A mesma calma que mostrou nos momentos de maior tensão, o mesmo sorriso de quem tem nos olhos um brilho de quem não deixa de sonhar, o melhor orgulho no País com a bandeira de Portugal às costas. Depois das duas medalhas de ouro nos Campeonatos do Mundo de natação em Doha, naquela que foi também a melhor participação de sempre da Seleção na prova, Diogo Ribeiro regressou na manhã desta segunda-feira a Lisboa. À sua espera, um pouco de tudo. Família, amigos, fãs, jovens adeptos que já olham para aquele rapaz de 19 anos como um ídolo, elementos da Federação de Natação e do Projeto Olímpico do Benfica, muitos jornalistas. Nem toda essa confusão tirou o foco a Diogo Ribeiro, que depois de cumprimentar todos aqueles que estavam à sua espera foi respondendo a todas as perguntas que iam sendo feitas em direto.
“É um orgulho mais uma medalha para Portugal, neste caso. Se me dissessem há um ano, quando ganhei a prata em Fukuoka, que conseguiria conquistar isto diria que estava a sonhar… É incrível. Ter 19 anos e saber que ainda posso tentar evoluir e melhorar ainda me deixa mais feliz e com garra para atingir ainda melhores coisas. Nos 50 sabia que tinha feito uma má partida, só vi depois que acendeu a luz vermelha e que tinha ao pódio. Só depois vi que tinha ganho. Nos 100 não fiquei tão surpreso… Se fosse antes estaria mais nervoso mas com o tempo nas meias-finais acreditei. Se tenho noção do feito que tenho? Não, não tenho… Só tenho 19 anos… Dormi com as medalhas debaixo da almofada, a dos 50 ficou partida, deve ter sido uma senhora das limpezas sem querer mas dava para trocar e entretanto troquei”, começou por referir.
“Jogos Olímpicos? Para mim sempre foi um sonho chegar lá, agora o sonho continua a ser conseguir uma medalha. Nunca vai deixar de ser um sonho, mesmo estando numa final. Aí, pode passar é a ser mais um objetivo. Não nos podemos precipitar, não são só estas medalhas que vão ditar o futuro. Tenho de continuar a trabalhar e a ser humilde, que sou. Cada vez que ganho uma medalha não deixo de trabalhar e vai ser assim sempre, enquanto não chegar uma medalha olímpica não vou deixar de trabalhar. Dedicatória? Sobretudo ao meu pai, que morreu com 44 anos. Tenho falado muito com ele durante a noite. Estava muito nervoso, falei com ele… A dizer que vou fazer as coisas por ele e acho que ele me manda força para eu ganhar as provas. Sentir que a minha família também está lá também é muito importante”, recordou.
“Normalmente emolduro as medalhas e depois ponho em cima da minha cama em casa, em Coimbra. Peso para os Jogos Olímpicos? Quando fico desiludido não é pela pressão que me colocam mas sim pela pressão que eu coloco em mim. Por isso, não sinto o peso dos Jogos e acho que isso é bom. Tenho de continuar a trabalhar e com esta mentalidade. Depois de amanhã vou a Paris, ver uma das provas internacionais do skate, com o Gustavo Ribeiro, depois vou uma semana de férias e volto a 7 de março. Superação? Sim, quando fui passando por situações como as que passei, até o acidente, isso foi dando mais força para me reerguer outra vez e lutar contra tudo”, confidenciou ainda sobre o que fará nos próximos dias.
“Evitar o deslumbramento? Continua tudo a mesma coisa… Gosto que digam que eu sou um ídolo, que me vejam a nadar, mas eu sou isto, a medalha de ouro dos Mundiais é como se fosse do Regional porque ainda não percebi o que representa. Vou continuar no Benfica também, um grande clube, e dia 25 há jogo e lá estarei para ser homenageado. Estava desejoso de regressar a casa, sim. Temos de mudar a mentalidade na nossa modalidade, não há muitos apoios apesar de antes ser pior, mas é preciso mais. É a modalidade mais vista dos Jogos. Os próprios patrocinadores, mesmo que não possam dar dinheiro, que possam dar material por exemplo. Os 50 mariposa por não serem prova olímpica são tratados de forma diferente mesmo num Mundial, os 100 mariposa é o primeiro prémio que vou receber a nível governamental. Isso deixa-me triste mas continuo a ser o mesmo e a trabalhar”, acrescentou ainda Diogo Ribeiro na conversa.