“Olhar para o futuro com europeus e canadianos.” A embaixadora norte-americana na NATO, Julianne Smith, olha com otimismo para os próximos tempos da aliança atlântica, apesar dos comentários de Donald Trump, que disse que “encorajaria” a Rússia a invadir um Estado-membro da organização militar. “Esta aliança está a celebrar o 75.º aniversário este verão na cimeira em Washington em julho. Por mais de sete décadas, Presidentes norte-americanos — democratas e republicanos — concluíram que a aliança é a pedra angular do sistema internacional.”
Num briefing por videoconferência com jornalistas em que o Observador esteve presente, Julianne Smith defendeu esta terça-feira que a aliança não é um “projeto de caridade” norte-americano e serve os “interesses” de Washington na Europa. Daí que as declarações de Donald Trump sejam “perigosas e irresponsáveis”: “Encorajar o Kremlin a atacar um aliado coloca realmente os soldados norte-americanos e aliados em grande perigo.”
Aliança prepara “planos de contingência” para ataque russo
O futuro é, de resto, recheado de incertezas. A embaixadora norte-americana na NATO adiantou que a aliança está a “desenvolver todo um espetro de políticas” para a eventualidade de um ataque russo a um Estado-membro. E confirmou que estão a ser elaborados “planos de contingência” para qualquer ameaça “futura”. “Não estamos a perder tempo”, garantiu.
A embaixadora lembrou que, desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia, a NATO “tomou uma série de passos” que incluem a “dissuasão e defesa” dos aliados, nomeadamente o reforço do “flanco oriental” da aliança. “Estamos a preparar-nos todos a tempo”, assegurou Julianne Smith, revelando que a aliança está atenta ao “manual russo” de como “minar as forças da NATO”. “Não estamos a perder tempo para o que aconteça numa variedade de cenários.”
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Ucrânia não deverá ser convidada a aderir à aliança na cimeira da NATO em julho, adianta embaixadora
No mesmo briefing, instada a comentar sobre a Ucrânia, Julianne Smith garantiu que a NATO vai continuar ao lado do esforço de guerra daquele país. “À medida que se aproxima os dois anos desde que a guerra começou, há algo a ter em mente: se a Rússia tem sucesso, a aliança está em risco.”
No entender da embaixadora, se a Rússia ganha na Ucrânia, isso vai incentivar o líder russo, Vladimir Putin, e “outros autocratas” a “desestabilizar toda a aliança”. “Vamos continuar a prestar assistência aos nossos amigos da Ucrânia”, afirmou, agradecendo ainda os 50 mil milhões de euros que a União Europeia desbloqueou para apoiar Kiev. A responsável espera ainda que o Congresso norte-americano consiga igualmente dar luz verde ao pacote de ajuda — já aprovado pelo Senado — de 60 mil milhões de dólares (cerca de 56 mil milhões de euros) para a Ucrânia.
Relativamente à cimeira de Washington, a embaixadora deu praticamente a garantia de que “não espera que a Ucrânia seja convidada” para fazer parte do encontro da NATO, em julho de 2024. Ainda assim, considera que os 31 Estados-membros vão mandar “um sinal ao Presidente Putin” de que a aliança está cada vez mais “perto” da Ucrânia. “Vamos sinalizar que não vamos a lado nenhum no apoio à Ucrânia”, afirmou Julianne Smith.
Noutro tópico, quando confrontada com o impasse húngaro relativamente à entrada da Suécia na NATO, Julianne Smith garantiu que o país nórdico está “pronto para juntar-se à aliança”, sendo um “parceiro ativo” que vai tornar a aliança “mais forte”.
“Queremos ver a adesão sueca finalizar-se o mais cedo possível”, reforçou a embaixadora dos EUA na NATO, que se mostrou “satisfeita” por a Turquia ter ratificado a entrada do país. “Instamos os nossos amigos húngaros a fazerem isso o mais cedo possível”, concluiu Julianne Smith.
Aliados deverão começar a selecionar novo secretário-geral já no primeiro semestre deste ano. Mark Rutte na corrida
Questionada no briefing com jornalistas sobre o futuro do atual secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, que deverá sair do cargo este ano, Julianne Smith começou por agradecer a “década de serviço” do norueguês. Em relação à sua substituição, a embaixadora apontou para o “outono de 2024” o anúncio do novo líder da aliança, mas sugeriu que os aliados vão começar “a seleção provavelmente já no primeiro trimestre deste ano, se for possível”.
Julianne Smith não deu pormenores sobre quem poderá substituir o secretário-geral da NATO. Mas, instada a comentar o nome do ainda primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, a embaixadora diz que não é “segredo” que o responsável político dos Países Baixos manifestou interesse no cargo. “É uma pessoa que a aliança [está a analisar]”, confirmou.