Desde que a guerra na Ucrânia começou, só têm acontecido coisas boas a Yaroslava Mahuchikh. Desportivamente, claro está. O rasto de morte que a saltadora ucraniana deixou para trás quando fugiu de Dnipro assim que o conflito começou está-lhe guardado na memória. A atleta esteve escondida em caves antes de embarcar numa viagem de 2.000 quilómetros e três dias até à Sérvia, onde disputou os Mundiais de Pista Coberta (2022) e ganhou a medalha de ouro no salto em altura. Não ficaria, nem vai ficar por aí.

Em Budapeste, no ano passado, conquistou a primeira medalha de ouro em Mundiais ao Ar Livre e crescem agora as expetativas para o que pode fazer em Paris. Porém, a próxima edição dos Jogos Olímpicos, a primeira disputada desde o início da guerra na Ucrânia, enfrenta alguns dilemas, nomeadamente no que à participação de atletas russos e bielorrussos diz respeito.

“É um desafio para mim competir depois de ler as notícias sobre mísseis enviados contra civis. Penso em quantas pessoas morreram, quantas casas foram destruídas. É difícil”, refletiu Mahuchikh junto da CNN. “Quando vejo atletas russos, vejo todas as cidades destruídas, todas as vidas que foram destruídas pelo povo russo”. Apesar de, segundo o Ministro dos Desportos ucraniano, Vadim Guttsait, terem morrido 400 atletas desde o início da guerra e de estar em equação um possível boicote aos Jogos, Yaroslava Mahuchikh diz-se contra esta atitude, o que não significa que esqueça as vítimas.

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“Muitas famílias estão sob ataque de mísseis, muitas crianças, infelizmente, perderam os pais ou os pais perderam os filhos. É tão triste, e é tão triste que muitos atletas e treinadores tenham morrido nesta guerra. Mas quero ajudar o meu país. É o objetivo principal”, referiu na mesma entrevista a atleta de 22 anos.

Yaroslava Mahuchikh persegue o título olímpico do salto em altura que lhe escapou em Tóquio. Nessa ocasião, ficou com o último lugar do pódio, atrás da australiana Nicola McDermott e da russa a competir sob bandeira neutra Mariya Lasitskene. Na final de 2020, participaram também Iryna Herashchenko (quarta) e Yuliya Levchenko (oitava), ambas ucranianas. Mahuchikh ficou a quatro centímetros do ouro, sendo que, no arranque de 2024, já igualou a marca com que Lasitskene conquistou a prova (2,04m), preparando-se para ser uma candidata ao ouro .