As gémeas luso-brasileiras que foram alegadamente beneficiadas no acesso a uma consulta no Hospital de Santa Maria foram tratadas “com fundamento clínico, pelos médicos, aplicando as regras”, disse o ministro da Saúde, esta quarta-feira, na Assembleia da República. Manuel Pizarro recusou-se a adiantar detalhes sobre o caso, sublinhando não querer “interferir na atividade de inspeção da Inspeção Geral das Atividades em Saúde” (IGAS).
“O tratamento foi decidido com fundamento clínico pelos médicos, aplicando as regras. Não houve nenhuma diferença em relação a outras crianças do ponto de vista do tratamento clínico”, disse o ministro da Saúde, colocando o foco na inspeção que está a ser levada a cabo pela IGAS e não prestando esclarecimentos sobre a alegada intervenção do ex-secretário de Estado da Saúde António Lacerda Machado no processo, contactando o Santa Maria para a marcação de uma consulta das duas menores.
“A IGAS é uma entidade tutelada pelo Ministério da Saúde e não compete ao Ministro da Saúde classificar o comportamento de cada um dos envolvidos, para que essa entidade possa desenvolver o seu trabalho com independência e rapidez”, realçou Manuel Pizarro, acrescentando que a IGAS “tem trabalhado ativamente, com audições aos envolvidos”. “Não vou interferir na atividade de inspeção“, avisou o governante.
Tanto o PSD como a Iniciativa Liberal insistiram na necessidade de serem prestados esclarecimentos sobre o caso. “Os senhores deviam ter o brio de apurar a verdade, mas ainda não foram capazes de convocar uma conferência de imprensa e esclarecer o que aconteceu. As suas intervenções sobre o tema foram inúteis”, disse o deputado social democrata Miguel Santos, acrescentando que “o PS não está interessado” no apuramento da verdade.
“As pessoas ficam com a ideia de que, se tiverem os contactos certos, conseguem aceder a uma consulta. Se não tiverem, que esperem”, disse Joana Cordeiro, acusando o governo de ter “algo a esconder”. “Deveria ser do interesse de todos esclarecer todo o processo”, referiu.
Já para o deputado do Chega Pedro Frazão, a situação configura “tráfico de influências”. “Acha normal um secretário de Estado ligar para a pediatria de um hospital para marcar uma consulta? E como é que o Nuno Rebelo de Sousa consegue num ápice uma reunião com o secretário de Estado da saúde?”, questionou.
O ministro da Saúde Manuel Pizarro está, esta quarta-feira, a ser ouvido no Parlamento sobre vários temas, nomeadamente acerca das negociações com os sindicatos médicos (a pedido do Chega) e sobre o caso do alegado favorecimento às gémeas luso-brasileiras (a pedido do PS e da Iniciativa Liberal).