A Iniciativa Liberal não move nem um milímetro a recusa a uma possível coligação com o PSD depois de três vice-presidentes sociais-democratas terem responsabilizado o partido de Rui Rocha e criticado a postura dos liberais por se colocarem automaticamente de fora de uma solução de união. Apesar de Bernardo Blanco, vice-presidente da IL, considerar que houve alguns “comentários menos felizes”, o partido está mais interessado em olhar para o futuro e dar uma garantia de que, no dia seguinte, IL e PSD estarão sentados à mesa para falar sobre uma mudança para o país.

“Antes de qualquer cálculo eleitoral, a IL vai sozinha porque Portugal precisa de ideias e pessoas novas que façam funcionar e reformem o país”, explica o deputado liberal em declarações ao Observador, deixando claro que “depois das eleições a IL está disponível para entendimentos para um novo ciclo de governação e pode sentar-se com o PSD para produzir essa mudança”.

Há duas questões destacadas pelo liberal. Primeiro, a IL considera que, indo sozinha às urnas, tem a “garantia” de que um “novo governo não será mais do mesmo e que terá a coragem para implementar reformas que o PSD sozinho não terá”, desde logo em questões como a saúde, os impostos e a TAP. E, em segundo lugar, a necessidade de sublinhar a “IL não se move por cargos”.

Uma das críticas mais duras surgiu associada à nega a Carlos Moedas foram as eleições que o tornaram presidente da Câmara Municipal de Lisboa com uma coligação à direita e que deixaram os liberais sem vereador. Paulo Rangel lembrou esse momento em entrevista ao Observador: “A Iniciativa Liberal tem um registo, uma espécie de currículo em que, em Lisboa, não foi capaz de se pôr ao lado de Carlos Moedas, em que podia ter um papel muito relevante nessa coligação. Não quis. E arriscou que a câmara tivesse sido entregue, de novo, ao PS.”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Já Bernardo Blanco considera que a vitória de Moedas em Lisboa “correu bem”, que o “PS saiu do poder” e que a “IL na Assembleia Municipal quando é preciso dá apoio a Moedas e noutras vezes é mais exigente para garantir que há medidas que são aplicadas”. “Fala-se de mais lugares no governo e na câmara e ao fim destes atos eleitorais todos, o PSD já devia ter percebido que IL não se move por cargos, move-se por ideias”, salienta o deputado liberal.

PSD responsabiliza IL por não haver coligação pré-eleitoral. “Arrogância”, “dar o flanco”, “tiro pela culatra”

Outro exemplo são os Açores e a forma como os liberais foram atacados por, esta semana, terem votado contra o orçamento do PSD na região. “É exatamente o contrário do que foi dito”, afirma, frisando que a decisão da IL teve como ponto de partida uma quebra do acordo por parte dos sociais-democratas. “Durante três anos correu bem e ao quarto ano votámos contra o orçamento porque o PSD incumpriu o acordo que tínhamos — a dívida aumentou, o número de cargos públicos aumentou, a questão da SATA não está resolvida”, esclarece.

“O PSD não fez o que estava acordado. A IL cumpre os seus acordos, se o PSD cumprir os seus e se mostrar como um partido confiável, os portugueses vão dar uma chance aos dois para mudar o país”, refere o vice-presidente liberal, alertando que “se houver um acordo a nível nacional o que está no acordo tem de ser cumprido, não é só para fingir“.

Os liberais desvalorizam os “comentários menos felizes” e, pela voz de Blanco, destacam as palavras positivas de Morais Sarmento, que disse ter “pena” pela que não haja coligação, mas que pediu foco do PSD em derrotar PS e uma “base comum” com IL e CDS, e de Paulo Rangel, que enalteceu que as relações entre os dois partidos são “boas”. Além disso, há também o entendimento de que Luís Montenegro também quer uma mudança e está disponível para conversar no futuro.

“Cada um tem de fazer o seu caminho com o máximo votos possível e depois fazer um acordo que seja cumprido”, reitera o deputado da IL, dando como certo que, no dia seguinte às eleições do dia 10 de março, os liberais estão disponíveis para negociar com o PSD, caso os resultados eleitorais assim o permitam — neste caso só com uma vitória social-democrata, tendo em conta que Luís Montenegro já disse que só governa se ficar em primeiro lugar.

Enquanto ainda decorria o Congresso do PSD, em Almada, a Iniciativa Liberal comemorava o 25 de Novembro no Porto e Rui Rocha não só respondia aos apelos feitos durante a reunião magna como reforçava a ideia de que a IL vai a votos sozinha. O presidente liberal recusa perder a “energia” do partido numa coligação pré-eleitoral, considerando que essa é fundamental para “derrotar o PS”.

Nova Aliança Democrática perde força com recusa dos liberais