“Não me sinto responsável por coisa nenhuma”, afirmou a procuradora-geral da República, quando questionada pelos jornalistas sobre a demissão de António Costa à saída do III Fórum Nacional Contra a Violência Doméstica, no qual participou esta quinta-feira. Lucília Gago esclareceu que foi a Belém “por solicitação do Presidente da República” e não revelou se o pedido partiu ou não de António Costa, pormenor que Marcelo Rebelo de Sousa já referiu, mas que o primeiro-ministro demissionário não confirmou.

Marcelo diz que chamou Lucília Gago a Belém a pedido de António Costa

A procuradora-geral da República falou pela primeira vez aos jornalistas desde a demissão do primeiro-ministro e diz que o parágrafo que acrescentou no comunicado sobre a Operação Influencer foi uma questão de transparência.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O parágrafo diz com transparência aquilo que estava em causa no contexto da investigação que está em curso”, assegura Lucília Gago. Além disso, questionada sobre ter sido a autora do parágrafo que terá definido o atirar da toalha ao chão por António Costa, explicou que “as notas para a imprensa são sempre trabalhadas pelo gabinete de imprensa como foi o caso” e que “em situações mais melindrosas e mais sensíveis são acompanhadas muito de perto na sua redação, pelo impacto público que naturalmente têm”.

Costa atira a Marcelo sobre PGR, crise política “irresponsável” e ainda lhe deixa recados para o futuro

A reação da procuradora à pergunta se teria sido o Presidente da República a pedir-lhe que escrevesse o parágrafo foi esclarecedora: “Por Amor de Deus”, exclamou, mesmo antes de dar por terminadas as declarações à saída da conferência em que tinha acabado de intervir.

Costa atira a Marcelo sobre PGR, crise política “irresponsável” e ainda lhe deixa recados para o futuro

Segundo Lucília Gago, o polémico parágrafo teve de ser escrito “sob pena de, não constando do comunicado, se pudesse afirmar que se estava indevidamente a ocultar-se um segmento da maior relevância”. Inquirida sobre se tomou a decisão em defesa da PGR, defendeu que a sua ação foi ditada pela “defesa da transparência que à procuradoria cabe salvaguardar”.

Respondendo às críticas de que tem sido alvo, sendo-lhe até atribuída responsabilidade pela queda do Governo e dissolução do Parlamento, a procuradora foi clara: “Não me sinto naturalmente responsável, porque se trata de uma avaliação pessoal e política que foi feita e a respeito disso não tenho nada a dizer.” E garantiu que o Ministério Público “investiga o que tiver de investigar”. Além disso optou por não qualificar as críticas de que foi alvo: “Falam por si”.

Sobre a pressão em avançar com o processo que investiga o primeiro-ministro demissionário antes das eleições antecipadas marcadas para 10 de março, Lucília Gago garantiu que sente sempre o “dever de apresentar os melhores resultados que seja possível apresentar” e assegura que a autonomia do Ministério Público não fica ferida perante as circunstâncias atuais.

Ainda sobre as buscas na residência do primeiro-ministro terem sido conduzidas pela PSP e não pela PJ, bem como a restante investigação, a procuradora foi perentória em relação ao Ministério Público não ter “delegação de competência para realização [da investigação] numa concreta polícia criminal”, apontou, desvalorizando o facto e garantindo que se trata de uma prática regular. E assegurou que as investigações relacionadas com o caso iriam continuar.