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Da revolução à liberdade, das ruas ao TikTok: seis espetáculos para ver em abril

Este artigo tem mais de 6 meses

No aniversário dos 50 anos do 25 de Abril, a revolução celebra-se no palco. Todas as palavras ditas no Parlamento, o fado de ser português e a liberdade dão mote aos espetáculos para ver este mês.

Ensaio da peça “Fado Alexandrino”, de António Lobo Antunes, com encenação e dramaturgia de Nuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional São João
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Ensaio da peça “Fado Alexandrino”, de António Lobo Antunes, com encenação e dramaturgia de Nuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional São João

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

Ensaio da peça “Fado Alexandrino”, de António Lobo Antunes, com encenação e dramaturgia de Nuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional São João

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

“Fado Alexandrino”

De António Lobo Antunes, encenação de Nuno Cardoso | Teatro Nacional São João, Porto, de 5 a 28 de abril

Grande romance de António Lobo Antunes, Fado Alexandrino, publicado pela Dom Quixote em 1983, serve a Nuno Cardoso de pretexto para construir um um espetáculo que é, descreve-se na folha de sala, “uma alegoria sobre o fado de ser português”. Como adaptar este texto imenso, rico em elipses, mudanças de pontos de vista ao teatro?

O encenador Nuno Cardoso, diretor artístico do Teatro Nacional de São João, no Porto, durante os ensaios de "Fado Alexandrino", peça criada a partir do livro homónimo de António Lobo Antunes, por muitos considerado o grande romance sobre o 25 de Abril

IGOR MARTINS / OBSERVADOR

O encenador e diretor artístico do Teatro Nacional de São João, no Porto, aponta à história do Portugal recente, mais precisamente ao antes, durante e depois da Revolução dos Cravos, respeitando o ponto de partida do quinto romance de Lobo Antunes: cinco ex-combatentes em África reencontram-se, dez anos depois, e cruzam histórias sobre como a Guerra Colonial lhes moldou as vidas até ao presente, “do regime fascista à instauração da democracia, passando pelo horror de África e pelos infernos privados de cada um”, detalha a sinopse.

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Teatro Nacional São João, Porto, 5 a 28 de abril, quarta, quinta e sábado, às 19h, sexta, às 21h, domingo, às 16h. Bilhetes entre €7,5-16

“The Confessions”

De Alexander Zeldin | Centro Cultural de Belém, Lisboa, 5 e 6 de abril

“Não sou interessante”, diz uma mulher de cabelos brancos. “Sou uma senhora idosa, o que é que eu tenho de interessante?”. Alexander Zeldin, uma das mais proeminentes figuras da dramaturgia britânica contemporânea, discorda. Conhecido sobretudo pela trilogia sobre desigualdades sociais — Beyond CaringLove e Faith, Hope and Charity —, o inglês está de volta a Portugal com uma nova peça, o seu trabalho mais focado e pessoal até à data, inspirado na história de vida da sua mãe e a partir de conversas que teve com esta durante a pandemia. The Confessions é a epopeia de uma mulher comum, mas também um olhar sobre a emancipação feminina e a opressão das mulheres no século XX.

Encerrada a trilogia de peças sobre desigualdades, Alexander Zeldin escreveu "The Confessions", uma peça profundamente pessoal, inspirada em conversas que teve com a mãe durante a pandemia

RAYNAUD DE LAGE Christophe

As dores, os amores, as tragédias e os sonhos de uma mulher perfeitamente normal que provocam iguais doses de revolta e comoção num espetáculo que, em suma, revela o heroísmo da vida mundana. “Queria dar a uma vida comum uma espécie de grande tela”, contou o dramaturgo ao Observador.

Centro Cultural de Belém (CCB) — Grande Auditório, Lisboa, 5 e 6 de abril, sexta-feira, às 21h, sábado, às 19h. Bilhetes entre €21-35

“Idiota”

De Marlene Monteiro Freitas | Teatro Aveirense, Aveiro, 5 e 6 de abril

Marlene Monteiro Freitas coloca-se dentro de uma caixa de vidro que a expõe aos olhares alheios. Neste solo, a bailarina e coreógrafa dialoga com a obra do pintor e escultor cabo-verdiano Alex da Silva, falecido em 2019 — a performance é uma encomenda do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design do Mindelo, em Cabo Verde, onde nasceu a artista portuguesa premiada com o Leão de Prata da Bienal de Veneza (2020).

Inspirado no mito da caixa de Pandora, "Iditota" estreou-se em 2022, em Bruxelas, na Bélgica. Entretanto, já se mostrou em palcos em Espanha, França ou Cabo Verde, de onde é natural a coreógrafa e bailarina

Nesta caixa que é simultaneamente um lugar de aprisionamento e libertação, evocam-se memórias das Exposições Universais, em que os indígenas eram exibidos para deleite da curiosidade ocidental. Idiota bebe também inspiração ao mito de Pandora, mulher da mitologia grega que carregava uma caixa fechada que estava proibida de abrir, mas que a curiosidade a impeliu a espreitar. E assim se soltaram todos os males que passaram a existir no mundo. Idiota, a personagem, entrou na caixa mitológica — o desafio é sair. Depois de uma apresentação fugaz na Fundação Gulbenkian, em janeiro, a performance mostra-se em Aveiro enquadrada na programação de Aveiro 2024 — Capital Portuguesa da Cultura.

Teatro Aveirense, Aveiro, 5 e 6 de abril, sexta-feira e sábado, 21h30. Bilhetes a € 7,50

“Guião Para um País Possível”

De Sara Barros Leitão. Teatro do Bairro Alto, Lisboa, 12 e 14 de abril; Teatro Viriato, Viseu, 19 e 20 de abril; Teatro Sá da Bandeira, Santarém, 26 de abril

De todas as palavras ditas na Assembleia da República, Sara Barros Leitão fez uma peça de teatro. Guião Para um País Possível, a sua mais recente criação, perscruta tudo o que foi dito dentro do Parlamento nos 50 anos de democracia em Portugal, através das atas redigidas por dois funcionários que, entre as bancadas dos deputados e a tribuna com membros do Governo, exatamente a meio da sala, transcrevem tudo o que ali é dito: discursos, intervenções, apartes, insubordinações e até gestos. Tudo consta nos milhares de páginas que registam debates, assembleias constituintes, votações, avanços e recuos nos direitos sociais, laborais e humanos.

Em "Guião Para um País Possível", Sara Barros Leitão mergulha nas intervenções parlamentares feitas desde o 25 de abril. João Melo e Margarida Carvalho (na fotografia) vestem a pele dos dois funcionários que têm a missão de transcrever tudo o que é dito no Parlamento

Teresa Pacheco Miranda

A peça, a primeira criação da encenadora e atriz (Teoria das Três Idades, Monólogo de uma mulher chamada Maria com a sua patroa) em que a própria não toma o palco, é levada à cena pelos atores João Melo e Margarida Carvalho. O espetáculo, em périplo nacional, tem esgotado por onde passa, largas semanas antes de subir a palco.

TBA — Teatro do Bairro Alto, Lisboa, 12 a 14 de abril, sexta e sábado, às 19h30, domingo, às 17h30. Bilhetes esgotados; Teatro Viriato, Viseu, 19 e 20 de abril, sexta, às 21h, sábado, às 17h. Bilhetes entre €5-10; Teatro Sá da Bandeira, Santarém, 26 de abril, sexta-feira, 21h30. Bilhetes esgotados.

“Na Medida do Impossível”

De Tiago Rodrigues | Culturgest, Lisboa, 17 a 25 de abril

Depois do sucesso de Catarina e a Beleza de Matar Fascistas, Tiago Rodrigues, encenador e diretor do Festival de Avignon, regressa a Portugal com um novo espetáculo, a partir de um “fascínio” por trabalhadores em ajuda humanitária, “pessoas que curam, que tomam conta do outro”, cuja natureza do trabalho é “ultrapassar o profissional”.

Tiago Rodrigues: “Se tivesse as respostas, fazia política. Como não tenho, faço teatro, faço perguntas”

Um convite da Comédie de Genève levou-o à criação de Na Medida do Impossível (Dans la mésure de l’impossible, no original), um espetáculo concebido a partir de entrevistas com pessoas que trabalham no Comité Internacional da Cruz Vermelha e nos Médicos Sem Fronteiras.

"Dans la mésure de l’impossible" é o título original do espetáculo, que se estreou em Genebra, na Suíça, em 2022. As apresentações em Lisboa encerram uma digressão de dois anos que levou o espetáculo a teatros e festivais em todo o mundo

Magali Dougados

Em palco, as personagens partilham as suas vivências entre os dois mundos: o “possível” e o “impossível”, com a consciência de que estes dois estão sempre a mudar. Dans la mésure de l’impossible estreou em Genebra, em 2022. As apresentações em Lisboa encerram uma digressão de dois anos que levou o espetáculo a teatros e festivais em todo o mundo.

Culturgest, Lisboa, 17 a 25 de abril, quarta e sábado, às 19h, quinta e sexta, às 21h, domingo, às 17h. Bilhetes a €20.

“Zona Franca”

De Alice Ripoll | Palácio do Bolhão, Porto, 23 e 24 de abril

Cabe ao espetáculo da coreógrafa brasileira Alice Ripoll abrir a edição deste ano do DDD — Festival Dias da Dança, que de 23 de abril a 5 de maio ocupa vários espaços do Porto, de Gaia e de Matosinhos. Zona Franca dá continuidade à pesquisa iniciada nos espetáculos anteriores, Suave e Cria, sobre a relação das danças urbanas e populares do Brasil, cruzando-as com a dança contemporânea, o teatro e o canto.

"Zona Franca", da coreógrafa brasileira Alice Ripoll, é o espectáculo de abertura da oitava edição do DDD – Festival Dias da Dança, que acontece entre 23 de abril e 5 de maio, em vários espaços do Porto, de Gaia e de Matosinhos

Do que está na rua ao que vemos no TikTok, “que vozes falam essas danças?”, questiona Alice Ripoll, que vem reivindicando uma “zona franca” no mundo da dança, sem fronteiras entre dança, teatro, música e performance. No palco, com liberdade, vários intérpretes entregam-se à festa, com balões e confettis. Abrir é o mês de celebrar.

Palácio do Bolhão, Porto. 23 e 24 de abril, terça e quarta-feira, às 19h30. Bilhetes a €9.

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