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O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, procurou este sábado implicar a Ucrânia no atentado que causou a morte a mais de uma centena de pessoas numa sala de espetáculos esta sexta-feira em Moscovo.
Na sua primeira intervenção pública depois do atentado, Vladimir Putin confirmou aos russos que “os quatro perpetradores diretos do ataque terrorista”, ou seja, “todos aqueles que balearam e mataram pessoas”, já tinham sido “encontrados e detidos”.
“Eles tentaram esconder-se e movimentaram-se na direção da Ucrânia, onde, de acordo com os primeiros dados, estaria preparada uma janela do lado ucraniano para eles passarem a fronteira”, afirmou Putin, dando assim a entender que os perpetradores do ataque, já reivindicado pelo Estado Islâmico, teriam agido em conluio com Kiev.
Putin confirmou a detenção de 11 pessoas e garantiu que os serviços de segurança da Rússia estão, neste momento, a “trabalhar no sentido de identificar e descobrir toda a base de cúmplices dos terroristas”, incluindo aqueles que garantiram os transportes e as rotas de evacuação para os terroristas.
O Presidente russo assegurou ainda que os terroristas “não têm futuro”, já que os espera uma dura punição pelo “bárbaro e sangrento ataque terrorista”.
“O dever dos russos agora é estar unidos e é assim que vai ser. Ninguém pode abalar a unidade dos cidadãos russos”, afirmou Putin no breve discurso em que também declarou domingo como dia de luto nacional. “A Rússia tornou-se sempre mais forte nos períodos mais difíceis e vai ser assim agora.”
Antes da intervenção de Vladimir Putin ao início da tarde deste sábado, vários responsáveis russos já tinham procurado, mesmo que indiretamente, imputar à Ucrânia alguma responsabilidade pelo ataque terrorista.
As primeiras notícias sobre o ataque começaram a surgir ao final do dia de sexta-feira, quando já passava das 20h em Moscovo (17h em Lisboa), e apontavam para a existência de vários feridos num tiroteio numa das salas de espetáculos mais conhecidas da capital russa, o Crocus City Hall.
Algumas horas depois, já se sabia que não seriam apenas feridos. Pelo menos três atacantes tinham entrado na sala de espetáculos e aberto fogo sobre a plateia que se preparava para assistir a um concerto. Na manhã de sábado, os números já apontavam para pelo menos 115 mortos e mais de uma centena de feridos no hospital. O telhado da sala de espetáculos colapsou na sequência do incêndio provocado pelos atacantes.
Às primeiras horas da manhã de sábado, as autoridades russas revelaram que já tinham detido 11 suspeitos, incluindo quatro diretamente envolvidos no ataque. Dois dos detidos terão sido capturados durante uma perseguição automóvel quando já se encontravam a vários quilómetros de Moscovo, na região de Bryansk, a caminho da fronteira ucraniana.
Nas primeiras horas depois do ataque, Vladimir Putin manteve o silêncio, quebrado apenas para transmitir pelos serviços de informação uma mensagem de melhoras às vítimas hospitalizadas. Putin também tinha optado por não reagir oficialmente quando o Estado Islâmico reivindicou a autoria do atentado através de uma mensagem em que confirmou que atacou “um grande número de cristãos” na capital russa. A atribuição do ataque ao Estado Islâmico foi confirmada também pelas autoridades americanas.
Ainda assim, a Rússia procurou manter no ar a ideia de suspeição relativamente à Ucrânia, alimentada pelo facto de dois dos suspeitos terem sido detidos a dezenas de quilómetros de Moscovo, nas proximidades da fronteira ucraniana.
Segundo a BBC, na manhã deste sábado os serviços de informação da Rússia estavam a veicular a informação de que os detidos tinham o objetivo de “passar para a Ucrânia”, porque tinham “contactos do lado ucraniano”. A partir daí, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, aproveitou para tentar colar o atentado terrorista à Ucrânia.
“O mais importante é que as autoridades americanas não se esqueçam como o seu ambiente informativo e político associou os terroristas que mataram pessoas no Crocus City Hall à associação terrorista Estado Islâmico”, disse Zakharova numa mensagem no Telegram.
“Agora, sabemos em que país é que aqueles malditos bastardos planeavam esconder-se da perseguição: a Ucrânia”, acrescentou. “O mesmo país que, às mãos dos regimes liberais ocidentais, se transformou durante dez anos no epicentro da disseminação do terrorismo na Europa, ultrapassando até o Kosovo no extremismo.”
As reações desta manhã seguiram-se a ameaças mais vagas deixadas ainda no sábado. O antigo Presidente russo Dmitry Medvedev, por exemplo, tinha dito que, caso a Ucrânia estivesse por trás do ataque, haveria uma resposta à altura: “Morte por morte.”
Ainda assim, logo desde o aparecimento das primeiras notícias sobre o atentado, Kiev fez questão de assinalar que não tinha qualquer envolvimento no ataque. Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente ucraniano, publicou um vídeo a garantir que a Ucrânia não tinha anda a ver com os acontecimentos de Moscovo.
Já este sábado, Kiev voltou a distanciar-se do atentado, classificando como “mais uma mentira” por parte da Rússia a tentativa de associar o ataque à Ucrânia. Citado pela Agência Reuters, Andriy Yusov, um alto responsável dos serviços de informação da Ucrânia, rejeitou as acusações que têm sido feitas por Moscovo. “É, obviamente, mais uma mentira por parte dos serviços especiais da Rússia, que não tem qualquer relação com a realidade e que não resiste a qualquer crítica”, disse.
“A Ucrânia, obviamente, não esteve envolvida neste ataque terrorista. A Ucrânia está a defender a sua soberania dos invasores russos, a libertar o seu próprio território e a lutar contra o exército e os alvos militares do ocupante, não contra os civis”, acrescentou. Os Estados Unidos também já disseram não acreditar no envolvimento da Ucrânia no ataque a Moscovo.