O presidente do Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto, instituição com 50 anos, destacou a investigação clínica e a medicina de precisão como “apostas críticas” na atração de investimento, na diferenciação de cuidados e na retenção de profissionais.

O cancro é uma doença que tem tendência a aumentar (…). Esta é uma área que obriga a um muito maior investimento em conhecimento que nos leve a conhecer melhor a doença e, dessa forma, desenvolver armas terapêuticas para a combater, oferecendo mais anos com qualidade de vida aos doentes”, disse Júlio Oliveira.

No âmbito do 50.º aniversário do IPO do Porto, o presidente de um centro oncológico reconhecido pela Organização Europeia de Institutos de Oncologia (OECI), destacou o empenho deste hospital especializado na integração da investigação no contínuo de cuidados “não de forma esporádica, mas sistemática”.

“Por exemplo, a percentagem de doentes incluídos em ensaios clínicos é uma variável de avaliação da qualidade dos grandes centros que querem ser centros de referência em oncologia”, referiu.

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O IPO do Porto tem 481 doentes incluídos em ensaios clínicos e desses 26 são de fase 1.

Trata-se de permitir que os doentes tenham acesso a novos medicamentos, a novas estratégias terapêuticas. Isto tem impacto na melhoria da organização, na melhoria da do padrão assistencial, e, consequentemente, na melhoria dos resultados em saúde que se obtém”, acrescentou.

Júlio Oliveira anunciou também a criação, em parceria com instituições da cidade, de uma associação para gerir “de forma autónoma e ágil os recursos na área da investigação clínica”.

Sem investigação não conseguimos expandir a linha de fronteira em termos de sobrevivência e qualidade de vida (…). Existem várias limitações da forma como as instituições públicas, nomeadamente as instituições do SNS [Serviço Nacional de Saúde], são geridas e que entram em conflito com a necessária competitividade de que é preciso ter neste contexto internacional”, disse o presidente do IPO do Porto.

Em entrevista à agência Lusa, Júlio Oliveira, que preside ao IPO do Porto desde 2022 e é médico na instituição desde 2007, destacou também a aposta na medicina de precisão em oncologia, uma área que permite que os doentes, adultos e crianças, que atinjam a última linha de tratamento convencional e a partir daí já não disponham de opções convencionais, tenham acesso a tecnologias inovadoras.

“O IPO do Porto desenvolveu o primeiro programa de medicina de precisão em oncologia em Portugal (…). Tenta-se obter uma espécie de bilhete de identidade do tumor, caracterizando-o biologicamente para tentar encontrar fragilidades nesse tumor que possam servir para orientar tratamentos. Isto em contexto de ensaio clínico ou utilizando medicamentos que possam estar disponíveis comercialmente, mas que estão só aprovados para o outro tipo de doença que não aquela que o doente tem”, descreveu.

Este programa envolve profissionais da anatomia patológica, genética humana, oncologia, pediatria, cirurgia, farmacologia clínica, biólogos, farmacêuticos, entre outros.

Júlio Oliveira revelou, ainda, a intenção de criar, “a médio prazo”, um centro de treino em cirurgia oncológica robótica.

Durante a entrevista à agência Lusa, Júlio Oliveira revelou que as peças para aquisição do primeiro robot cirúrgico “já estão prontas para concurso”, estando o investimento apenas dependente de uma autorização da administração central. “E será apenas o primeiro. Está no nosso plano de investimentos a aquisição de mais sistemas robotizados”, referiu.

Atualmente, no IPO do Porto são realizadas, por ano, entre 11.000 a 12.000 cirurgias. De acordo com um relatório da Direção-Geral da Saúde (DGS) de 2021, este é o hospital do país que mais cirurgias oncológicas realiza.