A velha máxima popular de “manda quem pode” aplica-se na perfeição a Elon Musk e à Tesla, a empresa que dirige e onde é o maior accionista. Através da também sua rede social X, o CEO comunicou à administração (e ao mundo) que se sentia “desconfortável em fazer crescer a Tesla, para se tornar líder em Inteligência Artificial (IA) e Robotics, sem possuir cerca de 25% da empresa, de forma a deter o controlo”. Dito por outras palavras, ou a Tesla lhe permite controlar 25% das acções com poder de voto, o suficiente para influenciar mas não o bastante para impedir que seja contrariado”, ou então a Tesla não vai ter IA ou robôs.

A origem desta polémica surgiu não devido a Musk ou até mesmo por responsabilidade da administração. Foi sim um pequeno accionista – Richard Tornetta, com apenas nove títulos dos 3,16 mil milhões emitidos –, que resolveu solicitar a um juiz do estado de Delaware que invalidasse o sistema de compensação acordado entre a administração da Tesla e o seu CEO, que lhe permitiu encaixar mais de 55 mil milhões de dólares, alegando que havia na direcção da empresa elementos próximos de Musk, ou controlados por este.

O acordo de compensação em causa foi atribuído em 2018, cerca de seis meses depois do lançamento do Model 3, quando a produção estava complicada e o futuro da Tesla parecia tudo menos risonho. À época, Musk usou um argumento curioso para convencer a administração a validar a sua estratégia ousada, demonstrando a sua confiança no plano que ele mesmo traçou, ao oferecer-se para continuar como CEO sem qualquer remuneração, recebendo apenas um “generoso” prémio quando o valor em bolsa da empresa atingisse 100 mil milhões de dólares.

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Elon Musk. O mais rico do mundo vai ficar (ainda) mais rico

Esta proposta de Musk terá parecido suicida e rapidamente foi agarrada com as duas mãos pela administração da Tesla, empresa que na altura tinha uma capitalização bolsista de 60 mil milhões de dólares e o que o CEO propunha era trabalhar sem vencimento até o valor em bolsa atingir 100 mil milhões (um aumento de 66,6%), com um novo prémio a ser devido quando o valor desse mais um salto positivo de 50 mil milhões. Tudo isto numa fase em que o Model 3 ainda era uma fonte de problemas e Elon Musk queria lançar o Model Y, prevendo que, em 10 anos, a companhia que dirigia poderia atingir 650 mil milhões de dólares. Convenhamos que, além de Musk, praticamente ninguém acreditava que isto fosse possível… mas estavam enganados.

Em 2010, os títulos da Tesla estavam a 3,81 dólares, tendo subido lentamente até 88 dólares em 2020, ano em que se realizou um split 5 por 1 das acções, para as tornar mais acessíveis. Para surpresa geral – aparentemente para todos, menos para Musk –, cada título da marca americana em Abril de 2022 já valia quase 1000 dólares (a 25 de Abril estava a 990$/acção), o que levou Musk a encaixar uma quantidade absurda de acções, cujo valor o tornou no homem mais rico do mundo.

No auge do crescimento da Tesla, Musk detinha já cerca de 20% do construtor, mas terá vendido 7% para reunir os fundos necessários à compra do Twitter. Agora e enquanto o tribunal do Delaware ainda não decidiu sobre a queixa de Tornetta, Musk volta à carga em relação à Inteligência Artificial e à robótica. A primeira apontada como determinante para o futuro de todas as actividades, com o automóvel à cabeça, e a segunda essencial para reduzir os custos de produção, com os robôs a poderem substituir alguns dos operários na linha de montagem. Para Musk a situação é muito simples: ou passa a deter 25% da Tesla, ou o construtor só irá ter IA e robôs caso os adquira, porque ele vai retirar estes dois grandes argumentos de venda da marca de veículos eléctricos, uma vez que é ele que os controla. E o mais grave é que poucos duvidam que, sem Musk, não haveria Tesla ou futuro para a empresa.