O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou este sábado que o maior desafio para a democracia é a sua renovação, alertando para o perigo se se estar a perder terreno internamente, comparando com outras democracias.

“A democracia tem que se construir todos os dias” e quando esse “desafio diário” não é cumprido “está-se a perder terreno internamente comparativamente a outras democracias”, afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Em Óbidos, onde presidiu às comemorações dos 50 anos da reunião conspirativa realizada pelo Movimento dos Capitães naquela vila, o presidente vincou a necessidade de renovação da democracia, lamentando que embora os jovens sejam muito participativos nas áreas culturais, ambientais e sociais, “infelizmente [não o são] em centros de decisão política, ou administrativa ou económica, como no futuro se espera que sejam”.

Lembrando ter aos 20 anos “votado uma Constituição”, o Presidente criticou que atualmente haja cargos decisórios vedados a pessoas por serem consideradas “muito novas”, e admitiu como “uma hipótese bastante plausível” convidar um jovem para o Conselho de Estado “se houver essa oportunidade”.

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“Não podemos deixar envelhecer a democracia” sublinhou, apontando como “crucial” o papel “da mulher, dos jovens e dos imigrantes, que são 700 mil, vários com dupla nacionalidade e praticamente não há nenhum, ou há muito poucos em posições políticas e administrativas importantes”.

O Presidente da República falava em Óbidos, à margem da comemoração dos 50 anos da reunião de Óbidos, promovida pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril.

Na cerimónia, o chefe de Estado já tinha defendido que “as democracias têm que ser repensadas” e que a sua riqueza “é a insatisfação, a noção da imperfeição da democracia, mesmo quando ela é mil vezes preferível à mais teoricamente perfeita das ditaduras”.

As “desigualdades, as injustiças e a incapacidade de as instituições se adaptarem rapidamente” foram algumas das debilidades apontadas pelo chefe de Estado às democracias portuguesa, europeias e mesmo as “mais antigas do mundo”, que “nos últimos anos tem revelado fragilidades patentes em comportamentos anti-democráticos”.

E num mundo global, isso “reflete-se instantaneamente” nos outros países, disse, acrescentando “não é uma guerra deles, não é um golpe de Estado deles, não é uma crise financeira ou económica deles”.

E por isso, vincou “as democracias têm que ser permanentemente corrigidas”, para que não apareçam “ideias erradas sobre caminhos alternativos à democracia” a que “alguns chamam democracias iliberais”, mas que no entender do Presidente “não existem”.

Uma democracia iliberal “é uma ditadura disfarçada, encapotada”, disse, considerando não haver “um terceiro termo entre democracia e ditadura”.

No discurso o Presidente defendeu ainda que a renovação da democracia passa por uma maior abertura à participação dos mais jovens nos órgãos de decisão política e que o 25 de Abril tem que ser comemorado com “pedagogia, com memória”, convertendo “o sonho do passado em sonho do presente, em sonho do futuro”, concluiu.