Desde 2020/21, há já quatro anos, que a Premier League começou a registar a velocidade de ponta de todos os jogadores. Até ao final de janeiro, o mais rápido era Kyle Walker, que na temporada passada alcançou os 37,31 km/h. Agora, a coroa da rapidez tem outro dono: ao serviço do Tottenham e contra o Brentford, na semana passada, Micky van de Ven chegou aos 37,38 km/h.

O central neerlandês é agora o mais rápido desde que a Premier League regista a velocidade dos jogadores e os dados apresentados no próprio comunicado da liga inglesa são impressionantes. “Para colocar o número num contexto, Van de Ven percorreu 10,38 metros por segundo. Quando Usain Bolt registou o atual recorde mundial dos 100 metros, em 2009, a sua velocidade média foi de 10,44 metros por segundo, ou seja, 37,58 km/h”, pode ler-se na nota divulgada, que deixa claro que o jogador ficou pouco abaixo do velocista mais rápido de sempre.

Micky van de Ven tem 22 anos e chegou ao Tottenham durante o verão, tendo sido um dos pedidos expressos de Ange Postecoglou para reforçar o plantel dos spurs. Nascido em Wormer, uma pequena localidade piscatória dos Países Baixos, cumpriu praticamente toda a formação no Volendam e foi avançado até aos 16 anos. Aos 18, numa altura em que achava que a carreira não estava a levantar voo, equacionou fazer uma pausa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Às vezes pensava: ‘Para que é que continuo a fazer isto?’. Pensei em tirar um ano sabático com a esperança de que depois pudesse dar o salto para o futebol profissional. Mas o meu pai convenceu-me a seguir em frente. Se estou onde estou é graças a ele”, explicou num entrevista à NU, revelando que o pai foi agente secreto e que sempre o ajudou a aliar o lado mental às exigências físicas do futebol.

GettyImages-1729265344

O central de 22 anos estreou-se pelos Países Baixos em outubro, na qualificação para o Euro 2024

Em termos mais práticos, a vida de Van de Ven começou a mudar em 2019, quando Wim Jonk chegou ao comando técnico do Volendam. De quase dispensado, o central passou a titular indiscutível, capitão e peça fulcral da equipa orientada pelo antigo jogador do Ajax, do Inter Milão e do PSG. “Às vezes faz falta um pouco de sorte para triunfar. Os outros treinadores pensavam que não podiam fazer nada comigo. O Wim chegou e disse que podia fazer alguma coisa comigo”, contou o neerlandês, que também praticou ténis quando era mais novo.

Depressa se tornou um dos melhores centrais da segunda liga neerlandesa, passando a fazer parte do lote de representados de Mino Raiola e saltando para a Bundesliga e para o Wolfsburgo em 2021 e a troco de mais de 10 milhões de euros. A primeira temporada na Alemanha foi difícil, participando em apenas cinco jogos, mas a chegada de Niko Kovac tornou-o novamente indispensável. Na época passada só falhou uma jornada do Campeonato, foi eleito o melhor jogador do clube até dezembro e terminou o ano com a sexta melhor média de remates intercetados (71,8%).

O rendimento positivo valeu-lhe o interesse de Ange Postecoglou e o salto para a Premier League e para o Tottenham por 40 milhões de euros — onde escolheu o número 37 por ser o favorito de um amigo que morreu durante a adolescência. Atualmente, para além do jogador mais rápido de toda a liga, ostenta também a maior percentagem de acerto de passe, com 94,7%. Chegou à seleção dos Países Baixos no passado mês de outubro, estreando-se num jogo de qualificação para o Euro 2024 contra França, e parece ter encontrado a sua melhor versão em Londres.

“É muito divertido jogar futebol no Tottenham. Há jogadores que não gostam de ter a bola, têm medo de a perder. Mas o mister insiste, diz que se perdermos a bola voltamos a tentar uma e outra vez. Se perdermos a bola, é ele que assume a responsabilidade. Prefere que se perca a bola três vezes seguidas a ver um chutão para a bancada. Claro que é arriscado, mas ele dá-nos confiança para sair a jogar uma e outra vez”, indicou o central, que leva 16 jogos e um golo na atual temporada pelos spurs.