O Peru perdeu mais de metade da superfície glaciar nas últimas seis décadas e 175 glaciares desapareceram, devido às mudanças climáticas, entre 2016 e 2020, disseram na quarta-feira cientistas peruanos.
“Em 58 anos, perdeu-se 56,22% da cobertura glacial registada em 1962”, disse Mayra Mejía, investigadora do Instituto Nacional de Pesquisa de Glaciares e Ecossistemas de Montanha do Peru (Inaigem), a agência estatal que estuda os glaciares.
O fator que teve maior impacto foi o aumento da temperatura média global, provocando um recuo acelerado dos glaciares, especialmente os das zonas tropicais, disse o diretor de investigação glaciar do Inaigem, Jesús Gómez, à agência de notícias Associated Press.
O país sul-americano ainda tem 1.050 quilómetros quadrados de cobertura glacial, área que representa cerca de 44% da registada em 1962, quando foi realizado o primeiro inventário glacial.
Mejía, especialista em glaciologia, disse que existem algumas cadeias de montanhas no Peru onde os glaciares quase desapareceram, nomeadamente na montanha de Chila, que perdeu 99% da superfície glacial desde 1962.
Os glaciares de Chila são fundamentais porque é nessa zona que nascem os primeiros cursos de água que dão origem ao Amazonas, o mais longo rio do mundo.
A presidente da Inaigem, Beatriz Fuentealva, disse que a perda de glaciares aumenta os riscos para as pessoas que vivem em áreas baixas.
Fuentealva lembrou que em 1970 um enorme bloco de gelo da montanha Huascarán, no norte dos Andes, quebrou após um sismo de magnitude 7,9, atingiu uma lagoa e causou uma avalanche de lama que destruiu a cidade de Yungay e causou mais de 20 mil mortos.
O Presidente do vizinho Chile Gabriel Boric, e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, realizam até sábado uma viagem à Antártida, para ver o “impacto mortal da crise climática”, revelou quinta-feira o responsável português.
Os dois líderes visitarão o glaciar Collins e a Ilha Kopaitic.
“Quero ver com os meus próprios olhos o impacto mortal da crise climática”, disse Guterres.
O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial, Petteri Taalas, alertou na semana passada que a subida das temperaturas irá levar ao aumento de fenómenos meteorológicos extremos, como vagas de calor, inundações, degelo dos glaciares, subida e acidificação dos oceanos.