A energia limpa poderá representar até 85% da produção global de eletricidade até 2050 quando os obstáculos à transição energética forem ultrapassados, aponta um estudo da McKinsey, esta quinta-feira divulgado.
De acordo com as conclusões do “Global Energy Perspetive 2023” da McKinsey & Company, “os obstáculos relacionados com a disponibilidade de terrenos, as infraestruturas energéticas, a capacidade de produção e a mão de obra, a acessibilidade para os consumidores, a disponibilidade de investimento, a disponibilidade de materiais, entre outros, podem atrasar a transição energética numa altura em que a implementação de tecnologias de energia limpa tem de ocorrer a um ritmo cinco vezes superior ao atual para se atingirem os compromissos de zero emissões líquidas”.
Contudo, refere, “quando os obstáculos forem ultrapassados, a energia limpa poderá representar até 85% da produção global de eletricidade até 2050 num cenário de ‘Compromissos Cumpridos'”.
O estudo destaca ainda que “as tecnologias com uma previsão de crescimento mais rápido são as mais vulneráveis aos ‘bottlenecks‘ [estrangulamentos], em particular a energia eólica e solar, os veículos elétricos, o hidrogénio verde e as bombas de calor”.
Destas, espera-se que a energia eólica, os veículos elétricos e o hidrogénio verde sejam “afetados de forma mais crítica, com uma potencial escassez de 20 a 50% para os eletrolisadores”, percentagem que aumenta para “mais de 50% para alguns materiais utilizados nos ímanes da energia eólica”.
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Ainda projetado é um aumento de 330% na procura de lítio para baterias até 2030.
O relatório da McKinsey demonstra que “ultrapassar os obstáculos tecnológicos da transição energética com materiais substitutos, inovação, construção de infraestrutura e regulamentação será crucial para atingir as metas ‘net-zero'”, que visam limitar o aquecimento global abaixo dos 2°C (centígrados) acima dos níveis pré-industriais e prosseguir os esforços para conter o aumento da temperatura nos 1,5°C, em linha com o Acordo de Paris.
Sustentando que o consumo global de energia será moldado pela velocidade da eletrificação da indústria, o estudo antecipa que, até 2050, o consumo global de energia pode diminuir até 6% face a 2022 num cenário de “Compromissos Cumpridos”, uma vez que a eletrificação de diferentes setores resulta num menor consumo de energia.
Num cenário de abrandamento, o consumo de energia cresceria 24% no mesmo período se a eletrificação abrandasse.
A eletricidade e o hidrogénio são apontados como “os vetores de energia com crescimento mais rápido dentro do ‘mix‘ energético”, aumentando de 21% da procura de energia em 2022 para 58% no cenário de “Compromissos Cumpridos” e 33% no cenário de abrandamento em 2050. Já os combustíveis fósseis, que representavam 64% da procura de energia em 2022, cairiam para 28% e 54% nos respetivos cenários.
Relativamente à transição dos combustíveis fósseis, o estudo mostra que o crescimento total agregado começou a abrandar e que se espera que a procura comece a diminuir nos próximos dois a sete anos em todos os cenários.
Já quanto à procura de hidrogénio, prevê que aumente duas a cinco vezes até 2050 em todos os cenários, já que o crescimento provém de indústrias tradicionais que consomem hidrogénio, como a química e a refinação. Em cenários de transição mais rápida, prevê-se também um forte crescimento em indústrias completamente novas, como a dos camiões pesados, a de calor industrial ou a do ferro e aço.
O estudo da McKinsey avança ainda que o total de investimentos anuais no setor da energia em geral deverá crescer 2 a 4% ao ano — praticamente em linha com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global — para atingir entre dois e 3,2 biliões de dólares em 2040.