Odete Santos, ex-dirigente do PCP, ex-deputada e militante do PCP, morreu aos 82 anos, anuncia o partido em comunicado.

Maria Odete Santos tornou-se militante do PCP em 1974, fez parte do Comité Central do PCP de 2000 a 2012 e foi deputada à Assembleia da República de novembro de 1980 a abril de 2007. No partido, integrou ainda a comissão da concelhia de Setúbal e a direção da Organização Regional de Setúbal e depois do 25 de Abril a seguir ao 25 de Abril de 1974 integrou a comissão administrativa da Câmara Municipal de Setúbal. Foi ainda membro da Assembleia Municipal de Setúbal de 1979 a 2009, onde presidiu de 2002 e a 2009.

Na Assembleia da República, destacou-se em várias áreas de defesa dos direitos dos trabalhadores e das mulheres, em particular no combate que travou contra o aborto clandestino e na defesa da despenalização da interrupção voluntária da gravidez.

Nascida a 26 de abril de 1941 na freguesia de Pêga, concelho da Guarda, rumou a Setúbal para o liceu e  licenciou-se em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo exercido advocacia durante vários anos.

“Mulher de Abril, destacada deputada e dirigente comunista, Odete Santos foi uma figura marcante na construção do Portugal de Abril e na afirmação dos direitos que a Constituição da República Portuguesa consagra, em particular sobre os direitos dos trabalhadores, sobre a igualdade e a emancipação da mulher, uma presença constante na ação de solidariedade com os povos de todo o mundo, uma incansável participante na concretização do ideal e projeto do PCP”, escreve o comité central do partido em comunicado.

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O PCP recorda ainda a histórica militante como uma “mulher de cultura” que “desde muito jovem teve intervenção cultural e antifascista em associações de cultura e recreio do distrito de Setúbal, nomeadamente no Clube de Campismo de Setúbal” e refere que “foi esse ativismo e intervenção que suscitaram a perseguição da PIDE/DGS”.

É autora dos dos livros “Em Maio há cerejas” (Ausência, 2003) e “A Bruxa Hipátia – o cérebro tem sexo?” (Página a Página, 2010), e de uma coletânea de poesia “A argamassa dos poemas”. Nos anos 2004 e 2005 participou em teatro de revista no Parque Mayer, além de ter sido impulsionadora da criação do Teatro de Animação de Setúbal, onde representou conhecidos dramaturgos.

Comunistas recordam “marca indelével” no PCP e no país

Dirigentes e deputados do PCP recordam uma comunista que deixa uma marca na democracia e no país. Em declarações à Rádio Observador, António Filipe, antigo vice-presidente da Assembleia da República e histórico comunista considera que “Odete Santos é uma das grandes referências de sempre do grupo parlamentar do PCP, mas também da própria memória da Assembleia da República”.

“Deixa marca indelével na história da democracia. Uma marca inesquecível no Parlamento e um legado que perdurará”, sublinha o ex-deputado comunista, que descreve Odete Santos, com quem conviveu duas décadas no Parlamento, como uma “deputada com uma elevadíssima qualificação, qualidade de intervenção e uma extraordinária combatividade e paixão”.

António Filipe recorda a “importância decisiva” que teve “em todos os debates em torno da despenalização do aborto” e que fica “na memória não apenas dos comunistas, mas também das mulheres e democratas em geral e da Assembleia da República”.

“Odete Santos tinha elevadíssima qualificação”

João Oliveira, dirigente do PCP que também trabalhou com Odete Santos na Assembleia da República, recorda uma “pessoa memorável“: “Uma parte de mim será produto dessa dimensão humana da Odete Santos.” O ex-deputado lembra que a antiga dirigente comunista “era uma verdadeiramente apaixonada em tudo o que fazia” e tinha uma “grande capacidade de se colocar na posição de quem aprendia com os outros”.

“Essa convicção e paixão era uma marca verdadeiramente distintiva e a dimensão humana, na relação com os outros, no afeto. Era uma pessoa memorável”, realça o comunista.

Odete Santos. “Era uma pessoa apaixonada”

Também Bernardino Soares, ex-deputado e antigo presidente da câmara de Loures, afirma que fica a “memória de uma mulher de grande força e generosidade” que “punha na sua atividade uma grande seriedade, competência e capacidade, mas também paixão que faziam dela uma pessoa ímpar na defesa das suas causas”.

“Quando falava todos percebíamos que tudo o que dizia era totalmente genuíno, era vindo de uma profunda convicção e isso tornava-a muito querida de tantas pessoas”, lembra, sublinhando que “exerceu advocacia, em muitos casos, ajudando pessoas com poucos meios”.  “Odete Santos deixa-nos um legado de que é possível e necessário lutar por uma sociedade mais justa“, resume o comunista.

Odete Santos. “Era uma pessoa ímpar”, diz Bernardino Soares

Carlos Brito e José Honório Novo, ex-deputados comunistas, partilharam bancada com Odete e destacam a dedicação da comunista ao partido e ao país. À Rádio Observador, Carlos Brito enaltece que foi uma “deputada muito importante do PCP, que cobria a área jurídica com grande competência, eficiência e entrega”.

“Odete Santos não vai ser esquecida”

“Deixou marca em muitas leis, uma marca positiva a cuidar dos interesses do país e dos trabalhadores”, sublinha, enquanto Honório Novo diz ter sido testemunha “da enorme dedicação desta mulher à luta do povo e dos trabalhadores, uma enorme dedicação ao partido e à defesa dos interesses do país”. “Além do PCP perder uma figura ímpar, o país fica mais pobre.”

“Componente política de Odete Santos foi exemplar”

Marcelo enaltece “coerência, coragem e irreverência” de deputada carismática

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte de Odete Santos, lembrando-a como uma das deputadas mais carismáticas do parlamento e enaltecendo a sua “coerência, coragem e irreverência”.

“Foi com profundo pesar que o Presidente da República tomou conhecimento da morte de Odete Santos”, lê-se numa nota publicada no site oficial da Presidência da República.

O chefe de Estado lembra Odete Santos como “uma das deputadas mais carismáticas da Assembleia da República, reconhecida por todas as bancadas pela coerência e coragem com que assumia posições, bem como pela irreverência e energia com que defendia os valores em que acreditava”.

Na nota é referido que Odete Santos “exerceu o mandato durante 27 anos, entre a II e a X Legislaturas, empenhando-se, especialmente, na defesa das minorias, na proteção dos direitos humanos, dos trabalhadores e das mulheres”.

“Ao longo da sua vida teve ainda tempo para se dedicar, com igual empenho, à vida autárquica, à cultura (quer publicando livros, quer como atriz, levando ao teatro, para a verem atuar, personalidades de diferentes quadrantes políticos) e, ainda, à resolução alternativa de litígios (sendo de sublinhar o importante papel que desempenhou nos Julgados de Paz)”, lê-se na nota.

Marcelo apresentou à família, amigos e ao Partido Comunista “as mais sentidas condolências”.

Costa recorda “saudosa e notável parlamentar que fica na memória”

O primeiro-ministro, António Costa, manifestou o seu pesar pela morte da ex-deputada comunista Odete Santos, que classificou como “notável parlamentar”, endereçando as suas condolências ao PCP, à família e amigos.

“Neste momento de pesar recordo a competência, a acutilância e o humor de Odete Santos. Juntos discutimos e construímos, por exemplo, os Julgados de Paz. Uma saudosa e notável parlamentar que fica na memória”, escreveu António Costa na sua conta na rede social X (antigo Twitter).

Pedro Nuno Santos, líder do PS, recorda Odete Santos como uma pessoa que dedicou a vida à “intervenção cívica e política”. “Foi com pesar que recebi a notícia do falecimento de Maria Odete Santos, histórica militante, dirigente e deputada do Partido Comunista Português, que dedicou a sua vida à intervenção cívica e política”, escreveu, deixando condolências à família, amigos e ao PCP.

Líder do PSD recorda “diferenças de opinião” mas com “respeito intelectual e político”

O presidente do PSD, Luís Montenegro, manifestou o seu pesar pela morte da antiga deputada do PCP Odete Santos, lembrando que tiveram diferenças de opinião, “mas envolvidas num respeito intelectual e político únicos”.

Numa mensagem na rede social X (antigo Twitter), Montenegro apresentou condolências ao PCP e à família da antiga deputada e dirigente comunista. “Partilhei com ela centenas de horas de trabalho legislativo, carregadas de diferenças de opinião mas envolvidas num respeito intelectual e político únicos. A democracia é isso: convicção e tolerância”, escreveu Montenegro.

Nogueira Pinto recorda noite “famosa” com “choque” de Odete Santos

Na Rádio Observador, o politólogo Jaime Nogueira Pinto recorda uma “noite relativamente famosa” em que, na final do concurso “Os Grandes Portugueses”, defendia António de Oliveira Salazar e Odete Santos tomava a defesa de Álvaro Cunhal: “O choque que teve quando foi comunicado o resultado final da eleição… reagiu como se tivesse caído o regime, como se tivesse havido uma restauração do salazarismo e fui eu que disse que era só um concurso televisivo.”

“A minha mulher, Maria José Nogueira Pinto, foi contemporânea de Odete Santos na bancada em coisas muito opostas, nomeadamente no papel da despenalização do aborto, mas do ponto de vista humano fazia-me referências dela”, recorda, enquanto conclui: “Como passei a vida a ver boas pessoas a defender causas más e más pessoas a defenderem causas boas… tenho ideia de que era uma pessoa generosa e convicta das suas razões.”

“Odete Santos era uma pessoa generosa e convicta”

PS expressa pesar e assinala “papel de destaque” da antiga deputada

O PS manifestou pesar pela morte da antiga dirigente e deputada do PCP Odete Santos, assinalando o “seu papel de destaque” na construção do regime democrático português e a sua inteligência e coragem. Numa nota divulgada esta quarta-feira, o PS expressou pesar pela morte de Odete Santos, endereçando sentidas condolências à família, amigos e ao PCP.

O PS assinalou que Odete Santos se manifestou desde cedo “contra a ditadura do Estado Novo” e que desempenhou “um papel de destaque na construção do regime democrático português, após a Revolução dos Cravos” dedicando-se à “defesa dos direitos dos trabalhadores e dos mais pobres e à luta pela igualdade social”.

“Odete Santos manifestou-se, desde cedo, contra a ditadura do Estado Novo, tendo desempenhado um papel de destaque na construção do regime democrático português, após a Revolução dos Cravos, dedicando-se, muito especialmente, à defesa dos direitos dos trabalhadores e dos mais pobres e à luta pela igualdade social”, referiu o PS.

O PS acrescentou que Odete Santos deixou “testemunhos do seu empenho, da sua inteligência, da sua coragem e da coerência de princípios e de ação com a qual guiou a sua participação na vida política nacional”.

O socialista dirigiu as “mais sentidas condolências” à família, amigos e ao PCP.

Na rede social X, o eurodeputado e primeiro vice-presidente do PSD, Paulo Rangel, manifestou o seu pesar pela morte de Odete Santos. “Fui seu colega na Assembleia da República. Para lá das diferenças ideológicas, recordo o seu indefetível humanismo e o amor à cultura portuguesa. Uma mulher forte, sensível, admirável. Sentidos pêsames à família e ao PCP”, escreveu Rangel.

Américo Aguiar enaltece trabalho de Odete Santos

O cardeal Américo Aguiar enalteceu “todo o trabalho” feito “em prol de Portugal e dos portugueses” pela antiga deputada comunista Odete Santos.

“Neste momento em que tomo conhecimento da partida da dra. Odete Santos, quero prestar o meu reconhecimento por todo o trabalho que fez em prol de Portugal e dos portugueses e, simultaneamente, associar-me ao sentimento de perda do Partido Comunista Português”, escreveu o bispo de Setúbal numa mensagem enviada à agência Lusa.

Verdes recordam “uma das mulheres mais destacadas da vida política portuguesa” 

O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV) lamentou profundamente a morte da antiga dirigente e deputada comunista Odete Santos, que recorda como “uma das mulheres mais destacadas da vida política portuguesa”.

Em comunicado, o PEV — que integra a Coligação Democrática Unitária com que o PCP concorre às eleições — considera que Odete Santos se destacou sobretudo como deputada à Assembleia da República, “a partir do brilhantismo das suas intervenções parlamentares”.

“A sua frontalidade, a paixão que imprimia às suas intervenções, a sua determinação e a sua assertividade no confronto das ideias políticas, fizeram de Odete Santos uma parlamentar inteiramente reconhecida e respeitada por todos os deputados dos mais diversos quadrantes políticos”, refere o partido, que perdeu o assento parlamentar nas últimas eleições legislativas.

“A dedicação a causas como a despenalização da interrupção voluntária da gravidez ficaram bem plasmadas na sua atividade parlamentar, mas também no seu comportamento cívico, onde, como advogada, se predispôs a auxiliar mulheres com parcos recursos acusadas de terem recorrido ao aborto clandestino”, referem “Os Verdes”.

“Odete Santos protagonizou a cada momento da sua intervenção política a defesa dos valores de Abril, da liberdade, da igualdade, da democracia e do desenvolvimento”, sublinha o PEV, lembrando ainda as suas experiências no teatro e na poesia.

Expressando as suas condolências a família, amigos e ao PCP, o partido considera que “o país perdeu hoje uma das mulheres mais marcantes da vida política portuguesa, uma das mulheres inteiramente dedicada à conquista e à consolidação da democracia”.

Mariana Mortágua recorda “combatividade e determinação” em defesa dos direitos do trabalho e das mulheres

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua lamentou a morte da ex-deputada comunista Odete Santos, assinalando a sua “combatividade e determinação” em lutas pelos direitos do trabalho, pela cultura ou pela dignidade das mulheres.

“Pelos direitos do trabalho, pela cultura, pela dignidade das mulheres. Em cada uma destas lutas, como em tantas outras, a esquerda conheceu a combatividade e determinação de Odete Santos. Endereço à família, amigos e ao PCP as mais sentidas condolências”, escreve Mariana Mortágua na sua conta na rede social X (antigo Twitter).

Livre recorda “referência política em Portugal durante décadas”

O Livre lamentou a morte da comunista Odete Santos, aos 82 anos, lembrando-a como uma “referência política em Portugal durante décadas” e apresentando condolências à família, amigos e militantes do PCP.

“Odete Santos foi uma referência política em Portugal durante décadas. Antifascista, lutadora pelos direitos dos trabalhadores e pelos direitos das mulheres, destacou-se na luta pela interrupção voluntária da gravidez e em muitos outros momentos”, lê-se num comunicado do Livre.

Além do percurso político, continua o texto, Odete Santos “foi também advogada e amante da cultura e da representação, tendo participado como atriz em diversas peças de teatro e na televisão, além de ter sido autora de vários livros”.

“O Livre apresenta as suas condolências à sua família e amigos e a todos os militantes do PCP”, termina o texto.