Levar três frascos de champô cheios de cocaína líquida em troca de seis mil euros. Foi isso que terão prometido a Rui Viana e o que o fez embarcar no Funchal, Madeira, com destino à Indonésia, onde acabou por ser detido por suspeitas de tráfico de droga – crime que, no país, pode levar à pena de morte. A informação foi publicada em vários jornais indonésios, como os portais Berita Satu e Antara, que citam declarações de responsáveis da investigação numa conferência de imprensa. Ao mesmo tempo, os suspeitos receberam uma segunda visita por parte dos serviços consulares de Portugal, revelou ao Observador o Ministério dos Negócios Estrangeiros.

A conferência de imprensa da Direção de Investigação ao Narcotráfico da Polícia Metropolitana de Jacarta – a Ditres Narkoba – deu esta segunda-feira mais detalhes sobre o caso, tendo sido tornado público que os dois suspeitos desempenhavam funções diferentes na suposta “rede de tráfico internacional” e que, por isso, foram detidos em locais e em dias distintos.

Dois jovens portugueses detidos por tráfico de droga na Indonésia onde crime é punido com pena de morte

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Prendemos um homem com as iniciais RPAV [referindo-se a Rui Viana, que segundo o Jornal da Madeira é filho do antigo futebolista português Rui Óscar, que jogou pelo FC Porto, Marítimo e Boavista] no dia 17 de março, que atuava como estafeta”, explicou o diretor da Ditres Narkoba, Kombes Pol Hengki, citado pelos portais  indonésios Berita Satu e Antara, acrescentando que, em troca, terá recebido “um pagamento de seis mil euros”.

O suspeito, segundo apurou a investigação, foi abordado no terminal de chegadas do Aeroporto Internacional Soekarno Hatta, em Jacarta, tendo sido interrogado pelos agentes da Alfândega e dos Impostos Especiais sobre o Consumo. Quando os agentes foram inspecionar a mala de Rui Viana, madeirense de apenas 20 anos que vestia a camisola do Câmara de Lobos, terão encontrado três frascos de champô, tendo uma análise posterior ao líquido dado positivo para a cocaína.

[Já saiu o quarto episódio de “Operação Papagaio” , o novo podcast plus do Observador com o plano mais louco para derrubar Salazar e que esteve escondido nos arquivos da PIDE 64 anos. Pode ouvir o primeiro episódio aqui, o segundo episódio aqui e o terceiro episódio aqui]

“Um dos frascos de champô continha cocaína líquida com um peso bruto de 977,2 mililitros ou 1005,4 gramas. Um segundo frasco com um peso bruto de 709,3 mililitros ou 729,7 gramas. E o outro frasco de champô pesava 912,4 mililitros ou 938,7 gramas. Portanto, a [quantidade total de] cocaína era 2.598,9 mililitros ou 2.673,8 gramas“, explicou o diretor.

Já o outro português, identificado nas notícias daquele país com iniciais FMGS, de 37 anos, seria o “destinatário do carregamento” e foi detido em Bali, após a detenção de Rui Viana, não tendo sido divulgadas mais informações sobre este suspeito.

O modus operandi  e as possíveis condenações

A forma como a cocaína foi transportada da Madeira para a Indonésia ajudou a que as autoridades chegassem mais depressa ao modus operandi da rede de tráfico de droga.

“Consiste em camuflar a cocaína líquida num frasco de champô para, mais tarde, ser despejada num recipiente e ser deixada a secar até ficar cristalizada“, revelou Kombes Hengki. “Normalmente, é assim que transformam a cocaína líquida em cristais, por aquecimento ou secagem”, acrescentou.

Na mesma operação, os agentes apreenderam ainda “1,2 quilos de metanfetaminas e 1,5 quilos de MDMA em pó”, tendo detido mais três suspeitos de nacionalidades desconhecidas – um “estafeta”, com as iniciais NK, e dois “destinatários do carregamento”, AM e LS.

As autoridades apreenderam ainda os dois passaportes dos portugueses, três telemóveis, seis mil euros em dinheiro – o pagamento que Rui Viana terá recebido pelo transporte da cocaína –, 200 mil rupias indonésias (o equivalente a 11,69€), duas balanças digitais, quatro taças de vidro e uma prensa.

Os suspeitos, segundo a Polícia Metropolitana de Jacarta, foram acusados do crime de tráfico de estupefacientes, podendo ser condenados a uma “pena mínima de cinco anos de prisão e máxima de 20 anos de prisão”.

Apesar de na conferência de imprensa não ter sido feita qualquer referência a prisão perpétua ou pena de morte, de acordo com os dois jornais, a legislação da Indonésia prevê estas penas para crimes relacionados com o tráfico de droga internacional.

Os dois portugueses detidos já receberam duas visitas consulares na prisão, estando a ser feito um acompanhamento do caso por parte da Embaixada de Portugal em Jacarta, informou ao Observador fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros, reforçando estar a prestar toda a colaboração não só aos dois detidos, como às respetivas famílias.

Portugueses detidos na Indonésia receberam visita consular na prisão

A mesma fonte disse não haver ainda data para os suspeitos serem presentes a tribunal, sublinhando que não se prevê que aconteça em breve.