De um lado, o Chelsea procurava o primeiro troféu absoluto desde 2021 e o primeiro troféu interno desde 2018, numa conquista que poderia significar o corte definitivo com um passado recente de poucas alegrias. Do outro lado, o Liverpool procurava o primeiro troféu de uma temporada onde o objetivo claro e declarado é ganhar tudo aquilo que for possível, entre Premier League, Taças e Liga Europa.

Chelsea e Liverpool cruzavam-se este domingo na final da Taça da Liga inglesa, em Wembley, e os momentos dos dois clubes não poderiam ser mais distintos. Os blues estão no 11.º lugar da Premier League, sem que Mauricio Pochettino saiba se é o início, o meio ou o fim de uma nova era; já os reds estão na liderança isolada da Premier League, com Jürgen Klopp a saber que quer terminar a sua própria era com uma época praticamente perfeita.

Antes do jogo, com a clara noção de que a final poderia servir como autêntico game changer no universo do Chelsea, Pochettino escreveu uma carta aberta aos adeptos e sublinhou a importância do apoio das bancadas — recordando a primeira final a que ele próprio assistiu, ao lado do pai, quando a Argentina venceu os Países Baixos em casa no Mundial 1978. “Hoje, em Wembley, podemos criar algo especial. Uma memória que vive connosco. Um momento que prevalece. As finais têm esse poder. Unem-nos. As famílias juntam-se e ligam-se nas suas emoções. Os amigos partilham a experiência e criam um elo. E as crianças vivem uma final pela primeira vez. É algo que fica connosco para sempre”, referiu o treinador argentino.

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Já Klopp, que procurava o primeiro troféu da última época em Anfield, defendia que o Liverpool merecia estar em Wembley “a 100%”. “Não tenho dúvidas sobre isso, enfrentámos adversários muito difíceis e tivemos grandes exibições. Mas as finais são jogos completamente diferentes, ninguém joga em casa. Já defrontámos o Chelsea em várias finais e sabemos que metade do estádio vai ser azul e a outra metade será vermelha. Sabemos o que as nossas pessoas podem fazer, mas também sabemos que as pessoas do Chelsea estarão lá. Mas nas finais não há favoritos. Tudo começa 0-0 e temos de trabalhar muito para conquistar cada bocadinho de vantagem que queiramos ter”, disse o técnico alemão.

Neste contexto, o Chelsea apresentava-se com Cole Palmer, Conor Gallagher e Sterling no apoio direto a Nicolas Jackson, sendo que Mudryk e Madueke começavam ambos no banco e Thiago Silva era baixa por problemas físicos. No Liverpool, a lista de lesionados quase compunha um onze inicial: Darwin, Salah, Szoboszlai, Alisson, Alexander-Arnold, Curtis Jones e Diogo Jota estavam todos indisponíveis, com Kelleher a assumir a baliza e Luis Díaz, Gakpo e Harvey Elliott a serem os responsáveis pelo trio ofensivo.

O Liverpool começou melhor, assumindo a iniciativa e mantendo as linhas do Chelsea recuadas e compactas. Luis Díaz foi o primeiro a criar perigo, com um cabeceamento que Petrovic defendeu (7′) e um remate que o guarda-redes sérvio também parou (13′), mas a primeira oportunidade de golo propriamente dita até pertenceu ao Chelsea, com Kelleher a intercetar um desvio de Palmer com uma intervenção monumental (19′).

O azar dos reds com as lesões prolongou-se e Gravenberch, na sequência de uma entrada mais dura de Caicedo, teve mesmo de ser substituído ainda antes da meia-hora. Sterling colocou a bola no fundo da baliza após contra-ataque rápido do Chelsea, mas o lance foi anulado por fora de jogo (31′), e Gakpo respondeu ainda antes do intervalo com um cabeceamento ao poste (39′). No fim da primeira parte, apesar do ascendente do Liverpool que se tornou mais evidente nos últimos minutos antes do intervalo, a final da Taça da Liga inglesa continuava empatada sem golos.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e o Liverpool demonstrou desde logo que não queria prolongar as decisões, com Luis Díaz a desequilibrar na esquerda no primeiro lance da segunda parte (46′) e Endo a rematar de fora de área logo depois (47′). O Chelsea respondeu por intermédio de Enzo, que quase marcou de calcanhar após bom passe de Gallagher (50′), e Van Dijk marcou de cabeça à passagem da hora de jogo mas viu o golo ser anulado pelo VAR por falta no decorrer da jogada (60′).

Pochettino fez a primeira substituição pouco depois, trocando Sterling por Nkunku, e Klopp respondeu com a entrada do jovem Bobby Clark para o lugar de Conor Bradley. Gallagher ainda teve duas grandes oportunidades para marcar já dentro dos últimos 20 minutos, com um pontapé cruzado que acertou em cheio no poste (73′) e outro desvio que Kelleher defendeu (85′), mas já nada mudou até ao fim e a final da Taça da Liga inglesa seguiu mesmo para prolongamento.

O Liverpool entrou na meia-hora extra já sem Robertson, Gakpo e Mac Allister, que saíram todos ainda antes dos descontos para a entrada de Tsimikas e dos jovens Jayden Danns e James McConnell, e o Chelsea já contava com o ucraniano Mudryk. Danns teve uma grande ocasião para marcar logo no início do prolongamento, com um cabeceamento que Petrovic defendeu (94′), Elliott também ficou perto do golo com um remate que foi à malha lateral (99′) e o momento decisivo da final surgiu quando já todos pensavam nas grandes penalidades.

A dois minutos do apito final, na sequência de um canto cobrado na direita, Van Dijk voltou a antecipar-se à concorrência e surgiu a cabecear ao primeiro poste e a bater Petrovic (118′) para dar vantagem aos reds. No fim, o Liverpool venceu o Chelsea e conquistou a Taça da Liga inglesa, o primeiro dos quatro troféus que Jürgen Klopp quer alcançar na temporada de despedida — e tudo graças ao capitão Van Dijk, que teve de marcar dois golos para fazer esquecer os lesionados e dar um dia memorável aos miúdos.