O antigo líder do PSD, Marques Mendes, defendeu, esta sexta-feira, que a generalização da “boa obsessão” por contas públicas equilibradas foi uma das “mais-valias” da passagem da ‘troika’ por Portugal, apelando a qualquer futuro Governo que a mantenha.
O comentador televisivo prefaciou e apresentou o livro do dirigente do PSD, Pedro Duarte, “Troika Nunca Mais – Lições de uma crise (10 anos depois)”, cuja apresentação juntou, esta sexta-feira, em Lisboa o ex-governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, o antigo ‘chairman’ da TAP, Miguel Frasquilho, ou o antigo presidente da EDP, António Mexia.
“Para nunca mais termos ‘troika’ há alguns cuidados que são absolutamente essenciais, que são talvez as duas mais valias adquiridas com a presença da ‘troika’ em Portugal”, afirmou, apontando a segunda como a maior importância dada às exportações.
Para Mendes, “se hoje há uma boa obsessão no país por contas públicas equilibradas deve-se em grande medida à ‘troika'”, considerando que houve um alargamento dessa mentalidade não só no espetro político, mas também à sociedade.
“A mais-valia dos oito anos de governação do atual Governo são o que mais criticava no Governo que o antecedeu. É muito importante continuar essa prática no futuro, seja o Governo mais de um lado ou de outro. Sem essa preocupação, o título deste livro fica mais desatualizado”, disse.
Marques Mendes pediu ainda aos governantes que tenham coragem de não desvalorizar o que é importante e estrutural para apenas realizar o urgente.
“Vai acontecer uma alteração profundíssima da União Europeia que também nos toca nós”, alertou, dizendo que, apesar de ser defensor do alargamento à Ucrânia, tal representará “um murro no estômago” em termos de fundos de coesão e para a agricultura.
O comentador deixou rasgados elogios a Pedro Duarte, “um dos melhores políticos da sua geração”, que tem “a coragem de ser moderado, ter pensamento próprio e estruturado”, e com quem disse partilhar “o vício bom” da política.
“É pena que não esteja há vários anos na vida política ativa. A política faz-se com políticos, se não estiverem os bons, estão os menos bons”, alertou.
Pedro Duarte é atualmente coordenador do Conselho Estratégico Nacional do PSD, que está a preparar o programa eleitoral do PSD, depois de vários anos dedicado à vida profissional e académica.
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Para o livro, que é uma adaptação da sua tese de doutoramento, o antigo líder da JSD conversou com algumas personalidades marcantes à época: Carlos Costa, Durão Barroso, que era presidente da Comissão Europeia, os ex-primeiros-ministros José Sócrates e Pedro Passos Coelho, os antigos ministros das Finanças, Teixeira dos Santos e Maria Luís Albuquerque ou dois dos secretários de Estado que acompanharem de perto o processo, Carlos Moedas e Carlos Costa Pina.
“Gerou-se, durante e depois desta crise, uma dicotomia muito acentuada, talvez falte encontrar um consenso sobre os seus reais fundamentos para evitar voltar ao mesmo problema, gostava muito que tivesse sido a última presença da ‘troika'”, afirmou Pedro Duarte.
O dirigente social-democrata deixou também elogios a Marques Mendes, que disse ver como “uma inspiração” no passado, “uma referência” no presente e “uma esperança” para o futuro.
“Não preciso de dizer mais nada, para bom entendedor meia palavra basta”, disse, num repto que não teve resposta por parte do atual comentador televisivo, que, em agosto, já admitiu poder ser candidato a Presidente da República.
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A apresentação do livro decorreu no Museu do Fado e contou com a presença dos vice-presidentes do PSD, António Leitão Amaro e Margarida Balseiro Lopes, o coordenador do movimento Acreditar do PSD, Pedro Reis, e várias figuras do CDS-PP como Paulo Núncio, João Almeida e Diogo Feio, bem como de antigos e atuais deputados sociais-democratas.