executiva do Novo Banco.
Os resultados apresentados esta quinta-feira são os mais elevados na história do banco que foi formado após a resolução do Banco Espírito Santo (BES). Na desagregação por trimestre, confirma-se que os lucros do banco aumentaram em cada um dos três trimestres, à medida que as taxas de juro subiram e que cada vez mais clientes com crédito tiveram a revisão dos encargos pagos. No primeiro trimestre houve lucros de 148 milhões, no segundo 225 milhões e no terceiro 265 milhões de euros.
A margem financeira nos primeiros nove meses do ano ascendeu a 831 milhões, quando nos primeiros nove meses de 2022 esse indicador tinha-se fixado em 406 milhões. “A margem financeira totalizou 831,2 milhões de euros, reflexo da melhoria da taxa de juro média dos ativos que superou o aumento do custo de financiamento”, indica o Novo Banco.
Em concreto, o Novo Banco fala numa “evolução favorável das taxas ativas”: 3,98%, mais que o dobro período homólogo (1,79%). Esse indicador “mais que compensou as taxas passivas mais elevadas”, ou seja, aquelas que o banco paga pelos depósitos e outras fontes de financiamento (1,29%, contra 0,31% em 2022),
Esta é uma evolução que tem sido comum a todos os bancos a operar em Portugal que já comunicaram ao mercado os seus resultados trimestrais. Entre os maiores só falta a Caixa Geral de Depósitos, que deverá fazer essa comunicação ao final da tarde de sexta-feira 10 de novembro.
“No terceiro trimestre o banco continua a apresentar fortes resultados“, diz o presidente da comissão executiva do Novo Banco, Mark Bourke. “Além de rentável tem capacidade de geração de capital”, acrescenta o responsável no comunicado onde defende que o Novo Banco tem “um balanço sólido e de elevada liquidez”.
Sem “stress”. Novo Banco não antevê problemas na carteira de crédito
O Novo Banco não agendou conferência de imprensa de apresentação destes resultados. Porém, numa conferência com analistas realizada à hora de almoço desta quinta-feira, o presidente da comissão executiva do banco considerou que a “economia portuguesa é um ponto brilhante no contexto europeu“.
O crescimento económico esperado, em torno de 2,1%, é uma desaceleração face ao ano anterior mas ainda assim é um crescimento muito superior ao previsto para a generalidade dos países europeus, destacou Mark Bourke. “O emprego está em máximos históricos e desemprego em mínimos”, afirmou o gestor, acrescentando que o Novo Banco “esperava um plateau nos preços do imobiliário mas os preços continuam a subir, embora com menos transações”.
Na mesma conference call com analistas, o administrador financeiro Benjamin Dickgiesser comentou que o banco não tem quaisquer indicações de que a carteira de crédito possa ter problemas no horizonte próximo, apesar da subida das taxas de juro e das prestações suportadas pelos clientes. Houve uma criação “mínima” de créditos não-performantes no período em análise, diz o Novo Banco.
Daqui para a frente, “é muito difícil prever mas sabemos que não estamos a ver nada” em termos de primeiros sinais de alarme. Mark Bourke salienta que já aconteceu o chamado “repricing” praticamente todo, ou seja, quase toda a carteira de crédito já viu as prestações ajustadas ao novo contexto de taxas de juro. “Não estamos a ver stress algum”, diz o gestor, reconhecendo que é inevitável admitir que podem estar a ser usadas poupanças, que se podem ir esgotando, mas para já não há quaisquer indicações preliminares de possíveis problemas.
Ainda assim, o banco tem a “perceção de que o banco está a atingir o pico na margem financeira“, já que as taxas de juro (Euribor) parecem estar a estabilizar e a generalidade dos clientes já teve a revisão das prestações para o novo cenário de taxas mais elevadas. O que está a notar-se é uma redução da procura por novo crédito, reconhece o Novo Banco.