Os mineiros da Panasqueira anunciaram uma greve às primeiras três horas de cada turno entre os dias 14 e 28 de março, por aumentos salariais e melhores condições de trabalho, mas a administração diz que os valores pedidos são incomportáveis.
O Sindicato dos Trabalhadores da Indústria Mineira considerou que as propostas da Beralt Tin and Wolfram Portugal, empresa que detém a exploração das minas no concelho da Covilhã, propriedade do grupo canadiano Almonty, “continuam a não responder às exigências dos trabalhadores”.
Depois de uma primeira ronda negocial, em cima da mesa está a exigência de um aumento salarial de 13%, o que corresponde a um mínimo de 110 euros, face aos 6% propostos pela empresa.
Além do vencimento, os mineiros reclamam a atualização do subsídio de turno, do subsídio de alimentação, a redução do horário de trabalho para 35 horas semanais e a disponibilização de um seguro de saúde.
Mário Matos, representante sindical, sublinhou, em declarações à agência Lusa, que em causa estão também “questões de segurança no fundo da mina, como os abrigos”, e a criação de condições para quem está dentro da mina poder “fazer uma refeição com dignidade“, além da exigência de um subsídio de risco para quem anda nas galerias, o que só acontece com alguns trabalhadores.
“Estas reivindicações não são nada a que a empresa não possa responder positivamente, ou que ponham em causa a sustentabilidade financeira da empresa”, sustentou Mário Matos.
Segundo o representante sindical, numa primeira fase os trabalhadores propuseram um aumento de 15% e o aumento dos subsídios de turno, enquanto a Beralt fez uma contraproposta inicial de 5% mais um aumento de 10 e cinco euros nos subsídios de turno, para mais tarde oferecer um aumento salarial de 6%, mas retirando da proposta a atualização do subsídio.
Mário Matos acentuou que essa proposta é menos vantajosa para os trabalhadores, que assim recebem “menos dinheiro”.
De acordo com o administrador da Beralt Tin and Wolfram, António Corrêa de Sá, o valor pedido pelos trabalhadores, de 13%, “não é comportável” para a empresa, que “tem um resultado negativo” e o valor pago pelo volfrâmio mantêm-se, além de as vendas contratadas para este ano serem inferiores às do ano passado, argumentou.
António Corrêa de Sá acrescentou ter solicitado a intervenção do ministério da tutela, para “uma tentativa de conciliação”, e espera “conseguir chegar a uma plataforma de entendimento”.
O administrador das Minas da Panasqueira, no distrito de Castelo Branco, admite chegar a acordo para um maior aumento do salário, embora sem retroativos desde janeiro.
Corrêa de Sá vincou que a paralisação às primeiras três horas de cada turno implica a paragem total da produção, porque “a unidade de tratamento de minérios não pode parar e arrancar” nessas horas, o que significa que sem vendas também não entram receitas, o que torna a situação “muito complicada”.
“A empresa ofereceu 6%, que é o dobro do que o Governo deu, é três vezes a inflação“, salientou o administrador.
Segundo Corrêa de Sá, os salários representam 48% dos custos totais da empresa, que tem 280 trabalhadores.
O representante sindical adiantou que cerca de 214 trabalhadores laboram dentro da mina e observou que a Almonty, que detém explorações mineiras também na Coreia do Sul e no Canadá, tem feito investimentos e planeia continuar a investir, além de estar previsto o “aumento da produção anual” das Minas da Panasqueira.