Elon Musk, o CEO da Tesla e o maior accionista da marca norte-americana de veículos eléctricos, quis implementar um plano de crescimento considerado ousado pela administração e, para demonstrar a sua confiança na estratégia, acordou em 2018 um sistema em que trabalharia gratuitamente, recebendo apenas milhões de dólares em acções caso atingisse os objetivos que poucos acreditavam serem possíveis. Depois de seis anos sem receber um dólar, a Tesla tinha de lhe pagar 55,8 mil milhões de dólares, o que pretendia realizar sem contestação. Isto até um pequeno accionista recorrer ao tribunal, contestando o sistema, e a juíza deu-lhe razão.

O tribunal de Delaware, estado norte-americano em que a empresa está registada, decretou nulo o acordo assinado em 2018 entre Musk e a administração da Tesla por ter sido “inapropriadamente aprovado”. Mas a administração da empresa não só considera isso um erro, como está apostada em repor a situação acordada e proceder ao pagamento. Daí que tenha enviado uma carta aos accionistas para voltar a aprovar o plano de pagamentos acordado com Musk há seis anos.

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Segundo a chairman da Tesla, Robyn Denholm, a marca “não concorda com a decisão do tribunal e não aceita que o tribunal de Delaware decida como deve funcionar uma empresa”. Por isso, Denholm solicitou nova votação a favor “do acordo assinado pela empresa com o CEO em 2018” e que tantos lucros trouxe à Tesla e a todos os seus accionistas. Consultando a evolução do valor da empresa entre 23 de Abril de 2018 e hoje, é fácil constatar que a capitalização bolsista da Tesla subiu de 49,90 para 445,11 mil milhões de dólares, multiplicando quase por 10 o valor das acções que os investidores tinham no bolso graças às decisões do CEO.

Denholm recorda que “Musk nada recebeu pelo seu trabalho nos últimos seis anos” — não que isso comprometa as suas finanças pessoais, uma vez que continua a ser das pessoas mais ricas do mundo —, apesar do plano de pagamentos ter sido então aprovado por 73% dos accionistas, o que considera “ser fundamentalmente injusto”. E para evitar novo confronto com a lei de Delaware, quer ainda aprovação para mudar o registo da Tesla para o Texas, Estado que acolheu o construtor de mãos abertas e foi instalada uma das mais recentes e maiores fábricas da marca.

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A esta actual pressão da administração da Tesla sobre os seus accionistas não deverá ser alheio o facto de Elon Musk ter recordado recentemente que os seus investimentos na Inteligência Artificial e na robótica (com capacidade para substituir humanos por robôs humanoides nas linhas de montagem da marca) foram realizados com capitais próprios e não da Tesla, pelo que o construtor teria de os pagar para ter acesso, ao contrário do que aconteceu até aqui. Já para não falar nos jactos de ar frio que a Tesla pretende instalar no Roadster para fazer dele o desportivo mais rápido do mundo, foguetes esses desenvolvidos e utilizados pela SpaceX, empresa de que Musk possui 42% mas 79% dos votos.