A Ordem dos Médicos acusa a Direção Executiva do SNS de falta de “transparência e rigor” na divulgação de dados sobre constrangimentos nas urgências, numa situação que descreve como “absolutamente lamentável”. “Estão a tentar passar uma falsa imagem de segurança”, denuncia o bastonário.
Em declarações ao Observador, Carlos Cortes garante que há muitos mais problemas nos hospitais do que aqueles divulgados no relatório semanal da Direção Executiva do SNS.
O relatório, não dando conta do que está a acontecer nos vários serviços de urgência do país, não está a prestar um bom serviço. É preciso mais transparência e rigor, para que a informação transmitida à população seja correta e fidedigna”, apela Carlos Cortes.
O bastonário da Ordem dos Médicos dá um exemplo: “Na Guarda, o serviço de urgência não terá, nas próximas semanas, nenhum médico de medicina interna, nem de cirurgia. São dois pilares da resposta hospitalar”.
Carlos Cortes afirma que, “curiosamente”, este constrangimento não consta dos dados divulgados pela Direção Executiva do SNS. O bastonário afirma que há mais casos, de norte a sul do país, e em vários serviços.
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“O retrato que a Ordem dos Médicos está a fazer da situação dos serviços de urgência do país vai muito além do relatório que a Direção Executiva tem publicado à sexta-feira”, resume Carlos Cortes ao Observador.
O bastonário fala numa situação “absolutamente lamentável” e vai mais longe: “A Direção Executiva do SNS tenta passar uma falsa imagem de segurança. Aquilo que tem de existir é transparência”.
Carlos Cortes alerta que esta “falta de rigor” também prejudica os serviços de ambulância e os próprios utentes, que ficam sem “informação correta”. Questionado sobre se esta ausência de dados no relatório resulta de uma tentativa da Direção Executiva do SNS de esconder os reais problemas dos hospitais, ou de falhas de comunicação entre os serviços de saúde, o bastonário remete para o organismo liderado por Fernando Araújo.
Em declarações ao Observador, o representante dos médicos mostra-se ainda disponível para ajudar o Ministério da Saúde e a Direção Executiva a clarificar os dados que são disponibilizados.
“Negociações? Estou muito apreensivo, mais do que alguma vez já estive”
Na próxima quinta-feira, dia 23 de novembro, há nova ronda negocial entre Governo e sindicatos médicos. O bastonário admite que tem poucas esperanças.
Estou muito apreensivo sobre as negociações, mais do que alguma vez já estive. Decorrem há mais de 18 meses. Ora, quem está há mais de 18 meses para encontrar soluções, dificilmente as vai encontrar agora”, lamenta Carlos Cortes.
Ouvido pelo Observador, o bastonário da Ordem dos Médicos volta a pedir “bom senso entre todas as partes” para que seja possível chegar a um acordo. E repete as críticas ao Governo: “O Ministério da Saúde tem sido incapaz e incompetente em resolver as dificuldades. Temos de continuar a insistir, a pressionar e a ajudar o Governo a encontrar soluções”.
Ministério da Saúde retoma negociações com sindicatos na quinta-feira
O Sindicato Independente dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos têm exigido o retomar das negociações com a tutela, por considerarem que o Governo está em plenitude de funções, apesar da crise política, e que não deve empurrar os problemas do Serviço Nacional de Saúde para o próximo executivo.
A última reunião entre o Ministério da Saúde e os sindicatos médicos estava agendada para dia 8 de novembro, mas foi cancelada na sequência da demissão de António Costa. Agora, na quinta-feira, voltam a sentar-se à mesa de negociações.
Ouça aqui as declarações do bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, ao Observador
Ordem dos Médicos acusa Direção Executiva do SNS de falta de transparência e rigor