A maioria dos partidos que viabilizaram o último governo espanhol manifestaram-se esta quinta-feira solidários com o primeiro-ministro, o socialista Pedro Sánchez, e pediram-lhe para continuar no cargo, depois da ameaça de demissão de quarta-feira.
Sánchez cancelou a agenda dos próximos dias e disse que na segunda-feira revelará se vai continuar à frente do Governo, após ser conhecida uma investigação judicial que envolve a mulher, Begoña Gómez, e que o primeiro-ministro atribui a uma perseguição pessoal e a uma “máquina de lodo” do Partido Popular (PP, direita) e do Vox (extrema-direita).
Espanha. Mulher de Pedro Sánchez investigada por alegado tráfico de influências e corrupção
O atual governo espanhol, uma coligação de esquerda do partido socialista espanhol (PSOE) e do Somar, foi viabilizado no parlamento por mais seis partidos nacionalistas e independentistas das Canárias, Catalunha, Galiza e País Basco.
O Somar, através do deputado e dirigente Enrique Santiago, disse, esta quinta-feira, entender que Sánchez “esteja devastado” com a perseguição que é alvo a mulher, mas defendeu que “tem uma obrigação com o país”, a de parar e resistir ao ataque da direita e da extrema-direita.
Também o Podemos — que abandonou recentemente a plataforma Somar assumindo divergências com a direção e com o próprio Sánchez — manifestou solidariedade com o primeiro-ministro e defendeu que deve continuar no cargo e não desistir por estes motivos.
“Quando uma pessoa como Sánchez chega a este ponto significa que alguma coisa grave está a acontecer”, disse a líder do Podemos, Ione Belarra, que defendeu ser necessário travar “a direita golpista” que faz perseguições e ataques pessoais aos adversários, como já aconteceu a dirigentes desta formação.
A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC, independentista), através do líder parlamentar, Gabriel Rufián, pediu a Sánchez para não ceder ao “filofascismo” porque seria “um mau exemplo”.
O Bloco Nacionalista Galego (BNG), por seu turno, disse que “respeita a decisão de Pedro Sánchez”, mas defendeu que a atual legislatura tem de continuar, denunciando a “estratégia de crispação sem escrúpulos morais e éticos” da direita para destruir adversários políticos.
Já o partido independentista basco EH Bildu garantiu que “não vai abrir caminho à direita” mesmo que Sánchez acabe por se demitir e o Partido Nacionalista Basco (PNV) apelou ao primeiro-ministro para não esperar até segunda-feira para se dirigir ao país.
O PNV — em linha com outros partidos — defendeu também mudanças legislativas que evitem que “qualquer denúncia, por frágil que seja, possa dar lugar a uma investigação” judicial.
Quanto ao Juntos pela Catalunha (JxCat), do ex-presidente regional Carles Puigdemont, desafiou Sánchez a submeter-se a uma moção de confiança no parlamento.
Pedro Sánchez disse estar a pensar demitir-se depois de um tribunal de Madrid ter confirmado a abertura de um “inquérito preliminar” envolvendo a mulher, Begoña Gómez, por alegado tráfico de influências e corrupção, na sequência de uma queixa da associação “Mãos Limpas”, associada à extrema-direita.
Begoña Gómez vai ser investigada por alegadas ligações a empresas privadas, como a companhia aérea Air Europa, que receberam apoios públicos durante a crise da pandemia ou assinaram contratos com o Estado quando Sánchez era já primeiro-ministro.
A própria associação “Mãos Limpas” disse esta quinta-feira, num comunicado, que fez a queixa com base em publicações em meios de comunicação digitais e comentários em “tertúlias”, admitindo que podem ser alegações falsas. Também já esta quinta-feira o Ministério Público se pronunciou pelo arquivamento do caso.
As publicações sobre Begoña Gómez têm sido referidas pelo PP e pelo Vox em declarações públicas e em debates políticos, incluindo no parlamento.
O primeiro-ministro e líder do partido socialista espanhol (PSOE) disse que a mulher e ele próprio estão há meses a ser vítimas “de uma operação de assédio e destruição” pessoal do PP e do Vox, num “ataque sem precedentes” na democracia espanhola.
Sánchez, à frente do governo espanhol desde 2018, acusou PP e Vox de não aceitarem os resultados das últimas eleições e de terem percebido que “o ataque político não seria suficiente”, pelo que passaram para o ataque pessoal e, sobretudo, à sua mulher, no que considerou ter sido o cruzar de linhas inaceitáveis.
PP e Vox acusaram-no de estar a vitimizar-se e a fazer “um espetáculo” que envergonha Espanha internacionalmente para desviar as atenções das suspeitas de corrupção.