O Jornal de Notícias (JN) não vai chegar às bancas esta quinta-feira, a primeira vez em 35 anos, no segundo dia da greve dos trabalhadores, que contestam o despedimento anunciado pela Global Media. A informação já tinha sido avançada na quarta-feira por delegados sindicais. Nos vários pontos de venda visitados pelo Observador esta manhã o jornal não estava à venda.

Augusto Correia já tinha avançado à Lusa que o JN não deveria estar nas bancas esta quinta-feira. “É sempre uma pena o jornal não sair […], mas também prova a força desta redação e a força deste jornal, não só aqui, mas no país”, sustentou. Ao Observador, esta quinta-feira o sindicalista confirmou a não publicação, em papel, do JN desta quinta-feira, acrescentando que os jornalistas irão esta manhã tentar entregar a António Costa o manifesto já ontem entregue ao secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro.

Mas foi o ministro da Cultura quem recebeu o manifesto e conversou com Augusto Correia. Pedro Adão e Silva revelou que tinha ouvido as preocupações do jornalista e destacou os problemas da imprensa local e regional no contexto “da crise da democracia”, manifestando “disponibilidade e interesse” para receber os representantes dos jornalistas e da GMG.

“Há naturalmente a questão muito sensível do Global Media Group e julgo que é uma questão que nos deve preocupar a todos. Não posso deixar de ser sensível a isso”, afirmou. Contudo, o ministro ressalvou a dificuldade de intervenção do Governo na situação na GMG porque “é apoio a uma empresa”

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No entanto, Adão e Silva deixou críticas ao grupo, notando que à expectativa de investimento gerada pela injeção de capital seguiu-se a notícia dos despedimentos, “o que só pode fragilizar as redações” dos meios de comunicação social por ele detidos.

José Paulo Fafe, CEO da GMG, garantiu que “ou o grupo é restruturado, ou pura e simplesmente o grupo tem a sua morte anunciada.” “Neste momento temos de tomar decisões, porque as decisões têm sido adiadas ao longo de anos e é a única maneria de salvar o grupo”, explicou, em declarações à RTP.

O CEO afirmou também que o planeamento financeiro do GMG previa o produto da venda da agência Lusa, pelo que a falta desse encaixe comprometeu a situação financeira do grupo.

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O Sindicato dos Jornalistas (SJ) saudou a greve e alertou que pagamento do subsídio de Natal em duodécimos é ilegal. “O Sindicato dos Jornalistas está ao lado dos trabalhadores do Jornal de Notícias, em greve na quarta e quinta-feira contra um anunciado despedimento coletivo”, afirmam em comunicado.

O SJ salienta que “o pagamento em duodécimos do chamado 13.º mês não é legal e não pode ser imposto unilateralmente” e acusa a administração de alegar “falta de dinheiro, enquanto contrata assessores, consultores e diretores”.

Assim, “a concretizar-se este incumprimento”, o SJ “vai avisar a Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), juntando esta violação do Contrato Coletivo de Trabalho a outras questões já identificadas numa participação a apresentar à ACT”.

“Ademais, o departamento jurídico do Sindicato dos Jornalistas vai avaliar se há uma eventual pressão ilegítima da administração ao enviar, durante a greve, um comunicado com o teor deste, em que levanta a hipótese de falência do grupo, alijando responsabilidades a terceiros e tratando os trabalhadores como dispensáveis”, realçou o SJ.

A estrutura representativa dos trabalhadores considerou ainda “incompreensível” que o fundo de investimento que adquiriu o grupo empresarial de Comunicação Social – World Opportunity Fund – “se mostre surpreendido com a situação financeira”.

“Não aferiram dos riscos em momento prévio à compra? Não sabiam que têm de pagar salários e subsídios aos trabalhadores no tempo legalmente previsto? Ficaram surpreendidos por terem de cumprir a lei?”, questionou.

O SJ considerou que os trabalhadores que aderiram à greve “estão a fazer um justo grito de alerta em nome de todos os que defendem a democracia e a liberdade de expressão” e sublinhou que “Portugal fica mais pobre sem o Jornal de Notícias” e sem órgãos de comunicação social fortalecidos.

A ação de greve dos trabalhadores continua esta tarde, estando prevista para as 14h uma concentração dos trabalhadores em frente à antiga sede do jornal, na rua de Gonçalo Cristóvão, conhecida como “Torre do JN”, num “ato simbólico”. Dali farão a marcha, em protesto, em direção à Câmara Municipal do Porto.

Paralelamente, prossegue uma campanha nas redes sociais sob o lema “Somos JN”.

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Esta é assim a primeira vez desde 1988 que o JN, que tem publicação diária, não vai estar nas bancas.

Já na quarta-feira, também Rita Salcedas, delegada sindical, tinha assumido que o jornal não sairia esta quinta-feira. Na quarta-feira a greve levou a que também o site estivesse “parado”, nas palavras da mesma sindicalista: “A adesão à greve é de quase 100%”, tinha assegurado.

No site do jornal, a redação do JN assina um aviso para “perturbações no serviço informativo que presta aos seus leitores” ao longo dos dois dias de greve.

“É uma situação muito complicada, que hoje ainda se tornou mais […]. Foi informado que o subsídio de Natal, que deveria ser pago amanhã [quinta-feira] vai ser pago em duodécimos”, referiu a delegada sindical na quarta-feira.

O Global Media Group (GMG) também anunciou que vai avançar com “um processo de reestruturação de negociação de acordos de rescisão, com caráter de urgência, num universo entre 150 e 200 trabalhadores”.

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Segundo um comunicado interno, assinado pela Comissão Executiva do grupo, esta decisão vai abranger as diversas áreas e marcas do grupo. A Global Media diz que com isto pretende “evitar um processo de despedimento coletivo”, opção que remete para “último caso”.

Meia centena de trabalhadores do Jornal de Notícias concentraram-se na quarta-feira em frente à redação do Porto para contestar o alegado despedimento de pelo menos 150 pessoas no GMG, que, a concretizar-se, será “o mais gravoso de sempre”.

“Se se despedirem 40 pessoas no Jornal de Notícias, que é quase metade da redação, vamos ficar a fazer um jornal com 30 ou 40 pessoas”, afirmou à Lusa, na quarta-feira, o dirigente do Sindicato dos Jornalistas (SJ) e jornalista do JN Augusto Correia à margem da concentração, detalhando que o jornal tem cerca de 90 jornalistas, 78 no Porto e 11 em Lisboa.

Ao Observador, por telefone, já esta manhã Augusto Correia diz que “não se percebe” como o GMG “contrata consultores, contrata assessores” e ao mesmo tempo enceta uma ação de despedimento coletivo “de uma maneira ou de outra”, referindo-se aos acordos de rescisão avançados pelo grupo.

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*Notícia atualizada às 10h13 com as declarações do ministro da Cultura e às 11h32 com o comunicado do Sindicato de Jornalistas.