Uma batalha legal nos tribunais britânicos, uma atribuição de cidadania italiana e até uma oração do Papa Francisco, no Vaticano. Os pais de Indi Gregory não estavam dispostos a desistir da filha e tudo fizeram para adiar a sua despedida. No entanto, nenhuma das tentativas surtiu efeito e a bebé acabou por morrer na madrugada desta segunda-feira, quase dois dias depois de ter sido removida do aparelho de suporte vital.
A notícia foi dada num comunicado escrito pelo pai, Dean Gregory e divulgado pela associação Christian Concern, que apoiava a família na luta para que a menina de oito meses continuasse a receber tratamentos para a doença mitocondrial rara, que fazia com que as suas células não produzissem energia suficiente para funcionamento do organismo.
“A vida de Indi terminou à 1h45”, escreveu o pai, aproveitando para fazer uma dura crítica ao Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS) e aos tribunais britânicos que “não só lhe arrancaram a oportunidade de ter uma vida longa, como lhe tiraram também a dignidade de morrer na casa de família, onde pertencia”.
Estas acusações surgem da batalha legal intensa que a família defrontou no Tribunal Supremo, Tribunal de Recurso de Londres e até no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, de forma a prolongar os tratamentos à bebé, após os médicos do NHS terem dito que já não havia nada a fazer.
Ela é uma menina que tentámos salvar o melhor que pudemos. Mas a terrível realidade é que ela está a morrer”, disse um ao juíz Robert Peel, do Tribunal Supremo, citado pelo Telegraph.
Os pais, Dean e Claire Staniforth, explica o The Guardian, queriam que especialistas continuassem a cuidar de Indi, mas os tribunais britânicos negaram-no, dizendo que não seria o melhor para a bebé e que era “legal” limitar o seu tratamento.
Ainda assim, Dean e Claire ainda tinham uma luz de esperança, que surgiu após, na última segunda-feira, o governo italiano ter concedido à menina cidadania de emergência, na sequência de um hospital ter oferecido ajuda para prosseguir os tratamentos.
O casal pediu ao juiz Robert Peel que autorizasse a transferência. No entanto, este disse estar “convencido de que” tal não “serviria os melhores interesses da bebé”. Desta forma, Indi acabou por ser transferida, no sábado, de um hospital em Nottingham para um centro de cuidados paliativos, onde acabou por ser retirada do aparelho de suporte vital.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, já reagiu, dizendo que fizeram “tudo o que podiam e tudo o que era possível” para preservar a vida da bebé. “Infelizmente, não foi suficiente. Boa viagem, pequena Indi”, escreveu, numa publicação no X, antigo Twitter.
Abbiamo fatto tutto quello che potevamo, tutto il possibile. Purtroppo non è bastato.
Buon viaggio piccola Indi. pic.twitter.com/io7scfTf3O— Giorgia Meloni (@GiorgiaMeloni) November 13, 2023
No comunicado, os pais, que disseram estar “zangados, de coração partido e envergonhados”, deixaram bem claro quem consideram ser os culpados da morte da menina.
Eles [NHS e tribunais] foram bem sucedidos em tirar o corpo e a dignidade de Indi. Mas nunca levarão a sua alma. Tentaram livrar-se dela sem que ninguém soubesse, mas nós certificámo-nos de que seria recordada para sempre. Soube que era especial desde o dia em que nasceu”, escreveu o pai, dizendo que a mãe “segurou-a nos últimos suspiros”.
A torcer por Indi estavam não só os pais e o governo italiano, como a maior figura da Igreja Católica. No sábado passado, o Papa Francisco “abraçou a família da pequena, o pai e a mãe”, rezando e dirigindo “o seu pensamento a todas as crianças que, em todo o mundo, vivem com dor e a arriscar a vida por causa de doenças e guerras”, revelou o Vaticano, num comunicado.