A Caixa Geral de Depósitos fechou o ano de 2023 com um lucro recorde de 1.291 milhões de euros, sobre o qual será pago um dividendo de 525 milhões ao Estado. No ano anterior a Caixa tinha tido lucros de 843 milhões, o que significa um aumento de 53% nos resultados. Tal como a generalidade dos outros bancos do sistema, o banco público beneficiou de um forte aumento da margem financeira – a diferença entre os juros cobrados nos créditos e as taxas pagas nos depósitos, em termos simples. A margem financeira praticamente duplicou, para 2.866 milhões de euros.
Os resultados foram apresentados esta sexta-feira, em Lisboa, por Paulo Macedo, presidente da comissão executiva cujo mandato termina no final deste ano e que, segundo o Correio da Manhã, pode ser um nome possível para ministro das Finanças de Luís Montenegro, caso o líder do PSD e da Aliança Democrática forme Governo na sequência das eleições de 10 de março.
Questionado pelos jornalistas sobre essa possibilidade de assumir um cargo governamental, Paulo Macedo garante que “não foi feito qualquer convite” nem “qualquer contacto”: “zero”, rematou.
O presidente do banco diz que “há um desejo de completar este trabalho, que é um trabalho essencial, de devolver o dinheiro aos portugueses e levar esta transformação” do banco em diante. O mandato de Paulo Macedo termina no final deste ano e o gestor garante estar “comprometido” com o mandato na comissão executiva do banco.
Um jornalista da SIC referiu que, de acordo com a informação do canal televisivo, poderia ser convidado para vice-primeiro-ministro (e não ministro das Finanças) – ao que Paulo Macedo respondeu com ironia, dizendo-se “satisfeito com o upgrade“.
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Recusando responder a mais questões sobre esse tema, Paulo Macedo reconheceu também que embora haja razões de calendário para só apresentar os resultados depois das eleições, “não é bom politizar a Caixa“, algo que poderia ter acontecido de forma mais intensa caso os resultados tivessem sido divulgados antes das eleições. O gestor lembrou que quando a Caixa tem lucros isso é bom porque “os lucros são do Estado” que, depois, pode decidir como aplicar esses rendimentos conforme as prioridades definidas por quem tem legitimidade democrática para fazer essas decisões.
Dividendos em dois anos superam 1,2 mil milhões
Paulo Macedo salientou, na conferência de imprensa a partir da (ainda) sede da CGD, que a juntar aos 525 milhões de euros de dividendo o banco pagou neste exercício 529 milhões de euros em impostos e 204 milhões em custos de supervisão. Além dos lucros na operação em Portugal, o banco destaca que o “resultado líquido das entidades internacionais detidas alcança um novo máximo em 2023 de 206 milhões, o maior valor deste século”.
No conjunto dos anos de 2023 e 2024, os dividendos superam 1,2 mil milhões de euros contribuindo de forma expressiva para o reembolso de 2,2 mil milhões de euros, 90% do valor do aumento de capital em dinheiro realizado em 2017″, salienta o banco.
Os lucros também beneficiaram da redução dos custos de estrutura para 1.021 milhões de euros, menos 182 milhões de euros do que no ano anterior (em 2022 houve uma transferência para o fundo de pensões que penalizou os custos nesse ano). “Excluindo fatores não recorrentes relacionados com o programa de reestruturação de pessoal, os custos com pessoal aumentaram 4%”, indica o banco.
Onde os resultados caíram foi nas comissões. “Num ano caracterizado pelo não agravamento de preçário e a aplicação de isenções em várias operações em Portugal, as comissões registaram um decréscimo de 42 milhões de euros (-7%) face a 2022″, diz o banco liderado por Paulo Macedo.
A Caixa Geral de Depósitos divulga na apresentação de resultados, também, que o banco renegociou 38.400 créditos à habitação, incluindo 21 mil renegociações comerciais e 17.400 mudanças para taxa fixa. Os 21 mil créditos renegociados representam 4,7% da carteira de crédito à habitação e aqueles que mudaram para taxa fixa são 3,9% da carteira. Há, ainda 5.600 clientes que recebem (do Estado) uma bonificação da taxa de juro e 3.500 que recebem a “bonificação adicional” que é atribuída pelo próprio banco.