O Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa assumiu, esta terça-feira, estar do lado do Papa Francisco na bênção a uniões do mesmo sexo. Em comunicado emitido no final de mais uma reunião deste órgão da CEP, o Conselho Permanente “manifesta a plena comunhão dos bispos portugueses com o Santo Padre”.

O Vaticano autorizou em 18 de dezembro, oficialmente, a bênção dos casais do mesmo sexo, “em situação irregular” para a Igreja, mantendo a oposição ao casamento homossexual. Se, por exemplo, os bispos de Moçambique já anunciaram a sua oposição, a CEP sublinha a Igreja Católica que recebe todos. “No seguimento da recente Declaração Fiducia supplicans sobre o sentido pastoral das bênçãos, do Dicastério para a Doutrina da Fé, que não altera a doutrina da Igreja sobre o matrimónio, o Conselho Permanente reconhece o acolhimento de todos na Igreja e manifesta a plena comunhão dos bispos portugueses com o Santo Padre”, pode ler-se no comunicado enviado às redações.

A declaração Fiduciasupplicans foi a primeira vez que a Igreja Católica se pronunciou claramente sobre a bênção de casais do mesmo sexo, assunto que gera tensões no interior da instituição, devido a uma forte oposição do setor conservador. Em 4 de janeiro, o Vaticano teve mesmo de vir defender a medida do Papa, insistindo nada ter de “herético”.

Numa declaração de cinco páginas do Dicastério para a Doutrina da Fé, citado pela agência norte-americana Associated Press (AP), a Santa Sé admite que “a prudência e a atenção ao contexto eclesial e à cultura local podem permitir diferentes métodos de aplicação” da nova regra das bênçãos, mas afirma que não pode haver “uma negação total ou definitiva deste caminho que foi anunciado aos sacerdotes”.

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Precisa que em situações em que “existem leis que condenam com prisão e, nalguns casos, com tortura e até a morte o mero ato de alguém se declarar homossexual, é evidente que uma bênção seria imprudente”, já que “os bispos não desejam expor os homossexuais à violência”. No entanto, considera “fundamental” que as conferências episcopais “não apoiem uma doutrina diferente da declaração assinada pelo Papa”.

Confirmada reunião com vítimas de abusos para domingo

O Conselho Permanente confirma ainda a realização de um encontro entre a Conferência Episcopal Portuguesa a Associação Coração Silenciado, que representa vítimas de abusos sexuais na igreja católica em Portugal, no próximo domingo. “No processo em curso sobre a proteção de menores e adultos vulneráveis na Igreja, a Presidência da CEP terá um encontro de escuta e diálogo com a Associação Coração Silenciado, no próximo dia 14 de janeiro”, lê-se no comunicado.

A reunião já tinha sido avançada pela agência Lusa no passado dia 5. De acordo com a agência de notícias, no encontro devem participar, pelo episcopado português, o presidente e vice-presidente da CEP, José Ornelas e Virgílio Antunes, respetivamente, e o secretário da Conferência, padre Manuel Barbosa.

O encontro realiza-se dois meses depois de a Coração Silenciado ter manifestado, em carta aberta aos bispos católicos portugueses, “tristeza, desagrado e indignação” pela forma como têm “lidado com o tema dos abusos sexuais na Igreja que conduzem”.

Na carta, datada de 2 de novembro, a associação considerava que “nove meses depois da apresentação do relatório da comissão criada (…) para o estudo deste tema, (…) muito poucas foram as ações desenvolvidas e as atitudes concretas levadas a cabo”. Acusando a Igreja de estar a valer-se da prescrição dos casos, em termos criminais, a Coração Silenciado alertava que o “sofrimento não prescreve! Só acresce!”.

Os bispos foram também questionados sobre quantos “já se reuniram, ao jeito do Papa Francisco, com as vítimas” das suas dioceses e quantos já entraram em contacto com a associação, ao mesmo tempo que a CEP era acusada de não ter ainda formalizado “nenhum convite para diálogo, para saber o que sentem as vítimas, o que precisam, o que esperam da Igreja em Portugal”.