Trinta minutos que mostraram o patamar onde Portugal pode chegar mesmo contando com várias baixas que têm peso sobretudo no plano defensivo como Daymaro Salina, Victor Iturriza, Fábio Magalhães ou André Gomes (além de Rui Silva, com um ligeiro problema físico que o deixou também de fora), outros 30 minutos que baixaram a Seleção à terra e mostraram as principais fragilidades no plano coletivo. Se é verdade que o último encontro da primeira fase do Campeonato da Europa de andebol tinha a Dinamarca como uma clara favorita, a forma como o conjunto nacional não conseguiu impedir o autêntico passeio da tricampeã mundial na segunda parte entre vários golos fáceis do meio-campo ficou quase como um “aviso” para a main round, uma fase de decisões contra conjuntos globalmente superiores. E todos sabiam disso mesmo.

Dez minutos deram à Costa um mundo de diferenças: Portugal goleado pela Dinamarca antes da main round do Europeu

“Gostei muitos dos 30 minutos iniciais, da primeira parte. Conseguimos encontrar algumas debilidades no sistema defensivo da Dinamarca. Só que o jogo tem 60 minutos e, na segunda parte, não conseguimos manter o ritmo e o nível… Vamos ver se conseguimos melhorar as transições no próximo jogo. A Dinamarca, e estamos a falar da seleção campeã do mundo, tem um modelo de jogo muito rápido. Sabíamos que íamos sofrer muito e aguentámos 30 minutos. Esta equipa, com jogadores de um nível tremendo, pode ser das melhores de sempre a nível mundial. Quando a defesa não funciona, os guarda-redes estão lá e é sempre muito difícil jogar contra estas equipas. Mas o nosso objetivo é claro: gostávamos de ganhar ao campeão do mundo mas o que queremos mantém-se intacto, que é atingir o torneio pré-olímpico”, apontara Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional, após a derrota por 37-27 que o deixou agastado em vários momentos.

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Seguia-se a Noruega, adversário abaixo da Dinamarca mas que nos últimos encontros tinha sempre ganho a Portugal por diferenças maiores ou mais curtas. “É uma seleção do top 6 do último Campeonato da Europa e Mundial e continua muito parecida à formação original que enfrentámos em 2020 e 2021. Ao falarmos desta equipa teremos que falar de Sander Sagosen, sendo que é o jogador que tem mais ações de desequilíbrio ofensivo, nomeadamente no 1×1 na zona central. Usam a transição ofensiva como uma das suas maiores armas, assim como os remates de primeira linha. Depois apresentam uma defesa 6:0 de características nórdicas, sem grande profundidade mas bem protegidos na baliza. Ambas as seleções têm esperanças de vitória nesta partida, até porque pode ser uma excelente rampa de lançamento para alcançar os melhores lugares do main round“, comentara o técnico nacional, no lançamento da nova fase da prova.

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O histórico não era propriamente favorável, com a Noruega a ganhar todos os últimos compromissos frente a Portugal entre Europeu de 2020 (34-28), Mundial de 2021 (29-28) e Gjensidige Cup de 2023 (38-27). No entanto, o empate com a geração de ouro das Ilhas Faroé e a derrota frente à Eslovénia na primeira fase tinha deixado a imagem de um conjunto nórdico que, num dia menos bom, poderia ser “dobrado” (e se dúvidas existissem a propósito de possíveis surpresas, bastava recordar a eliminação precoce da Espanha com uma derrota por dez frente a Croácia e um empate com a Áustria). Era nisso que Portugal apostava, era isso que Portugal queria potenciando o que tem de melhor e disfarçando fragilidades que também tem. E mais de duas décadas depois daquele triunfo em Caminha no playoff de apuramento para o Euro-2004, Portugal voltou a bater a Noruega, finalista mundial em 2019 e 2021 (e terceira classificada no Europeu de 2020), dando um passo importante na prova antes dos jogos com Eslovénia, Suécia e Países Baixos.

O encontro teve um arranque atípico, com Portugal a conseguir condicionar da melhor forma na defesa o jogo organizado da Noruega mas a cometer várias falhas técnicas seguidas no ataque, que fez com que o 2-1 inicial passasse para 4-2 para os nórdicos. Nessa fase da partida, Diogo Rêma acabou por ser preponderante na baliza com intervenções que iam “anulando” a incapacidade de fazer a diferença em ataque organizado que depois abria a possibilidade às saídas rápidas da Noruega. Os primeiros dez minutos chegaram com 6-5 para os nórdicos, sendo que a vantagem ainda andou na diferença de dois/três golos antes de regressar ao 13-11 a nove minutos do final, altura em que o técnico Paulo Jorge Pereira parou (e bem) o encontro.

O selecionador percebia que, apesar da desvantagem, Portugal ia mostrando argumentos para passar para a frente. Porque a defesa muitas vezes em 3:3 e 4:2 condicionava e muito os remates de primeira linha. Porque a magia dos irmãos Costa em ataque organizado conseguia deixar por terra a resistência do 6:0 defensivo da Noruega. Porque os 30% de eficácia de Diogo Rêma também tinham o seu peso pelos momentos em que o jovem guardião travava os remates noruegueses. E nem foi preciso falar muito, entre um par de correções e a garantia de que as coisas estavam a ir no caminho certo. Estavam mesmo: Portugal conseguiu estar sete minutos sem sofrer, fez um parcial de 6-0 para 17-13 e chegou ao intervalo a ganhar por 18-15 com quatro golos de Pedro Portela, que chegou assim aos 450 golos pela Seleção Nacional.

Portugal tinha descoberto o mapa para a vitória, a Noruega tinha o tempo de descanso para dar a volta a essa incapacidade na segunda metade da primeira parte. E se a Seleção ainda marcou o golo inicial para o 19-15, os nórdicos mostraram outros argumentos no plano ofensivo para se reaproximarem no resultado com um parcial de 3-0 que teve resposta quase imediata com 2-0 que deixou a vantagem nacional em 21-18. Portugal conseguia defender bem a zona central mas não evitava os golos pelas pontas, com alguns momentos em que o desgaste físico dessa defesa agressiva dava sinais. Apesar disso, a Seleção mantinha-se na frente, com o próxima paragem técnica a chegar com 28-27 a 13 minutos do final já com Gustavo Capdeville na baliza a impedir o empate em 1xo na primeira intervenção, tendo depois mais duas intervenções decisivas para a Seleção consolidar a vantagem no resultado, redobrar a esperança e ganhar no final por 37-32, naquela que, em termos de fases finais de grandes provas, foi a primeira vitória com a Noruega desde 2000.