O antigo primeiro-ministro José Sócrates criticou o Partido Socialista por recusar discutir os alegados abusos do Ministério Público, afirmando que estão a permitir ser vistos como um partido dirigido por “gente desonesta”. “A caminho do cadafalso, os lábios dos socialistas entoam cânticos de confiança na Justiça. Esplêndido”, ironiza.

Num artigo de opinião publicado esta quinta-feira pelo Diário de Notícias, José Sócrates, o principal arguido da Operação Marquês, diz que foi a ação do Ministério Público a derrubar o governo, acabar com a maioria absoluta e dissolver a Assembleia da República. Lamenta, no entanto, que “o conselho dos estrategas do partido tenha decidido que a luta é contra a direita, não contra o sistema judiciário”.

PS evita choque direto com Ministério Público. “Tese da cabala é armadilha”

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Num artigo intitulado “Nada como um dia depois do outro”, Sócrates critica que o PS acredite que não pode passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial, mesmo que este lhes “tenha retirado ilegitimamente a maioria absoluta no Parlamento e o direito a governar”. Lamenta também que do processo tenha resultado a detenção de cinco pessoas pelo que descreve como “motivos fúteis” e se que tenha, assim, “arruinado” a sua reputação pública.

Sócrates defende que a “armadilha mental da direita resulta em pleno” e que os socialistas passaram a entender que “criticar os abusos do Ministério Público é o mesmo que ‘atacar a Justiça'”. “Não querem perder tempo. Nem quatro meses, nem quatro dias, nem quatro horas. Alguém disse que ‘todos os que se calam são dispépticos’. Sim, este silêncio faz mal ao estômago”, escreve.

“Todos sabemos que esta investigação vai durar anos, que os suspeitos vão pedir a aceleração processual, que os prazos de inquérito não vão ser cumpridos e que os procuradores manterão os suspeitos devidamente presos na prisão da opinião pública durante o tempo necessário a que outro tempo político floresça”, defende.

Para Sócrates, “nesta democracia, o Ministério Público presta contas a Deus, não aos homens, que se devem limitar a baixar a cabeça e expressar a sua confiança na Justiça”. “Daqui a quatro meses haverá novo governo, haverá novos escândalos e haverá novas oportunidades para dizer que confiamos na Justiça. Nada de novo debaixo do sol – apenas a Justiça a funcionar”, termina.