O jogo era o mesmo, os 90 minutos não eram diferentes e o objetivo era igual. Contudo, os quartos de final da Taça de Inglaterra tinham significados, relevâncias e importâncias distintas para Manchester United e Liverpool: de um lado, os red devils tinham na competição a única possibilidade de conquistar um troféu esta temporada; do outro, os reds procuravam conquistar o segundo troféu da temporada e perseguir o sonho de ainda ganhar Premier League e Liga Europa.

O Manchester United recebia o Liverpool em Old Trafford vindo de uma vitória consistente contra o Everton, que embora alcançada através de dois penáltis deixou bem claro que a equipa de Erik ten Hag atravessa o momento mais equilibrado da época. Ainda assim, o treinador neerlandês tinha mesmo noção do óbvio: uma derrota este domingo, uma eliminação da Taça de Inglaterra, deixava os red devils sem qualquer título no final da temporada.

“Vamos ser corajosos e avançar até onde for possível. Sabemos que podemos explorar o espaço que aparece nas costas da defesa deles. Mas temos de chegar a esse ponto, temos de ser melhores do que eles, temos de pôr a bola no espaço e isso exige uma boa estratégia nos momentos-chave. Alguns jogos são maiores do que outros, claro. Acho que um Manchester United-Liverpool é sempre um grande jogo, mas ainda mais quando são os quartos de final da Taça”, disse Ten Hag na antevisão da partida.

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Já o Liverpool visitava o Manchester United em Old Trafford vindo de uma eliminatória descomplicada contra o Sparta Praga na Liga Europa, mas também de um empate com o Manchester City que deixou o Arsenal no topo da Premier League. Ainda assim, Jürgen Klopp também tinha noção do óbvio: uma derrota este domingo, uma eliminação da Taça de Inglaterra, deixava os reds sem um dos objetivos da temporada na despedida do treinador alemão.

“Tudo à nossa volta está a mudar, mas nós não mudámos. Jogámos sempre da forma pretendida e isso ajudou muito. Fizemos isso desde o primeiro dia da temporada e isso fez muita diferença. Encontrámos uma boa maneira de jogar com o grupo que temos e foi obviamente a maneira certa para toda a gente. É por isso que temos sido tão estáveis”, explicou Klopp, que tinha a primeira oportunidade para carimbar a vitória 300 enquanto treinador do clube.

Ora, neste contexto, Ten Hag lançava Bruno Fernandes, Rashford e Garnacho no apoio ao recuperado Højlund, sendo que Diogo Dalot e o jovem Kobbie Mainoo também eram titulares e Mason Mount surgia na convocatória pela primeira vez em vários meses. Do outro lado, Klopp tinha Luis Díaz, Darwin e Salah no trio ofensivo, contando ainda com Gravenberch e Gakpo no banco de suplentes.

O Liverpool até teve a primeira oportunidade do jogo, com Salah a rematar ligeiramente ao lado da baliza de Onana (9′), mas o Manchester United abriu o marcador ainda dentro do quarto de hora inicial: Garnacho apareceu na área descaído na esquerda, rematou cruzado para defesa de Kelleher e McTominay, oportuno na recarga, fez o primeiro golo do jogo (10′). Os red devils estavam melhor na partida, dominando o meio-campo e controlando as raras investidas do adversário, e tanto Bruno Fernandes (24′) como McTominay (36′) poderiam ter aumentado a vantagem.

Os reds deixaram o primeiro aviso já perto do intervalo, com Endo a marcar e o golo a ser anulado por fora de jogo de Salah (38′), mas a reviravolta acabou por não tardar. Mac Allister empatou pouco depois, com um remate forte que ainda desviou em Mainoo e traiu Onana (44′), e Salah deu a volta ao marcador já nos descontos com uma recarga após defesa do camaronês na sequência de um pontapé de Darwin (45+2′). Ao intervalo, apesar da superioridade do Manchester United, o Liverpool estava a vencer e tinha meio pé nas meias-finais da Taça.

Nenhum dos treinadores fez alterações ao intervalo e Darwin teve a primeira oportunidade da segunda parte, com um remate que Onana defendeu (48′), antes de o jogo partir e abrir a porta a alguma vertigem dos dois lados durante cerca de cinco minutos. O Liverpool conseguiu acalmar a intensidade da partida e assumir algum controlo das ocorrências, com o Manchester United a esticar-se apenas em transições rápidas, e o relógio ia avançando sem que o resultado se alterasse.

Ten Hag foi o primeiro a mexer, lançando Antony e Harry Maguire para os últimos 20 minutos, e Klopp respondeu com Harvey Elliott, Gakpo e Conor Bradley. Já à beira dos descontos, quando Old Trafford já se tinha resignado à eliminação, aconteceu o improvável: Garnacho desequilibrou até à grande área, Antony recebeu de costas para a baliza e rodou sobre dois adversários para rematar à meia-volta, empatando o jogo e levando a eliminatória para prolongamento (87′).

Na meia-hora extra, Harvey Elliott devolveu a vantagem ao Liverpool à beira do intervalo, com um remate de fora de área que ainda beneficiou de um desvio em Eriksen para trair Onana (105′), e Rashford voltou a empatar tudo para os red devils na segunda parte do prolongamento ao surgir isolado na cara de Kelleher (112′). O momento decisivo apareceu nos descontos: Amad Diallo, jovem costa-marfinense de 21 anos, recuperou a bola e esperou pela assistência de Garnacho para dar uma vitória épica ao Manchester United (120+1′). Quis a ironia do destino, porém, que tirasse a camisola no meio da emoção, visse o segundo cartão amarelo e acabasse expulso.

Assim, o Manchester United eliminou o Liverpool e juntou-se a Coventry, Chelsea e Manchester City nas meias-finais da Taça de Inglaterra, mantendo vivo o objetivo de ainda conquistar um título esta temporada e deixando os reds sem o sonho de vencer quatro troféus numa única época.