Penduradas num charriot ou expostas em busto — para se sentir a silhueta e o toque, num ambiente orgânico e sensorial que replica o espírito deste conjunto de básicos, ou básicos-não-tão-básicos, já que esta nova linha ZERO tem o cunho de Alexandra Moura. O conjunto de 10 peças foi apresentado a semana passada num hotel em Lisboa e promete não ter prazo de validade. Afinal, há sempre espaço no armário para um bom essencial com um apontamento fora de série, para desacelerar em tempos “frenéticos” ou simplesmente para satisfazer os pedidos de quem está a leste do fator tendência, da moda de autor pura e dura ou de intermináveis drops.

Alerta: o pior que pode acontecer é desenvolver um apego extremo às opções mais confortáveis. “Um amigo que comprou o hoodie enviou-me uma mensagem a dizer que quer viver ali dentro”, conta Alexandra Moura, que nos apresenta as novidades.

Quando vi ZERO pela primeira vez o primeiro pensamento foi para o anti-desperdício. A ideia acaba por ir um pouco neste sentido?
É uma linha que trabalha o essencial, que não passa de moda, que não tem que ser tendência, nem o cliente tem que gostar de moda. É um cliente mais consciente, que gosta de um fit um bocadinho mais especial, mas que ainda assim gostas de peças clean, que não estejam trend, nem com a cor ou o padrão da moda. Fazia falta haver esta linha de essenciais na marca.

Como é esse fit?
Foi o mais trabalhoso neste processo, para poder encaixar em diferentes corpos. É um bocadinho diferenciador da maioria das marcas que têm os básicos, quase sempre mais regular. Esta trabalha o oversize mas já dentro da cada numeração.

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É um clássico qb com um twist Alexandra Moura?
Tem esse extra que também tem a ver com o ADN da marca. Depois o conjunto de valores e todo o lado da sustentabilidade, o algodão orgânico, o próprio peso das malhas. Temos aqui duas peças que são assim, peças que são duplas. Falamos de sustentabilidade das matérias primas mas também ética e humana, como fazemos com a marca mãe há 20 anos. Tudo feito em Portugal. É uma linha que também vem democratizar ao nível do preço. Às vezes temos este preconceito de achar que quando as peças estão ligadas a marcas de moda têm que ser mais caras, mas não. Aqui é muito acessível.

Estamos a falar de que valores?
Vamos desde os 38 euros ao hoodie duplo, o mais complexo, que custa 140 euros, em que a ideia é ter o conforto do toque exterior em contacto com o corpo. São preços que existem dentro do mercado e até em marcas que não têm estes valores por trás. É completamente unissexo, intemporal. Zero porque no fundo é uma linha que começa do zero e que vem zerar tudo, que é limpa.

Que tem apenas as inicias AM bordadas de forma subtil.
Que não choca com nada, não há griffe exterior, há um bordado à flor da peça, que quase passa despercebido, que são os três triângulos. As próprias etiquetas por dentro têm um detalhe especial. Para pouparmos mais custos e mão de obra, não há etiqueta de tamanho porque está na própria etiqueta da marca, bordado por baixo da numeração da peça. É um detalhe especial mais handmade.

Quanto a tamanhos e apresentações…
O normal. S, M e L, só que o escalonamento é mais oversize. Uma pessoa S não tem que comprar o XL para ter uma peça oversize. O fit é mais solto, mais largo. Temos a t’shirt branca, a long sleeve, a sweatshirt e o hoodie em off white, temos duas peças em turco mesmo com tingimento indigo, temos uma long sleeve preta, a única preta neste momento, a t’shirt azul marinho e as tais peças duplas, sweatshirt e hoodies, que parecem uns edredons, não no sentido de calor, mas de conforto. Digo a toda a gente para experimentar por dentro.

O cós também é particular.
Tem este pormenor dos ribs, que estão virados para dentro para fazerem o lado duplo da peça. A ideia é que qualquer pessoa possa ter um fit fixe com matéria prima nacional, de qualidade, mão de obra justa, feito em Portugal. A nível da comunicação também apostamos numa certa plastivcidade, é muito crua, muito direta, muito fácil de a pessoa se identificar, com imagens de pessoas comuns.

Recuando um pouco: como e quando surgiu esta ideia?
Na realidade temos sempre várias ideias a fervilhar na cabeça. Depois é preciso operacionalizar e virem os momentos certos. Este momento que a moda está a atravessar, muito estranha, quer a nível de mercado, quer a nível da produção das coisas, ou do sistema global, foi um bom momento para uma linha de essenciais. Para relaxarmos um bocadinho a vista, pararmos, sentirmo-nos confortáveis mas continuarmos a estar com uma peça especial, que foi pensada por alguém, executada e modelada por outros alguéns, que deram a sua energia. É essencial e especial.

Faria sentido por exemplo fazer desfilar peças como estas?
A todo o momento se isto fizer sentido numa história a ser contada, porque não? Mas não é uma coisa que queiramos misturar. Porque há muita gente mesmo que não está nem aí para o mundo do fashion. Que gosta de bons produtos, de coisas com qualidade, mas só compra o que gosta. A nova geração tem essa consciência. Esta coisa da conexão com a moda parece que as liga a determinados statements e esterótipos mas muita gente não quer isso.

Quer vestir-se apenas?
Exatamente. Portanto, separamos as água precisamente para mostrarmos que isso também faz sentido para nós. No dia a dia eu própria ando com muitas peças essenciais, não ando com peças minhas de moda de autor todos os dias. Estas peças são aquelas que a todo o momento usamos.

Que não deixa de ter cunho de autor. Falava desse momento da moda e do mundo, o que observa mais?
Há um excesso de marcas a acontecer, de barulho. Por um lado há um público que quer acalmar, por outro há um mercado que ainda está frenético, com os drops, com as novas linhas, em frente ao computador à espera da nova coleção, da novidade.

Sente o abrandamento com o seu público mais fiel?
Sim, já começa muito, há muita gente a entrar num slow fashion. Ouve-se muito as pessoas  a dizerem que já não têm paciência para barulho, confusão, stress, excesso de informação. Inconscientemente procuramos um balão de oxigénio e isso também se passa com a moda.

Manuel Carrapatoso, 19 anos, estudante, veste a sweatshirt off white em tamanho M. É um dos rostos da campanha da ZERO

Que outras peças podemos esperar no futuro no âmbito da ZERO?
Partes de baixo é algo muito mais complexo. Enquanto que nas parte de cima conseguimos uniformizar muito mais e as pessoas são mais confiantes a comprar, até no online. Não é algo que esteja tanto nos nossos planos. Fizemos os calções porque é uma coisa descontraída, mais larga, porque também trabalha esta coisa da malha. A ideia é esta linha de vez em quando lançar dentro das referências uma cor nova, ou uma textura da matéria prima diferenciadora, mas sempre dentro deste clean, e do não moda de autor puro e duro. Estes são os grandes valores.

Nas cores não tem que ser tudo neutro?
Sim, podemos ter variações. Aliás, a ideia era começar com as cores básicas como começámos, aquilo que liga sempre com qualquer coisa, mas assim que o público conheça a linha, sabe que os fits são estes, portanto a seguir vai entrar um hoodie daqueles com uma matéria ou cor diferente, como encarnado ou outra qualquer. Não tem que estar na tendência é apenas uma cor que achamos que funciona como básico.