Os números não mentem, mas também têm a particularidade de serem cruéis. Com a vitória do Sporting em Famalicão, o FC Porto ficou matematicamente afastado da conquista do Campeonato — mas é bem mais do que isso. Com a vitória do Sporting em Famalicão, o FC Porto ficou a 18 pontos do primeiro lugar a cinco jornadas do fim da temporada, o que significa que já está a fazer a pior época da era Jorge Nuno Pinto da Costa. E o que dava ainda mais importância ao jogo desta quarta-feira.

No Dragão, depois da vitória de há duas semanas no D. Afonso Henriques, o FC Porto recebia o V. Guimarães na segunda mão da meia-final da Taça de Portugal e disputava o passaporte para a final do Jamor — ou seja, disputava a última oportunidade de lutar por um troféu e não tornar a temporada completamente vazia. Vindos de três jornadas do Campeonato sem vencer, porém, os dragões tiveram uma semana particularmente complexa que culminou com o afastamento de Jorge Sánchez, Iván Jaime, Toni Martínez e André Franco por parte de Sérgio Conceição.

Ficha de jogo

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FC Porto-V. Guimarães, 3-1 (4-1 no conjunto das duas mãos)

Meia-final da Taça de Portugal

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

FC Porto: Cláudio Ramos, João Mário, Pepe, Otávio, Wendell, Nico González (Wendel Silva, 86′), Alan Varela, Francisco Conceição (Stephen Eustáquio, 86′), Pepê (Gonçalo Borges, 78′), Galeno (Romário Baró, 69′), Taremi (Danny Namaso, 86′)

Suplentes não utilizados: Gonçalo Ribeiro, Grujic, João Mendes, Zé Pedro

Treinador: Sérgio Conceição

V. Guimarães: Charles, Jorge Fernandes (Mikel Villanueva, 69′), Borevkovic, Manu Silva, Bruno Gaspar, Tomás Händel, Tiago Silva, Afonso Freitas (Miguel Maga, 45′), Jota Silva, Nuno Santos (André André, 69′), Nélson Oliveira (Kaio César, 45′)

Suplentes não utilizados: Bruno Varela, Tomás Ribeiro, Adrián Butzke, Zé Carlos, Alberto Baio

Treinador: Álvaro Pacheco

Golos: Afonso Freitas (1′), Taremi (gp, 26′), Francisco Conceição (45+5′), Pepê (75′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Tiago Silva (16′), a Borevkovic (25′), a Manu Silva (35′), a Jota Silva (44′), a Taremi (55′), a Bruno Gaspar (72′)

“Uma equipa como o FC Porto tem de lutar por títulos. Amanhã podemos ter uma passagem, mais uma vez, à final da Taça. Em cinco anos fomos quatro vezes à final. Teremos de ser competentes para ultrapassar uma equipa difícil como o V. Guimarães. Não é para salvar nada, é para tentar estar presente na decisão de um título. Sobre o plantel… No meu primeiro ano era tudo gente com algum traquejo, experiência, com anos de casa. Ao longo dos anos fomos perdendo essas pessoas, mas temos uma equipa jovem. Foi um ano difícil, pela juventude do plantel”, disse o treinador do FC Porto na antevisão da partida.

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Neste contexto e também sem Evanilson e Diogo Costa, o primeiro devido a castigo e o segundo por lesão, Sérgio Conceição lançava o onze que tem sido mais habitual, com Alan Varela no meio-campo e Galeno no ataque, e recuperava a titularidade de Taremi, que já não começava um jogo de início desde dezembro. Do outro lado e motivado pela recente vitória no Dragão, para o Campeonato, Álvaro Pacheco colocava Nélson Oliveira e Jota Silva no setor ofensivo, apoiados principalmente por Nuno Santos.

O FC Porto entrou no jogo praticamente a perder, com o V. Guimarães a abrir o marcador ainda durante o primeiro minuto e a empatar desde logo a meia-final. Jota Silva tirou um lançamento lateral na direita, os vimaranenses venceram o duelo aéreo e ao primeiro poste e Afonso Freitas apareceu ao segundo a desviar para a baliza deserta (1′). Os dragões não reagiram de imediato, com o jogo a desenrolar-se muito na zona do meio-campo, e só Galeno é que assustou Charles no quarto de hora inicial, com um remate cruzado que o guarda-redes encaixou (12′).

O FC Porto foi conseguindo empurrar o V. Guimarães para o próprio meio-campo, com a equipa de Álvaro Pacheco a perder a capacidade de atacar de forma construída e a basear-se demasiado em transições rápidas. Do outro lado, os dragões tinham bola, mas não conseguiam propriamente aproximar-se da baliza contrária com perigo ou criar oportunidades. Já depois dos primeiros 20 minutos, porém, a ocasião surgiu.

Francisco Conceição foi derrubado por Charles na área do V. Guimarães, Artur Soares Dias foi analisar as imagens do VAR e Taremi converteu a grande penalidade para empatar o jogo e colocar o FC Porto novamente na frente da eliminatória (26′). A lógica manteve-se a partir do empate, com os dragões a terem sempre mais bola e maior presença no último terço oposto e os vimaranenses a demonstrarem muitas dificuldades para avançar de forma apoiada, e Pepe ficou muito perto de marcar com um cabeceamento na área que Charles defendeu (38′).

Pepê também teve uma boa oportunidade pouco depois, com um remate rasteiro que o guarda-redes também intercetou (42′), mas o golo estava reservado para aquele que ia sendo o melhor jogador em campo. Francisco Conceição combinou com João Mário na direita, recebeu de volta já na área e atirou de pé esquerdo para colocar o FC Porto a ganhar e alargar a vantagem na meia-final (45+5′), coroando mais uma exibição muito positiva em que ia fazendo o que queria de Afonso Freitas e Manu Silva. Ao intervalo, os dragões estavam a vencer e estavam na frente da eliminatória.

Álvaro Pacheco mexeu logo ao intervalo e trocou Nélson Oliveira por Kaio César, que foi titular no Dragão no jogo do Campeonato e esteve em bom plano, e também Afonso Freitas por Miguel Maga. A lógica do jogo manteve-se, com muitos duelos na zona do meio-campo e o FC Porto a ter um ascendente claro que se materializava essencialmente pelos corredores, onde Francisco Conceição e Galeno continuavam a ganhar duelos consecutivos e a criar lances de perigo.

O V. Guimarães começou a conseguir contrariar essa ideia já perto da hora de jogo, subindo as linhas e obrigando o FC Porto a recuar, e Tiago Silva poderia ter empatado com um remate prensado que foi à malha lateral (56′). Nuno Santos prolongou a reação vimaranense com um pontapé de fora de área que Cláudio Ramos encaixou (58′), Kaio César cabeceou ao lado (59′) e Sérgio Conceição procurou reconquistar o meio-campo com a entrada de Romário Baró para o lugar de Galeno, enquanto que Álvaro Pacheco lançou André André e Villanueva.

A um quarto de hora do fim, porém, o FC Porto fez xeque-mate. Baró dominou no peito no meio-campo, tirou um passe perfeito a descobrir Pepê na esquerda e viu o brasileiro atirar cruzado para bater Charles (75′) — enquanto Sérgio Conceição consolava Galeno, que no banco de suplentes estava em lágrimas depois de ter perdido uma oportunidade colossal antes de ser substituído. Pepê saiu logo depois, para dar lugar a Gonçalo Borges, e Wendel Silva, Eustáquio e Danny Namaso também tiveram alguns minutos.

Até ao fim, porém, já pouco aconteceu. O FC Porto voltou a vencer o V. Guimarães e está na final da Taça de Portugal pelo terceiro ano consecutivo, marcando encontro com o Sporting no Jamor. Tal como tem sido habitual, Francisco Conceição foi o melhor elemento dos dragões, sofreu um penálti, marcou um golo e assumiu o papel de guia da habitual viagem de família até ao Estádio Nacional.