A Rússia destruiu esta quinta-feira por completo a maior central elétrica da Ucrânia. É o mais recente ataque numa guerra que, nos últimos meses, se tem concentrado especialmente nas insfraestruturas de energia: tanto a Ucrânia como a Rússia já conseguiram infligir danos consideráveis às estruturas energéticas, incluindo centrais elétricas e refinarias de petróleo, do oponente.

Na quinta-feira, a central térmica de Trypilska, que é a principal fonte de abastecimento elétrico à capital ucraniana, Kiev, ficou totalmente destruída na sequência de um ataque com drones e mísseis russos. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou os países ocidentais de ignorarem os reiterados pedidos de ajuda por parte de Kiev para reforçar a defesa aérea do país: a Rússia disparou um total de 82 mísseis e drones, mas a Ucrânia só foi capaz de interceptar 18 mísseis e 39 drones.

O ataque não causou vítimas mortais nem sequer provocou cortes de energia em Kiev, mas resultou num prejuízo assinalável para aquela que era a maior infraestrutura de produção elétrica do país. “A escala da destruição é terrível”, disse a empresa Centrenergo, que explora a central, em comunicado. “É impossível estimá-la em dinheiro. É o maior desafio para nós em toda a história da empresa.”

Não é novidade esta estratégia da Rússia para visar infraestruturas elétricas nos seus ataques. Já desde o início da guerra, em 2022, que a Rússia tem atacado e assumido o controlo de infraestruturas de produção de eletricidade — com especial destaque para o controlo da central nuclear de Zaporíjia, no leste da Ucrânia —, para controlar e limitar o acesso à energia e fazer vergar os ucranianos, sobretudo durante o inverno.

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Rússia praticamente destruiu 10 centrais elétricas ucranianas nas últimas semanas

Como explicava esta semana o Financial Times, a Rússia terá mudado recentemente a sua tática de ataque a estruturas elétricas. Está, nas últimas semanas, a apostar no uso de mísseis de precisão para atingir estações elétricas em diferentes regiões do país, com o objetivo de causar danos permanentes e irreparáveis, impossibilitando que as centrais estejam em funcionamento a tempo do próximo inverno.

De acordo com aquele jornal, só entre 22 e 29 de março a Rússia atingiu sete centrais térmicas na Ucrânia — a que se junta agora o ataque destrutivo à central de Trypilska. Além das centrais térmicas, foram atingidas também duas centrais hidroelétricas.

O FT explicava também que, para já, a Ucrânia não revelou o grau de destruição registado em cada uma das centrais atacadas. Porém, várias fontes confirmaram que muitas delas ficaram próximas da destruição total — e as empresas de energia ucranianas estão a trabalhar no sentido de recuperar a maior capacidade de produção elétrica possível.

De acordo com explicações dadas ao FT por Maxim Timchenko, o presidente da DTEK, a maior empresa energética da Ucrânia, só aquela empresa perdeu cerca de 80% da sua capacidade produtiva nos ataques de março e teve de parar por completo o funcionamento de cinco centrais térmicas.

Só não houve cortes de energia na Ucrânia (como sucedeu em 2022 e 2023) devido ao tempo quente que se tem sentido, às importações de energia dos países da União Europeia e do aumento da produção de energia renovável, disse ainda Timchenko.

Ucrânia lançou nove ataques contra refinarias russas este ano

Mas a guerra pela energia não se joga apenas em território ucraniano. Nos últimos meses, a Ucrânia tem aumentado a sua capacidade de lançar ataques dentro do território russo — e os alvos escolhidos também têm sido essencialmente estruturas ligadas à produção de energia, concretamente ao petróleo.

Esta quinta-feira, o The Economist dava conta de como os ataques ucranianos às refinarias de petróleo estão a causar fortes impactos à indústria petrolífera da Rússia: aquele que é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo está, neste momento, a ser forçado a importar petróleo. Este impacto sentiu-se especialmente no dia 2 de abril, quando a Ucrânia atacou a terceira maior refinaria de petróleo da Rússia, incendiando uma unidade que é responsável por cerca de 3% da capacidade total de refinação de petróleo do país.

Mas aquele foi só o mais recente de uma série de ataques ucranianos contra a Rússia nos últimos meses, à medida que a Ucrânia tem desenvolvido drones com capacidade para atingir pelo menos mil quilómetros dentro do território russo.

De acordo com o Financial Times, desde 2022 a Ucrânia já lançou 12 ataques contra grandes refinarias russas — dos quais nove aconteceram já este ano de 2024. O jornal identificou praticamente três dezenas de alvos atingidos pela Ucrânia em território russo. Além de refinarias de petróleo, foram também atingidas outras estruturas, incluindo armazéns, terminais e outras estruturas de menor dimensão.

Mas estes ataques ucranianos contra o território russo não têm sido bem recebidos no mundo ocidental. A Rússia é um dos mais importantes produtores e exportadores de petróleo do mundo — e um ataque sistemático à sua capacidade de produção acarreta o risco de fazer subir o preço do petróleo a nível global. Este ano, os preços já subiram em 15%, o que se traduz depois no aumento do preço dos combustíveis.

Por essa razão, os Estados Unidos já vieram pedir à Ucrânia que interrompa os ataques às refinarias de petróleo russas. Através de avisos enviados através dos canais de comunicação entre os serviços secretos, Washington alertou Kiev para o risco dos ataques ucranianos (que têm como objetivo atingir a economia russa) para a economia global.