Um jovem de 23 anos, filho de um empresário moçambicano, foi raptado ao final da tarde de quarta-feira na cidade de Maputo por seis homens armados, disse esta quinta-feira à Lusa fonte policial.

De acordo com o porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic) na cidade de Maputo, Hilário Lole, o rapto deu-se cerca das 18h00 locais (17h00 em Lisboa) no Bairro Polana Caniço A, tendo o jovem sido retirado “à força” da sua viatura pelos raptores, munidos de pistolas e metralhadoras.

A Polícia da República de Moçambique (PRM) registou um total de 185 casos de raptos e pelo menos 288 pessoas foram detidas por suspeitas de envolvimento neste tipo de crime desde 2011, anunciou em março último o ministro do Interior. “Tudo indica que a cidade de Maputo apresenta maior tendência e incidência de casos criminais de raptos, seguida da província de Maputo e, por fim, Sofala, com registo de 103, 41 e 18 casos, respetivamente”, declarou Pascoal Ronda, em 19 de março.

Segundo o governante, as tendências mostram um “comportamento decrescente” desde 2020, como resultado de “ações concertadas” das autoridades moçambicanas.

“Importa também referir que de janeiro de 2023 aos dias de hoje, a PRM registou nove casos de raptos consumados e seis casos foram frustrados. Portanto, houve tentativas e essas tentativas foram frustradas, porque, na verdade, as comunidades e a ação policial deram sinal de que não podia acontecer”, acrescentou o governante, na altura.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O ministro moçambicano admitiu, no entanto, a existência de desafios para combater os raptos no país, considerando que a onda está a criar um sentimento de insegurança, pouco favorável para o ambiente de negócios.

“Urge a necessidade de aprimorarmos cada vez mais os nossos métodos de atuação e a nossa capacitação e também a nossa potenciação e meios tecnológicos adequados para correspondermos ao problema e enfrentá-lo com a expectativa que merece”, acrescentou o governante. A onda de raptos em Moçambique tem afetado empresários e seus familiares, sobretudo pessoas de ascendência asiática, o que para as autoridades exige uma reflexão.

A maioria dos raptos cometidos em Moçambique é preparada fora do país, o que dificulta o combate a este tipo de crimes, disse esta quarta-feira, no parlamento, a procuradora-geral da República, Beatriz Buchili. “Um dos maiores desafios no combate [aos raptos] prende-se com o facto de grande parte dos atos de preparação para a execução do crime e o pagamento de resgate ocorrerem fora do país”, disse, durante a informação anual que presta ao parlamento. A maioria dos mandantes vive na África do Sul, avançou.

“Por isso, a investigação e instrução impõe, necessariamente, o recurso aos mecanismos de cooperação jurídica e judiciária internacional, envolvendo os países com conexão objetiva ou subjetiva com o crime, para a assistência mútua legal, extradição ou partilha de informação”, acrescentou.

Na informação anual da Procuradoria-Geral da República (PGR) admite-se que “a cooperação jurídica e judiciária com a África do Sul, país vizinho e irmão, não tem corrido aos níveis necessários para combater este tipo de criminalidade, que afeta os dois países”.

A PGR enfatiza que foram submetidos 20 pedidos de extradição e auxílio judiciário mútuo há mais de um ano, incluindo de mandantes identificados de raptos, mas Moçambique não obteve resposta. Destaca ainda os esforços em curso para a assinatura de um acordo de extradição entre Moçambique e África do Sul, visando o reforço da cooperação na luta contra a criminalidade organizada.

No relatório anual, a PGR aponta que em 2023 foram abertos sete processos-crime de rapto, uma queda de 53,3% em comparação com o ano anterior, em que foram registados 15. Foi deduzida acusação em 12 processos e arquivados cinco, tendo nove transitado para este ano.