Eric Idle, humorista britânico e um dos fundadores do famoso grupo Monty Python, afirmou que, aos 80 anos, ainda tem de trabalhar para se sustentar financeiramente. A revelação foi feita nos últimos dias pelo próprio, numa série de publicações na sua conta na rede social X, e apanhou de surpresa os seguidores e fãs de Idle e dos Python, cujos programas televisivos e filmes figuram entre os maiores sucessos da história da comédia britânica.
“Não sei porque é que as pessoas assumem que estamos carregados de dinheiro. [Financeiramente] os Python foram um desastre”, escreveu Idle. Formado nos anos 60, o grupo cómico britânico (que além de Idle, incluía ainda Graham Chapman, John Cleese, Terry Gilliam, Terry Jones e Michael Palin) é frequentemente citado entre os melhores e mais influentes de sempre, com sucessos duradouros como a série que os notabilizou, Os Malucos do Circo, e filmes como O Cálice Sagrado e A Vida de Brian. Idle foi também o criador de Spamalot, um musical “plagiado com amor” de O Cálice Sagrado, que estreou em 2004 e foi outro sucesso comercial, além de ter vencido três Tony Awards.
No entanto, apesar de ainda granjear de popularidade junto de milhões de pessoas, tal não se tem traduzido em receita financeira de acordo com Idle, que disse ter colocado a sua casa em Hollywood à venda (de acordo com o jornal The Telegraph, a moradia está avaliada em cerca de 6 milhões de euros).
As queixas do humorista surgiram após este ter feito uma publicação inicial , na qual pedia ajuda aos seus seguidores sobre como podia deixar de ver conteúdos sobre Donald Trump na sua timeline na rede social. Quando um seguidor seu ironizou que este podia “gastar algum do dinheiro do Spamalot para comprar o Twitter” (numa referência à aquisição da rede social por parte de Elon Musk), Idle respondeu: “O Spamalot ganhou dinheiro há 20 anos. Tenho de trabalhar para me sustentar. Com esta idade isso não é fácil“.
Nos dias seguintes, o humorista foi fazendo várias publicações, respondendo a questões e mensagens dos seus seguidores sobre o assunto. Ainda que confirmando que os Monty Python “são donos de tudo” o que fizeram enquanto grupo, Idle sustentou que “os direitos de autor já não valem nada” e que parte da dificuldade se prende com a má gestão financeira dos rendimentos do grupo ao longo das décadas, bem como as poucas receitas vindas das plataformas digitais. “Nunca pensei que, chegado a esta idade, os rendimentos do streaming caíssem a pique”, disse.
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O humorista tranquilizou os fãs mais preocupados, agradecendo as mensagens positivas que recebeu e assegurando-lhes de que continua ativo e a desenvolver novos projetos criativos. “Não me importo de não ser rico. Prefiro ser engraçado. O que não gosto é que as pessoas assumam que sou rico. É diferente”, defendeu.
Perante sugestões de que poderia ganhar dinheiro participando num documentário sobre os Monty Python para o streaming, Idle rejeitou a hipótese e deixou críticas ao mercado das plataformas digitais. “Que se f*** a Netflix e que se f**** os documentários”, escreveu.
No mesmo sentido, rejeitou a possibilidade de novas reuniões dos membros sobreviventes dos Monty Python enquanto grupo — a última aconteceu com o espetáculo Monty Python Ao Vivo (Quase): Um já está, faltam cinco (uma referência ao colega Graham Chapman, que morreu em 1989; entretanto, Terry Jones também morreu, em 2020) — e sugeriu estar de relações cortadas com John Cleese: “não falo com ele há sete anos”.
Não é a primeira vez que Idle levanta questões acerca dos rendimentos obtidos com os projetos do grupo. Em 2016, o humorista revelou que a BBC tinha pago a cada membro apenas duas mil libras (equivalente a 32.500 euros em 2023) pela criação de Os Malucos do Circo — Monty Python’s Flying Circus, no original, série televisiva de humor que esteve no ar entre 1969 e 1974, com quatro temporadas e 45 episódios.
Segund o The Telgraph, a Python (Monty) Pictures Lda., detentora dos direitos comerciais do grupo, faturou em 2019 cerca de 81 mil libras (91 mil euros), valor que subiu em 2022, mas que ainda assim se ficou pelas 120 mil libras (140 mil euros), a dividir pelos seis humoristas, ou pelas suas famílias.