Nova semana da moda, nova capital. Entre 20 e 26 de fevereiro foi a vez de Milão e lá foram a imprensa, as celebridades e a elite da moda rumo ao norte de Itália para conhecer as propostas para o próximo outono/inverno das famosas marcas italianas. Há os consagrados como Armani, que aos quase 90 anos não dá sinais de querer abrandar, e como Prada, que esta estação se sentiu cheia de amor para dar. Há os designers que estão a começar a trilhar caminho ao leme de grandes marcas. E depois há aquele jogo de opostos que mantém Milão interessante, o atrevimento ruidoso de Dolce & Gabbana e Versace, contra a elegância silenciosa de Max Mara e Fendi.

Giorgio Armani usou as flores como fio condutor da coleção e podemos encontrá-las em bordados, estampados e aplicações, a darem vida a tecidos em tons escuros, com texturas técnicas, mas também veludo e sedas. “Uma flor a nascer no frio é um símbolo de renascimento, que é o que eu gostaria de comunicar desta vez”, disse o designer ao jornal Guardian com a sabedoria dos seus 89 anos. “A coleção transmite uma mensagem de graciosidade e esperança, intercaladas com o poder e a energia da Natureza e com o ciclo da vida do nosso planeta”, pode ler-se nas redes sociais da marca.

No desfile de Dolce & Gabbana o preto dominou, mas a estrela foi Naomi Campbell que, aos 53 anos, encerrou o espetáculo. Os looks totais em preto brincam com texturas, como transparências, rendas e plumas, mas também houve surpresas em padrão leopardo e peças em pele, falsa, claro. Boinas na cabeça e voiles sobre o rosto, completam o look de mulher sensual e misteriosa e, se calhar, até perigosa. O preto foi também a cor dominante na coleção Max Mara. O desfile mostrou um guarda-roupa contemporâneo e cosmopolita que aposta na simplicidade das formas e na qualidade dos materiais. E não podiam faltar os casacos camel, assinatura da marca.

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Versace seguiu a sua estética atrevida e sexy com uma coleção que mistura texturas, como o leopardo e o tweed, e formas como, os vestidos coleantes e os casacos bem cortados. Junta-se ainda os looks em vermelho e as peças em pele preta e assim foi servida a coleção outono/inverno num cenário inspirado no filme “2001 Odisseia no Espaço”.

Na Gucci esta foi a segunda coleção de Sabato de Sarno depois da saída de Alessandro Michele. Longe da irreverência de outros tempos, para esta estação a marca aposta nos casacos de cortes rígidos para usar por fora e nas lantejoulas, transparências e veludos para usar por dentro. Na Tom Ford, esta também é a segunda coleção de Peter Hawkings depois da saída do fundador, seguindo a linha estética que caracteriza a marca. Juntou poder, sedução e mulheres numa misturadora e saiu uma coleção onde se podem ver fatos estruturados e vestidos que encontram a sensualidade tanto no cair sobre as linhas do corpo, como nas transparências.

No desfile da Moschino aguardava-se a primeira coleção de um novo designer, depois de mais de 10 anos de Jeremy Scott. O sucessor nomeado foi Davide Renne, que assumiu o cargo a 1 de novembro de 2023, mas apenas dias depois viria a morrer de doença súbita. Seguiu-se Adrian Appiolaza que fez uma coleção em tempo recorde e conseguiu manter algum do humor e irreverência a que estávamos habituados, por exemplo com estampados e carteiras em forma de pão.

O desfile da Prada teve lugar na fundação da marca e as modelos caminharam sobre uma passerelle transparente com uma espécie de floresta por baixo. Miuccia Prada quis levar amor para o desfile e, com Raf Simons, criou uma coleção que “combina moda com fragmentos de histórias, numa exploração de noções de beleza, de um mundo contemporâneo formado por memórias”, segundo um texto que acompanha o vídeo do desfile no Instagram na marca. “Há um romance, com o passado.” Alfaiataria, malhas e peças fluidas, tudo com a delicadeza que é imagem de marca Prada. E ainda os chapéus militares cobertos de texturas como veludo ou plumas e as carteiras penduradas no braço por um novo acessório.

Kim Jones encontrou inspiração para a nova coleção Fendi em desenhos da década de 1980 guardados nos arquivos e assinados por Karl Lagerfeld. Depois juntou a sua própria inspiração em subculturas londrinas da mesma época. E ainda apareceram estátuas clássicas romanas em estampados e malhas. Silhuetas simples, looks construídos em blocos de cor e uma paleta de tons escuros e outonais e carteiras, claro, compuseram uma coleção em perfeita harmonia. O desfile contou ainda com a invasão de um membro da PETA na passerelle. A Fendi, não só ainda não se juntou às marcas de luxo que anunciaram acabar com o uso de peles, como voltou a utilizar este material nesta coleção.

Ficam para a história desta semana de moda ficam dois desfiles com uma espécie de happening. Em Emporio Armani começou a nevar na passerelle, mas as modelos aproveitaram e continuaram a desfilar com chapéus de chuva. No desfile da marca Avavav o público foi convidado a participar, mas de uma forma curiosa e inesperada. Como parte da performance do desfile, os convidados deviam atirar lixo às modelos que desfilavam e a marca explicou que se inspirou nos ataques que acontecem atualmente online. “Nos tempos medievais as pessoas atiravam fezes, pedras e lixo umas às outras. Online esses tempos não são do passado”, pode ler-se no Instagram da marca. “Os comentários de ódio e os trolls da internet tornaram-se uma parte da cultura moderna. O desfile é uma experiência onde esta brutalidade verbal se traduz num espaço físico e, esperemos, mostra que não é necessariamente um reflexo da realidade”, continua o texto que acompanha um vídeo do desfile. “As modelos representam símbolos de auto-respeito, mantendo a cara levantada enquanto levam com o lixo.” No final da mensagem a marca deixa um agradecimento às modelos “que tiveram um papel tão importante nesta performance”.

As propostas para o outono/inverno 2024/25 continuam agora em Paris. Ficam já para trás as semanas da moda de Nova Iorque e Londres.

Desfiles, celebridades e muita criatividade. A semana da moda de Londres em 50 imagens