Até agora foi a arruada mais concorrida da campanha comunista. As poucas dezenas de militantes que marcaram presença nas ações de campanha em Alverca e Portimão foram substituídos por uma centena de simpatizantes da CDU que encheram as ruas de Queluz. O caminho demora menos de 10 minutos a percorrer, mas em modo de arruada e com paragens recorrentes, em paragens de autocarro, cafés e pequenas lojas, Paulo Raimundo demorou mais de meia hora a chegar até à estação de comboios. Distribuiu panfletos e folhetos com as caras dos candidatos da CDU por Lisboa e as principais medidas para o distrito e para o país. Mas será que foi reconhecido por todas as pessoas com quem se cruzou?

O Observador fez o teste, deixou a arruada seguir em frente e falou com as pessoas que foram primeiro abordadas pelo secretário-geral do PCP. Se fosse um exame de secundário, Paulo Raimundo passava, mas com 10. Se fosse uma sondagem daria empate técnico. O Observador conversou com 21 pessoas, dessas 11 conheciam o líder comunista, 10 não faziam ideia de quem era, mesmo com um panfleto com a sua fotografia na mão.

A primeira pessoa que falou com Paulo Raimundo era uma reformada, de cabelo branco que estava sentada numa paragem de autocarro. “Não sabia quem era, por acaso não. O partido? Ó isso vê-se pela bandeira”, mas deixou elogios ao secretário-geral: “Bem parecido ele é, o que vai fazer não sei, mas bem parecido ele é“. A conversa que tem não é apenas com o Observador. Uma militante comunista, com uma bandeira vermelha e com letras brancas onde se pode ler: “CDU” é rápida na correção: “Vai lutar por quem trabalha. E pelos idosos”.

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Ao lado, estavam um homem e uma mulher que respondem com poucas palavras. Mas também eles chumbam Raimundo no teste de popularidade. Sabem quem é? “Não sei.” Já tinham visto na televisão? “Isso sim.” Porque aceitou o papel? “Porque vi a postura e gostei, mas não sei quem é.” Paulo Raimundo perdia 3-0, mas os apoiantes não desistiam. A militante com a bandeira vermelha na mão continuava a insistir com quem mostrava que não sabia quem era o secretário-geral comunista: “Vai falar ao pé da estação. Devia ir ouvir o que tem para dizer, é o único que luta pelos trabalhadores”.

The secretary-general of the Portuguese Communist Party (PCP) Paulo Raimundo (L) speaks with people during a United Democratic Coalition (CDU) campaign, as part of the campaign legislative elections on 10 March, in Setubal, 27 February 2024. On January 15, the President of the Republic decreed the dissolution of parliament and the calling of early legislative elections for March 10, following the resignation of the Prime Minister, Antonio Costa, presented on 07th November 2023, due to Operation Influencer, and immediately accepted by the President of the Republic. RUI MINDERICO/LUSA

A arruada continua, e de paragem de autocarro passa para um banco que podia ser de jardim, mas está instalado num passeio de calçada portuguesa. “Sabe quem é? É para votar, vi na televisão“, confessa a mulher sentada à esquerda, que é interrompida pelo homem sentado ao seu lado. “Este senhor aqui? Já o vi na televisão muitas vezes.  O país tem de andar. A habitação é muito cara, tem que se fazer qualquer coisa”. Agarravam os dois com punhos cerrados em dois panfletos da CDU.

Na dianteira, Raimundo confessava aos jornalistas “vamos lá mais um bocadinho que isto hoje está animado” e começou a dar a volta no resultado. Levou lágrimas de uma pensionista no casaco, que não faltou à chamada: “Sei quem é, o meu marido era da CDU desde sempre”. E depois o Observador cruzou-se com duas comunistas “desde miúdas” que equilibraram o prato da balança a favor de Raimundo e empataram 4-4.

António Filipe..? João Ferreira..? Bernardino Soares..?

No final da rua, já com o largo da estação de comboios à vista, dois homens de cabelo grisalho e bigodes despenteados não se mostram convencidos por Raimundo. “Conhece? Não, não. Mas pelas bandeiras não é difícil de adivinhar. E sabe dizer o nome? Ah… O António Filipe?” e ao lado a mesma confusão, “cumprimentei-o, é bom rapaz.” “Sabe-me dizer o nome?” “Eu vejo-o na televisão, mas esqueço-me muito”.

António Filipe é número dois da CDU por Lisboa, Paulo Raimundo é número um, mas os anos de campanha tornam-no uma cara mais fácil de reconhecer em Queluz. Não é caso único. O secretário-geral do PCP pode ser confundido por António Filipe, mas deixa saudades de outros dois comunistas bem conhecidos.

“Não gosto muito, não tem expressão, não tem luta, havia lá melhores escolhas, o que esteve lá fora no estrangeiro. João Ferreira? O João Ferreira! Ou o que esteve em Loures… o Bernardino Soares“. E os dois começam a discutir entre si sobre as qualidades e os defeitos de Paulo Raimundo, mas concordam no diagnóstico: “Venha quem vier, ninguém vai fazer nada.” A balança volta a ficar desequilibrada, Raimundo perde 6-4.

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo (D), durante uma ação de campanha da CDU em Queluz para as eleições de 10 de março, 29 de fevereiro de 2024. MIGUEL A. LOPES/LUSA

O secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo (D), durante uma ação de campanha da CDU em Queluz para as eleições de 10 de março, 29 de fevereiro de 2024. MIGUEL A. LOPES/LUSA

O resto da arruada foi feita em velocidade relâmpago. Algumas pessoas souberam reconhecer Paulo Raimundo, mas apenas com a ajuda do folheto da CDU, procuraram com um dedo a fotografia de Paulo Raimundo, ao lado da frase “É hora. Mais força à CDU”, sem saber dizer o nome, mas sabendo de que lado joga o secretário-geral do PCP. “Olhe, este não leva com o balde de tinta“, lembrando o que tinha acontecido com Luís Montenegro a pouco mais de 19km.

Entre os populares de Queluz havia ainda quem soubesse o nome do secretário-geral, por inteiro e sem gaguejar. “Claro que sei, estive a falar com ele, é o Paulo Raimundo” e pessoas que o tratavam apenas pelo primeiro nome. “É Paulo. Está aqui! Vejo-o sempre na televisão”. Durante a arruada que demorou pouco mais de meia-hora, num caminho que se consegue fazer em menos de dez minutos “o Paulo” chegou a ser confundido com Marcelo Rebelo de Sousa e colheu elogios de ser “um homem muito sério”.

E numa altura em que tem virado o discurso para os indecisos, pedindo “mais votos e mais força” na CDU a qualquer oportunidade, distribuiu os últimos dois panfletos, minutos antes de discursar junto à estação de comboios, mas sem sucesso.

Conhece este senhor? “Não. Eu disse-lhe que era PS, sou PS. Não me interessa nada disto”. O homem, de bigode farto e escuro, conhecia Álvaro Cunhal e Mário Soares, mas não o atual secretário-geral do PCP. No final, Paulo Raimundo passou no teste da popularidade, mas sem distinção. O Observador conversou com 21 pessoas, das quais 11 conheciam o líder comunista, 10 não faziam ideia de quem era (entre esta dezena, duas discutiam se o líder comunista é ou deveria ser António Filipe, João Ferreira ou Bernardino Soares).