Mariana Mortágua esteve esta tarde numa arruada animada, apesar da ameaça de chuva (só concretizada assim que o passeio acabou), na baixa de Coimbra. A coordenadora do BE distribuiu beijos e sorrisos, tomou um café, discutiu o progresso da produção de cerveja artesanal com o funcionário do café (uma conversa teórica, sem tempo para provar efetivamente a cerveja) e saiu à rua, onde acabou a fazer redobrados apelos por uma maioria de esquerda — e atacar o regresso de Durão Barroso.

Primeiro, o passeio: se mesmo dentro do partido ninguém questionava a sua preparação para ser líder, mas havia quem temesse que não tivesse a mesma empatia que Catarina Martins conseguira criar com o eleitorado nas ruas, Mortágua voltou a mostrar nesta arruada que quer desfazer essa ideia. De sorriso aberto, começou por beber o “essencial cafezinho da tarde”, explicando aos jornalistas que cada vez se produz melhor cerveja artesanal em Portugal (e a coordenadora do BE é apreciadora do produto) e prometendo voltar ao café para dar ao funcionário as moedas que este não queria aceitar.

A partir daí, acompanhada pela pompa dos tambores e, desta vez, de uma gaita de foles (“isto hoje vai ser a sério!”, comentava um elemento da comitiva bloquista), passou a distribuir abraços e beijos por sua iniciativa, cumprimentou uma criança, disse olá a grupos de jovens hesitantes e recebeu gritos de apoio de várias janelas. A disponibilidade para os afetos, mesmo sem que as conversas se tivessem prolongado particularmente, ficou clara.

Quando parou, Mortágua manteve o sorriso, mas só para falar da vontade de chegar a uma maioria de esquerda, que promete ser uma possibilidade real. “O importante é concentrarmo-nos em derrotar a direita”, voltou a frisar. “Não só estamos a garantir a derrota da direita mas também as condições para ter uma maioria capaz de resolver os principais problemas do país. É por isso que pedimos que toda a esquerda se mobilize e vá votar”. Defendeu até que a esquerda “já provou, mesmo durante esta campanha” que só ela tem condições para dar estabilidade ao país.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

E questionada sobre as contas de Pedro Nuno Santos, que disse que fez as contas às sondagens e a esquerda pode ter mais deputados do que PSD e IL (não contando com o Chega), concordou que “o princípio é esse, a estabilidade começa por ter mais votos do que PSD e IL”. Ainda assim, a eventual maioria tem de depender de conteúdos concretos, sobre Habitação, Saúde ou salários: “É em nome destes princípios que queremos uma maioria e não desistimos dela. É possível em Portugal ter uma maioria com a esquerda”.

Com menos sorrisos falou das declarações polémicas que têm saído da AD. “O líder do PSD tem sido chamado a desmentir ou desdizer os seus candidatos. O negacionismo e o ataque às mulheres a entrar para a campanha pelos próprios candidatos. Isto reforça a ideia que trazia ao início: é preciso deputados da esquerda para derrotar a direita que quer fazer regredir o país, que é uma ameaça às mulheres, que nega as alterações climáticas”.

E guardou as farpas mais amargas para Durão Barroso, que esta sexta-feira entrou na campanha da AD: “Durão Barroso chefiava a Comissão Europeia quando tudo isto [o “inferno” da troika] aconteceu, e chefiava-a depois de ter saltado do cargo de primeiro-ministro, de ter abandonado o país. E da CE saltou para a Goldman Sachs, o banco privado que contribuiu para a crise, e depois quis impor austeridade e é o rei das portas giratórias, que representa o pior do polvo financeiro mundial”, atacou. “Quando ouvimos Durão Barroso é a Goldman Sachs que está a falar. É o regresso a esses tempos sombrios da troika e da austeridade. O povo não esquece e não esquece o papel que Durão teve”. Alargou aliás a crítica à AD: “O que temos visto na campanha do PSD é um desfile. Ou de candidatos que representam ideias retrógadas que depois é preciso esconder, ou é o passado que regressa sempre à campanha, seja com a cara de Passos Coelho, Assunção Cristas ou Durão Barroso”.

Pureza: “Tudo o que a direita tem para oferecer é passado”

Se “tudo o que a direita tem para oferecer é passado”, o BE continua a apostar em recordar esse passado e apontar para um futuro mais à esquerda. No comício da noite, a lógica foi a mesma e foi particularmente frisada por José Manuel Pureza, antigo deputado do Bloco, que entrou na campanha para recordar os tempos da geringonça, quando a aplicação das medidas mais à esquerda parecia “impossível” e deixou de o ser: “Foi a nossa gente que ganhou. E agora é outra vez esse tempo”, sentenciou. Não nos digam que é impossível o que transforma as vidas sofridas em vidas boas, não nos digam que são impossíveis os caminhos da esperança e alegria para a grande maioria do povo”. E dirigiu-se ao PS para pedir que, em vez de “moverem obstáculos”, “juntemos as nossas forças no mais ambicioso dos projetos para o país”.

Já a coordenadora continuou o seu tiro à direita, desta vez depois de fazer um discurso dedicado às medidas ambientais, do reforço da energia solar ao dos transportes públicos — medidas que, assegura, não só podem trazer benefícios na luta contra as alterações climáticas como podem gerar postos de trabalho e ajudar as famílias a reduzir os custos com a energia. Mas os “negacionistas e pessimistas” não aceitam essas ideias, disparou, para chegar às acusações contra PSD e IL: “Nada, mas mesmo nada desta agenda pode avançar com a direita. Com a direita só há retrocesso”. E voltou a falar da polémica à volta das declarações do candidato da AD por Santarém, Eduardo Oliveira e Sousa, e a resposta de Montenegro a elas: “Querem pôr as pessoas contra as medidas urgentes, querem assustar o povo com aquilo que temos de fazer para proteger o nosso país”. Também aqui o combate é entre esquerda e direita.