O dono do X (antigo Twitter), Elon Musk, recorreu à sua conta pessoal naquela rede social para anunciar que foi contactado pela Câmara dos Representantes norte-americana relativamente “às ações levadas a cabo no Brasil”. O magnata refere-se ao recente caso da divulgação de emails confidenciais — em que a Justiça brasileira terá pedido à empresa para apagar determinadas publicações ou banir alguns utilizadores específicos. 

De acordo com Elon Musk, foram “centenas, se não milhares” de violações da lei que a Justiça brasileira cometeu. “Isto está a ficar picante”, disse ainda. Noutra publicação no X, o magnata voltou a chamar “ditador” a Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral brasileiro, que terá sido o responsável por pedir a eliminação das publicações e das contas da rede social.

O magnata revelou mais detalhes sobre os pedidos que o X (que, na altura, se designava de Twitter e não era detido por Elon Musk) terá recebido da Justiça brasileira. Segundo Elon Musk foi pedido à rede social que se suspendessem contas de “membros do parlamento brasileiro e muitos jornalistas”.  “A nossa preocupação é que nos peçam para fazer coisas que são ilegais. Estão a pedir-nos para fazer coisas que diretamente violam a lei”, prosseguiu, acrescentando: “Estão a pedir para suspendermos contas e filtrar conteúdo. E para não dizermos nada sobre isso”.

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Neste sentido, jornal Globo apurou que, desde 2019, Alexandre de Moraes determinou a suspensão de pelo menos 68 perfis nas redes sociais, alguns dos quais no X. A maioria desses bloqueios (35) ainda permanece ativo, enquanto 19 foram entretanto levantados.

Apesar de todas as críticas lançadas por Elon Musk desde o último fim de semana, Alexandre de Moraes mantém a mesma posição. Esta quarta-feira, o juiz afirmou que tem a “absoluta convicção” de que o “Supremo Tribunal Federal, a população brasileira, as pessoas de bem sabem que liberdade de expressão não é liberdade de agressão”. “Sabem que liberdade de expressão não é liberdade para a proliferação do ódio, do racismo, misoginia, homofobia. Sabem que liberdade de expressão não é liberdade de defesa da tirania.”

Por sua vez, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, saiu em defesa de Alexandre de Moraes. Salientando o “crescimento do extremismo de direita”, o Chefe de Estado criticou Elon Musk, que definiu como um “empresário americano que nunca produziu um pé de capim” no Brasil. E atacou o magnata por falar “mal” da Justiça brasileira, dos “ministros brasileiro e do povo brasileiro”: “Não é possível”.

Entretanto, o caso já chegou ao Parlamento Europeu. Alguns deputados do Partido Liberal — o mesmo do antigo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro — visitaram o órgão comunitário e reuniram-se com os eurodeputados da família política dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR, sigla em inglês) para expor o sucedido. Um deles foi mesmo o filho do antigo Chefe de Estado, Edurado Bolsonaro.

Uma das deputadas presentes, Bia Kicis, escreveu no X que se reuniu com “parlamentares conservadores que lutam pela liberdade” e que veem na “censura à liberdade de expressão uma grande ameaça à democracia”.

Segundo lote dos Twitter Files revelado

Durante esta madrugada foram revelados mais ficheiros do processo Twitter Files. O utilizador do X, Eli Vieira, denunciou que o youtuber e influencer Felipe Neto — que declarou o seu apoio a Lula da Silva nas últimas presidenciais e até integrou campanhas do governo quando o Chefe de Estado chegou ao Palácio do Planalto — “tinha acesso privilegiado ao Twitter, ao ponto de um funcionário sénior ter proposto uma conversa particular entre ele e Yoel Roth, na época chefe de segurança da rede social”.

Esse funcionário sénior era Fernando Gallo, “que hoje ocupa cargo semelhante no escritório brasileiro da rede social TikTok”, que queria, em 2021 juntamente com Felipe Neto, que se investigasse e se “banisse permanentemente” a conta do jornalista Allan dos Santos, associado ao antigo Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro.

No entanto, Yoel Roth não levou a cabo uma investigação, o que “irritou sobremaneira Felipe Neto”, diz Eli Vieira. “Gallo então convidou Roth para mais uma conversa com Neto: ‘Embora haja alguns riscos, nós e a equipa de comunicações queríamos ver se estaria aberto a uma conversa em off com ele, para que ele sinta que foi ouvido'”.

Certo é que nunca foi possível determinar se houve efetivamente um “encontro entre Yoel Roth e Felipe Neto”. De todo o modo, segundo Eli Vieira, os emails mostram que o “influencer” tentou usar a sua “influência” para banir uma conta de alguém próximo de Jair Bolsonaro.

Artigo corrigido e atualizado às 11h49 com mais informações e com a correção relativamente ao tweet de Bia Kicis