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Elefantes bebés, um trono de plástico, e a pregadeira de Isabel II: Carlos e Camila no Quénia

Este artigo tem mais de 1 ano

Ao longo de quatro dias, os reis cumpriram uma agenda que visava fortalecer laços entre Reino Unido e Quénia. Dos looks às preocupações com o ambiente, fica o balanço da visita.

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A viagem ao Quénia anunciava-se emotiva pelos laços que a família real tem com o país. Era lá que a jovem princesa Isabel estava quando ficou a saber que se tinha tornado na Rainha Isabel II e foi lá que o príncipe William pediu Kate Middleton em casamento. No próximo mês de dezembro passam 60 anos da independência do Quénia do império britânico e Carlos III fez deste o primeiro país da Commonwealth que visitou no seu reinado. Carlos e Camila aterraram em Nairobi, a capital do Quénia, na passada terça-feira para uma visita de quatro dias em que cumpriram uma agenda bem ao gosto do Rei, preenchida por encontros, projetos ligados à Natureza e diálogo religioso e, claro, as obrigações que o seu cargo exige, como o discurso sobre a herança do colonialismo.

Através da conta de Instagram da Família Real, foi possível acompanhar os pontos altos desta tour e a cobertura começou logo com a viagem dos reis a caminho do Quénia.

O jantar de gala e o discurso do Rei

Carlos e Camila chegaram a Nairobi a 31 de outubro, onde foram recebidos pelo Presidente e pela primeira dama do Quénia, William e Rachel Ruto. O dia foi preenchido com uma visita a uma quinta (onde o Rei colheu vegetais), a um hub tecnológico e ao Museu Mashujaa, dedicado à história do país e da sua luta pela independência, guiada pelo criador.

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À noite teve lugar um banquete de estado, oferecido pelo Presidente William Ruto. No seu discurso, Carlos III terá ido mais longe do que muitos previam e condenou os “abomináveis e injustificáveis atos de violência” que o seu país cometeu durante a época colonial contra os quenianos, apesar de não ter pedido desculpa pelos ditos atos.

O Rei disse querer dedicar a sua viagem de quatro dias a compreender o que foi feito de errado e a conhecer algumas das pessoas cujas vidas foram prejudicadas. No seu discurso fez também questão de referir os laços da sua família ao Quénia, lembrando a “particular afeição” da mãe e que foi lá que o filho decidiu pedir a sua “adorada nora”, Kate Middleton, em casamento. Ainda surpreendeu os restantes presentes ao falar em swahili.

Carlos III condena violência do Reino Unido contra quenianos na época colonial

O banquete reuniu 350 convidados quenianos e britânicos na State House, a sua residência oficial em Nairobi. A refeição contou com oito pratos, entre os quais lagosta Malindi, salmão grelhado, bife Wellington, e para sobremesa houve miniaturas de vários bolos.

Joias, óculos de sol e dois septuagenários fiéis ao seu estilo ao longo da tour

As escolhas de Camila podem estar longe do mediatismo de um guarda-roupa internacional de Kate Middleton, mas por outro lado nunca falha. Nesta viagem foi fiel ao seu estilo pessoal e quanto às joias levou na sua mala de viagem uma combinação de peças próprias e de outras herdadas da rainha Isabel II.

Para o banquete, o momento mais formal desta visita, Camila usou um conjunto composto por túnica e calças largas em azul. Como acessórios, a rainha optou por um colar Van Cleef & Arpels em forma de serpente, que pertenceu à sua avó. Durante a viagem também a pudemos ver com um colar em ouro com as iniciais dos cinco netos.

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© Getty Images

Da coleção da sogra, Camila trouxe uma das preciosas pregadeiras que se tornaram assinatura de estilo de Isabel II. Trata-se da pregadeira concha de vieira Courtauld-Thomson que a antiga soberana usava com alguma frequência. A joia tem a forma de uma concha em diamantes com uma pérola no centro e cinco filas de diamantes a criarem o efeito de cascata. Foi desenhada pelo 1º barão Courtauld-Thomson e concebida pelos joalheiros Goldsmiths and Silversmiths Co., Ltd, por volta de 1920. A joia passou então para a irmã do autor, a escritora Winifred Hope Thomson, que depois a deixou em testamento à rainha mãe como “marca de respeito e profunda admiração”, segundo escreve a Tatler. A rainha Isabel usou-o muitas vezes e depois viria a ser herdado pela filha e agora pertence à rainha consorte, que já tinha usado esta peça em Ascot, no passado mês de junho.

Ficam para a memória desta viagem o vestido creme com girafas bordadas, uma criação de Anna Valentine, uma das criadoras dos seus looks de casamento em 2005. E para visitar um orfanato de elefantes, Camila trocou o seus sapatos de salto por umas botas todo o terreno que lhe davam um look rústico, combinadas com um vestido floral.

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© Getty Images

Mas nem só do guarda-roupa feminino se faz este capítulo. Afinal Carlos III é há muito um ícone da arte de bem vestir, com o seu estilo de gentleman coroado por fatos impecáveis. Nesta viagem o Rei não desiludiu e levou na bagagem uma série de fatos em diferentes cores, mas aos 74 anos são os acessórios que estão a dar que falar. Se na visita que fez a França há algumas semanas, Carlos III pôs o mundo da moda a falar dos seus óculos escuros Moscot, agora, no Quénia, foram os mesmos óculos que salvaram com estilo uma situação embaraçosa. O Rei tropeçou num tapete de relva artificial e enquanto recompunha o andar colocou calmamente os óculos na cara, como se nada se tivesse passado.

O segundo dia de viagem: elefantes bebés e souvenirs

No segundo dia no Quénia, os reis prestaram homenagem a soldados quenianos que lutaram pelo Reino Unido, mas cujo valor nunca foi historicamente reconhecido. Estiveram com veteranos de guerra e Carlos III medalhou um antigo soldado que se acredita ter 117 anos. Samwel Nthigai Mburia diz ter nascido em 1906 e combateu pelo exército britânico. Muitos veteranos africanos sofreram represálias por terem servido nas forças britânicas e o Rei disse estar “realmente muito satisfeito”, por lhe atribuir a medalha”depois de tantos anos” — disse-lhe ainda que ele era “extraordinário” e sugeriu que a sua longevidade se podia dever a “comer gafanhotos selvagens e mel”, segundo reporta o Telegraph. Carlos III deu medalhas a outros soldados veteranos, um deles com 101 anos e dois com 99, que serviram pelo antigo império na década de 1940. O Rei teve também um encontro privado com familiares de pessoas que estiveram envolvidas na luta pela independência do Quénia e ouviu testemunhos sobre o sofrimento causado pelo governo colonial.

Depois, os soberanos visitaram um orfanato de elefantes onde Camila protagonizou uma das cenas mais populares da viagem, a dar um biberão de leite a um elefante bebé com um ano de idade, o pequeno Mzinga. O orfanato de elefantes Sheldrick Wildlife Trust, nos arredores do Parque Nacional de Nairobi, será o maior centro de salvamento e reabilitação de elefantes do mundo. Lá moram 27 que perderam as suas mães e cada um deles dorme com um tratador ao lado, para que possam ser alimentados durante a noite, tal como os bebés, segundo o jornal jornal britânico. O Rei juntou-se à rainha e juntos fizeram depois um pequeno safari no Parque Nacional de Nairobi.

Neste dia Camila esteve também num santuário de burros onde esteve com mulheres Maasai que lhe ofereceram um manto cerimonial vermelho e envolveram-na num momento de dança que a apanhou de surpresa. Neste local a rainha teve oportunidade de fazer algumas compras em bancas de artesanato, até os seus assistentes ficarem sem dinheiro, contribuindo para uma sociedade de proteção dos animais em parceria com uma instituição de caridade Brook East Africa, da qual a própria é presidente. Na bagagem, leva para casa uma mala, uma manta, três pulseiras, um par de brincos e manteiga de caju, segundo revela o Telegraph.

Ao terceiro dia, um trono de plástico para o Rei

O terceiro dia de visita começou na base naval Mtongwe, em Mombassa, onde observaram um exercício militar de 18 soldados quenianos. O treino é conduzido pelos Royal Marines, onde o próprio Rei se formou como piloto de helicóptero em 1974. Ainda na Praia Nyali o Carlos II ouviu falar sobre um programa de conservação de tartarugas, visitou a área de conservação Kuruwitu dedicada a corais e recebeu, de uma organização sem fins lucrativos, a Flipflopi, uma cadeira feita com plástico reciclado encontrado na praia.

A despedida sob chuva

Em Mombassa, no quarto dia de viagem, os reis dividiram-se. O monarca dedicou a manhã à religião. Visitou a Mesquita Mandhry e esteve com membros da comunidade islâmica daquela cidade e com o sheik Ali Said Al-Mandhry, e também visitou a Catedral Memorial de Mombassa. A rainha encontrou-se com sobreviventes de violência sexual e de género, uma preocupação social que a Camila acarinha muito no seu país, e foi informada que 40% das mulheres quenianas sofrem abusos durante a vida.

Os soberanos ainda tiveram tempo de fazer uma viagem sustentável num tuk tuk elétrico para visitarem Fort Jesus, património mundial da UNESCO. O Rei num momento de boa disposição sugeriu: “Talvez possamos usar isto para ir para o aeroporto”, relata a jornalista do Telegraph que acompanhou o casal. Carlos e Camila despediram-se do Quénia sob intensa chuva e embarcaram ao final desta manhã de regresso a a casa.

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