Luís Montenegro e Rui Rocha estiveram frente a frente sem destruir a possibilidade de uma alternativa à direita no cenário pós-eleitoral, mesmo quando a IL não se quis comprometer com a Aliança Democrática — uma posição que o líder do PSD não esqueceu e que aproveitou para fazer um apelo ao voto útil, mas que o presidente liberal desvalorizou.

A estratégia de Rui Rocha para o debate começou a ser construída logo de início e resumiu-se a uma frase, que repetiu duas vezes: “Os portugueses percebem que a solução para o país está nesta mesa.” E argumentou que qualquer voto que não seja em PSD e IL não só “atrasa a solução” como permite “manter o PS no governo”. Para defender a teoria, Rui Rocha apresentou um documento com “10 desafios ao PSD” e explicou que a proposta dos sociais-democratas para o IRS só “retira cinco euros” à do PS, enquanto a da IL permite a poupança de 109 euros.

Na visão de Luís Montenegro, o “objetivo final é o mesmo”, não falta ambição à proposta do PSD, enquanto considera a da IL “redutora” na redução de impostos no trabalho, o que leva o líder do PSD a destacar a redução da taxa de IRS máxima para 15% para os jovens até aos 35 anos, com o intuito de evitar uma fuga de jovens para o estrangeiro. Rocha aceita que Portugal vive uma “situação de emergência” e entende a proposta, mas lembrou que as pessoas com mais de 35 anos são confrontadas com uma situação em que o IRS não reduz e defendeu que a proposta da IL é “para toda a gente”.

Depois de concordarem que concordam em muitas questões, o presidente do PSD optou por mostrar as diferenças no que ambicionam para a saúde. “Entendemos que a base do sistema de saúde é pública”, explicou, apontando a uma divergência com a IL, que tem uma visão mais “concorrencial” entre os setores público, privado e social. Rui Rocha destacou a existência de um “terreno comum”, em particular para as parcerias-público-privadas (PPP), mas reconheceu que “os pontos de partida são diferentes” — o PSD pretende que haja a possibilidade de “recorrer aos privados quando SNS falha”, enquanto a IL acredita que “a escolha deve existir sempre” (o que leva ao exemplo da ADSE). Se Montenegro acaba a assumir que se deve “caminhar” para essa liberdade de escolha, Rocha acredita que “já não vamos lá com remendos”.

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Outra das discordâncias surgiu na Caixa Geral de Depósitos, que Luís Montenegro, demarcando-se de Pedro Passos Coelho, pretende que funcione como uma “válvula de segurança” a todos os níveis por ser a “garantia do sistema”. Já Rui Rocha recordou a posição de Mariana Mortágua para se afastar na ideia de que a Caixa Geral de Depósitos “deve intervir no mercado por orientação da política” e aproveitou o tema para assegura que uma nova geringonça seria um cenário “gravoso” para os portugueses. Quanto à TAP, ambos alinham na privatização.

Ainda na Justiça, Luís Montenegro voltou a admitir fazer uma reforma de com todos os que queiram contribuir, deixando claro que a vontade de construir é “superior a qualquer querela partidária”. Rui Rocha é favorável à “visão de que se deve envolver todos”, mas alertou que “a visão de um pacto” não deve servir como uma “forma de esse pacto nunca existir”, concordando também com o líder do PSD quando diz que a discussão não se deve fazer em campanha eleitoral.

O diálogo mais revelador

Luís Montenegro: A IL não faz parte da AD por vontade própria, que é respeitável. Foi uma decisão que não foi nova, já tomou a mesma decisão nas eleições autárquicas na candidatura a Lisboa, não inviabilizou a vitória, mas foi um bocadinho mais apertada do que podia ter sido. E tomou a iniciativa, juntamente com todos os demais partidos, inclusivamente PS, Chega, BE e PAN, de inviabilizarem o prosseguimento da ação governativa dos Açores, o que desembocou numa eleição antecipada que culminou com uma vitória histórica da AD e as consequências sobre essas atitudes naturalmente responsabilizam os dirigentes da IL. O que é preciso dizer é que esta atitude é legítima, respeitável, mas o que está em causa nas eleições legislativas é a eleição um primeiro-ministro e a escolha entre duas opções para governar, a opção do PS e de Pedro Nuno Santos e da AD e de eu próprio liderar o governo. E é com base neste cenário que os eleitores ponderarão e quero dizer que têm de ter este fator em linha de conta.

Rui Rocha: Voto útil, voto útil. O mais importante é que a solução para o país está nesta mesa. E, mais do que isso, qualquer voto que não esteja representado nesta mesa é um voto que atrasa a solução, que pode bloquear a solução e que consiste numa solução que é manter o PS no governo. Também creio que os portugueses já perceberam que a proposta do PSD não é suficiente para a transformação necessária do país. Portanto, há um voto estratégico, de mudança e o voto que muda mesmo o país é o voto na IL. E porque é assim e porque tenho um desejo de transparência nestas matérias e que os portugueses saibam esse caminho que é preciso fazer com que o PSD esteja possível para trilhar, esse voto na IL é muito importante. E quero entregar ao Luís Montenegro 10 desafios ao PSD para um Portugal com futuro.