É conhecido como o “falcão do Kremlin” que gosta sempre de estar um passo à frente de todos aqueles que querem fazer tremer o regime. No verão de 2022, muito antes de qualquer sinal óbvio, já Nikolai Patrushev, antigo espião muito leal ao Presidente russo, tinha avisado que Vladimir Putin devia ter cuidado com o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin. Segundo o que apurou uma grande investigação do Wall Street Journal, o chefe de Estado ignorou inicialmente estes alertas, mas o tempo veio dar razão àquele homem que atualmente desempenha o cargo de secretário do Conselho de Segurança da Rússia.

Um ano mais tarde, quando Yevgeny Prigozhin desafiou diretamente Vladimir Putin e começou uma rebelião armada cujo destino final seria Moscovo, foi também Nikolai Patrushev quem tentou resolver a situação e travou a marcha pela justiça iniciada pelo mercenário. Dois meses depois, o antigo espião, que já liderou um dos ramos dos serviços secretos russos, o Serviço Federal de Segurança, arquitetou um plano para matar aquele líder paramilitar. E, mais uma vez, teve êxito.

Ouvindo fontes dos serviços de informações ocidentais e russos, o Wall Street Journal apurou que Nikolai Patrushev desenhou o plano que levou à morte do antigo líder do grupo Wagner. O “falcão do Kremlin” ordenou que fosse colocada, durante uma inspeção de segurança, uma pequena uma bomba debaixo de uma das asas do jato que transportava Yevgeny Prigozhin a 23 de agosto, numa deslocação entre Moscovo e São Petersburgo.

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O plano resultou. A bomba rebentou e o avião acabou por cair, matando todos os passageiros, incluindo Yevgeny Prigozhin e o número dois do grupo Wagner, Dmitry Utkin. Após o que pareceu ser um incidente, o Kremlin negou qualquer envolvimento na morte de Yevgeny Prigozhin, mas a investigação do Wall Street Journal rebate essa tese. O jornal norte-americano apurou ainda que Vladimir Putin foi informado sobre este plano — e não se opôs à ideia. 

Após a publicação de investigação, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, admitiu que já “leu” o artigo, mas preferiu “não comentar”. “É improvável que esses materiais possam comentados”, afirmou o responsável da presidência russa, atirando que o “Wall Street Journal gosta de produzir ficção”.

O papel de Patrushev durante e depois da rebelião

A 23 de junho, Yevgeny Prigozhin anunciou ao mundo uma rebelião contra o Ministério da Defesa. Não visando derrubar a presidência, o antigo líder da milícia paramilitar Wagner desejava substituir as chefias militares e mobilizou mercenários — e também alguns membros das forças armadas russas — para o efeito, levando a cabo uma insurreição que terminou a 200 quilómetros de Moscovo.

Segundo o Wal Street Journal, Nikolai Patrushev foi uma das pessoas que fez de tudo para parar Yevgeny Prigozhin. Tentou ligar cinco vezes para o mercenário, mas este não lhe atendia o telefone. Ligou depois a dois líderes estrangeiros, para que estes tentassem mediar o assunto. O primeiro foi o Presidente do Cazaquistão, Kassym Tokayev, que recusou desempenhar qualquer papel. Depois, o secretário do Conselho de Segurança russo ligou ao Chefe de Estado bielorrusso, Alexander Lukashenko, que se mostrou recetivo em tentar acabar com a rebelião.

E assim foi. Alexander Lukashenko, e depois Vladimir Putin, conseguiram entrar em contacto com o líder do grupo Wagner, de modo a que este terminasse a rebelião. Cerca de 24 horas depois do motim, o Presidente bielorrusso anunciou que tinha chegado a acordo com Yevgeny Prigozhin, que se mudaria, juntamente com os mercenários, para a Bielorrússia.

A situação na Rússia acalmou e, à exceção da ida para a Bielorrússia, Yevgeny Prigozhin parecia ter saído desta situação impune. Era essa precisamente a sensação que o Kremlin queria provocar no mercenário, mas no Kremlin reinava a convicção de que não havia outra alternativa se não eliminar aquele homem que desafiara Vladimir Putin.

Yevgeny Prigozhin também sabia que estava a ser constantemente vigiado, mas adotou uma postura discreta. Contrariamente ao que acontecera meses antes, o líder do grupo Wagner praticamente não publicava nada nas redes sociais e não partilhava a sua localização. Mesmo assim, Nikolai Patrushev aproveitou uma paragem em Moscovo para ordenar que colocassem uma bomba no jato daquele homem que colocou em xeque o regime, aplicando um golpe quase fatal no grupo Wagner.