A Comissão Europeia está a investigar se a parceria que existe entre a Microsoft e a OpenAI, a startup de inteligência artificial (IA) que desenvolveu o ChatGPT, pode ser alvo de análise no âmbito das regras europeias de fusão.

A informação foi divulgada num comunicado onde é anunciada a consulta pública sobre concorrência em mundos virtuais e IA generativa, que pode ser gerados textos, imagens e muito mais a pedido dos utilizadores. O ChatGPT ou o Bard, da Google, são exemplos de serviços de IA generativa.

A Comissão Europeia diz que “está a olhar para alguns dos acordos que foram feitos entre grandes players do mercado digital e responsáveis pelo desenvolvimento de IA generativa e fornecedores”, diz a nota. Assim, quer “investigar o impacto dessas parcerias”, como a da Microsoft com a OpenAI, “nos mercados dinâmicos”.

A Microsoft é a principal investidora na empresa liderada por Sam Altman. Até ao momento, estima-se que a dona do Windows tenha canalizado 13 mil milhões de dólares em investimento na OpenAI. Há um ano, a dona do Windows confirmou que a ligação estava mesmo para durar, confirmando a intenção de fazer um investimento “de vários anos e de milhares de milhões de dólares para acelerar avanços na IA (…)”.

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A aliança é tão estreita que a Microsoft é uma das grandes beneficiárias das evoluções dos modelos de IA generativa da OpenAI. Por exemplo, no início de 2023, quando foi apresentado um motor de pesquisa Bing com IA, foi dito que era um modelo mais poderoso do que aquele que estava na altura disponível no mercado. Semanas mais tarde, soube-se que era o GPT-4, da OpenAI, que ainda não estava acessível ao público.

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Além disso, a infraestrutura tecnológica de desenvolvimento de serviços de IA da OpenAI está alicerçada nos serviços da Microsoft.

A ligação entre as empresas já suscitou dúvidas nos EUA e também no Reino Unido. A Microsoft e a OpenAI enfrentam também juntas um processo de relevo devido aos direitos de autor na IA: o jornal New York Times avançou no fim de 2023 com uma queixa contra as duas empresas devido ao alegado uso indevido de conteúdos do jornal para treinar grandes modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês).

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O Observador contactou as duas empresas para perceber se há algum comentário ao anúncio da Comissão Europeia. Numa nota enviada ao Observador, fonte oficial da Microsoft lembra a parceria formada desde 2019, que “tem promovido mais inovação com inteligência artificial e mais concorrência, mantendo a independência de ambas as empresas”. “A única alteração recente diz respeito ao facto de a Microsoft ter um observador sem poder de voto no ‘board’ da OpenAI”, diz a tecnológica, referindo-se aos desenvolvimentos após o atribulado despedimento de Sam Altman, o CEO e fundador da startup.

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Altman foi afastado pelo conselho de administração da empresa, que alegou que existiu uma “quebra na comunicação”. Depois de um anúncio de que seria contratado pela Microsoft, Altman voltou à casa de partida ao ser contratado pela OpenAI, regressando ao cargo de CEO. Até à crise, a dona do Windows não tinha assento no conselho de administração da OpenAI, apesar de ser a maior investidora.

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“Desde 2019, formámos uma parceria com a OpenAI que tem promovido mais inovação com Inteligência Artificial e mais concorrência, mantendo a independência de ambas as empresas. A única alteração recente diz respeito ao facto de a Microsoft ter um observador sem poder de voto no Board da OpenAI” – Fonte oficial da Microsoft.

Comissão Europeia quer contributos sobre IA e metaverso até 11 de março

Com toda a atenção que está a ser dada ao mercado da IA generativa e metaverso, a Comissão Europeia deixa o convite às partes interessadas neste mercado a apresentarem contributos até 11 de março.

Os interessados podem apresentar contributos para cada um dos temas ou, se assim quiserem, para ambos. Há uma extensa lista de perguntas para orientar os comentários do mercado. Por exemplo no metaverso, é pedido que se identifiquem quem são nomes relevantes no mercado, quem pode ter influência na área ou ainda que modelos de monetização é que podem ser relevantes.

“Os mundos virtuais e a IA generativa estão a desenvolver-se rapidamente”, explica Margrethe Vestager, vice-presidente executiva da Comissão Europeia e responsável pela pasta da concorrência, citada em comunicado. “É fundamental que estes novos mercados se mantenham competitivos e que nada impeça os negócios de crescerem e disponibilizarem os melhores e mais inovadores produtos aos consumidores.”

A Comissão Europeia estima que o investimento de capital de risco na IA na União Europeia tenha chegado a mais de 7,2 mil milhões de euros só no ano passado, enquanto a dimensão do metaverso na Europa possa ter alcançado mais de 11 mil milhões de euros.

(Atualizado às 17h45 com reação da Microsoft)