Seria sempre um final com chave de ouro, com a janela de oportunidade conseguida com a presença em mais uma decisão nos Campeonatos do Mundo a abrir a porta à possibilidade de fazer mais história nesta edição de Doha. Não história, mais história. À entrada para estes Mundiais, Diogo Ribeiro, de 19 anos, já era um dos quatro portugueses com medalhas em Europeus absolutos e um dos três nadadores nacionais com finais em Mundiais, a par de Alexandre Yokochi e Ana Barros – com essa nuance de ter conseguido uma medalha de prata na edição do ano passado em Fukuoka que o colocava acima de todos os outros. No entanto, e como se veio a confirmar, esse era apenas o início de uma carreira ainda a começar com vários registo por bater.

Mais um momento histórico que não veio só: Diogo Ribeiro sagra-se campeão mundial depois da prata em 2023

Logo no arranque desta edição dos Mundiais, Diogo Ribeiro não só se tornou o primeiro português a chegar a mais do que uma final da competição como fez ainda melhor do que em 2023 nos 50 metros mariposa, com uma vitória inédita que valeu a medalha de ouro. Já passaram alguns dias desde esse feito mas, agora com a devida distância, o País conseguiu juntar na mesma frase português, campeão mundial e natação, algo que poucos ou nenhuns poderiam algum dia imaginar tendo em conta o histórico de décadas na modalidade. O que era bom, tornou-se ainda melhor. O melhor que significou chegar ao topo podia ter mais um degrau.

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A emoção no hino, a recordação para a mãe e uma bandeira: “O início não foi bom mas estou tão feliz por ser campeão mundial”

As meias-finais dos 100 livres voltaram a não valer o passe para a corrida decisiva (11.º lugar na classificação geral de todos os tempos), as eliminatórias dos 50 livres realizadas 40 minutos depois dos 100 mariposa não chegaram para alcançar um dos 16 melhores tempos (18.º). No entanto, Diogo Ribeiro sabia o que queria, para onde ia e como podia lá chegar. Tornou-se percetível esta sexta-feira de manhã que o grande foco estava concentrado nos 100 mariposa, neste caso uma disciplina olímpica ao contrário dos 50. Os resultados, esses, acabaram por superar as melhores expetativas: depois do quinto registo nas eliminatórias, o atleta do Benfica fez a viragem da segunda meia-final na terceira posição mas conseguiu ainda vencer a sua série.

Uma quebra final que não apaga o grande início: Diogo Ribeiro termina 100 metros livres dos Mundiais no 11.º lugar

Contas feitas, Diogo Ribeiro chegava à final dos 100 mariposa com o melhor tempo das meias, que também era em paralelo um novo recorde pessoal e nacional de 51,30, batendo o anterior máximo de 51,45. Para se ter noção da evolução em causa, recuemos dois anos. Nos Europeus de Roma-2022, o português conseguiu apurar-se para a final com 51,61 (então recorde nacional), “falhando” depois na decisão com uma prova aquém do esperado (52,28). Nos Mundiais de juniores de Lima-2022, ganhou a medalha de ouro com o tempo de 52,03. Nos Mundiais absolutos de Fukuoka-2023, ficou pelas meias-finais mesmo fazendo 51,54, que só não foi recorde nacional porque entretanto baixara a marca para 51,45 no Funchal. A evolução trazia outro dado: comparando com os tempos dos Jogos de Tóquio, 51,30 valeriam ida à final olímpica.

Ainda havia espaço para mais história: Diogo Ribeiro consegue nova final nos Mundiais com recorde nacional

Era neste contexto que chegava a decisão dos 100 mariposa, com essa certeza de que Diogo Ribeiro irá agora trabalhar apenas focado nos Jogos Olímpicos de Paris onde deverá fazer 50 e 100 livres e 100 mariposa. A conquista de mais uma medalha era outro feito histórico que daria mais brilho à evolução do nadador nos últimos anos, ao mesmo tempo que traria mais resultados visíveis ao enorme salto que a modalidade tem conseguido a nível nacional sobretudo nas disciplinas mais curtas, mas a certeza de que está ao nível dos melhores era uma garantia, qualquer que fosse o resultado final no Aspire Dome. Ainda assim, não chegava. Nem uma medalha parecia chegar. De forma mais inesperada, Diogo Ribeiro voltou a ganhar o ouro.

Neste caso, o segredo acabou por estar nos primeiros 50 metros. Ao contrário do que aconteceu na final dos 50 mariposa, em que começou mal e teve de reduzir depois distâncias, o português teve uma boa saída, fez a viragem na segunda posição e voltou a mostrar toda a potência e técnica que tem na “hora da verdade”, andando sempre entre os três primeiros lugares até tocar primeiro e festejar a vitória com 51,17, um novo recorde nacional 24 horas depois de ter quebrado o máximo que lhe pertencia. O austríaco Simon Bucher acabou em segundo com 51,28, ao passo que o polaco Jakub Majerski terminou em terceiro com 51,32. Na final estiveram ainda Nyls Korstanje (Países Baixos, 51,41), o experiente Chad Le Clos (África do Sul, 51,48), Zach Harting (EUA, 51,68), Mario Molla Yanes (Espanha, 51,72) e Josif Miladinov (Bulgária, 51,73).

Em paralelo com mais esta conquista de Diogo Ribeiro, que continua a desafiar o impossível a cada prova que passa como se não existissem limites para a evolução e para os sonhos, Portugal fez história ao chegar a este penúltimo dia de provas nos Mundiais no top 10 dos países com mais medalhas na natação, contando com dois ouros de Diogo Ribeiro nos 50 e nos 100 mariposa e um bronze de Angélica André nos 10km em águas abertas, outra medalha que foi histórica para a Seleção nestes Campeonatos do Mundo de Doha.