“Enorme traição aos animais”, “uma desilusão”, “farsa” e “lucro disfarçado de impacto ambiental”. Quando a chef Mollie Engelhart anunciou nas redes sociais que os seus restaurantes de comida vegan iam passar a servir bifes, queijo e ovos, foi amplamente criticada pela comunidade vegetariana de Los Angeles. Mas a norte-americana diz que teve razões para proceder à “transição terrível” de que foi acusada.
Após mais de uma década a servir pratos plant-based nos restaurantes Sage Vegan Bistro em Echo Park, Culver City e Pasadena, localizados no estado da Califórnia (Estados Unidos), Mollie Engelheart decidiu mudar o nome do negócio para Sage Regenerative Kitchen & Brewery e colocar a carne e os produtos derivados no menu. Um dos maiores motivos? Percebeu que afinal a dieta vegan não chegava para salvar o planeta.
“Parece fraco dizer publicamente: ‘Acreditava numa coisa, talvez estivesse errada e agora acredito noutra’“, confessou ao jornal Los Angeles Times, após ter sido criticada nas redes sociais. “Mas espero que inspire as pessoas a estarem dispostas a ter uma mente aberta quando outra coisa faz mais sentido para nós.”
A chef norte-americana, que abriu o primeiro restaurante em 2011, explicou ainda que levou 18 meses entre ter percebido que a dieta vegan não era suficiente para combater o aquecimento global e a tomar a decisão de mudar o menu a 29 de maio. “Acho que tinha mesmo de estar encostada à parede para ter a coragem de o fazer, porque sabia o criticismo que ia ter”, confessou.
A nova ementa vai conter ainda muitas opções vegan, como a couve-flor de búfalo, os hambúrgueres de tempeh e a bowl brasileira, com couve, feijão preto e banana. As novidades serão o ramen de frango, os ovos estrelados e a carne assada.
Além de ter percebido que a dieta vegan não chegava para colocar um travão às alterações climáticas, Mollie Engelhart foi também motivada pelas dificuldades financeiras por que está a passar desde a pandemia.
“Os meus restaurantes têm tido muitas dificuldades, como tantos outros restaurantes após a pandemia”, explicou, dizendo que o negócio costumava faturar 6,5 milhões de euros (aproximadamente sete milhões de dólares), por ano, mas que os lucros desceram a pique desde 2020.
A chef ainda tentou incorporar outras mudanças antes de fazer a mais radical, nomeadamente ao ter encerrado um outro restaurante que tinha, em Agoura Hills, e transformado o de Culver City numa estação de serviço. Além disso, vendeu a sua caravana e a fazenda Filmore, que costumava fornecer cerca de 20% a 25% dos produtos aos restaurantes.
Desta forma, a decisão recaiu, em parte, nas dificuldades financeiras. No entanto, Mollie Engelhart referiu que o maior fator que conduziu à mudança foi o de querer promover a agricultura regenerativa e de práticas ecologicamente mais sustentáveis. Um assunto que a chamou à atenção durante uma TED Talk, que a levou a querer aprender mais sobre as tecnologias para melhorar a saúde do solo, promover a biodiversidade e capturar o dióxido de carbono da atmosfera.
“Compreendo a paixão, tristeza e raiva [das pessoas que a criticam nas redes sociais pela transição]. Eu tinha a mesma visão do mundo que eles antes de mudar as minhas ideias com base na minha experiência na agricultura e tenho compaixão pelo que estão a sentir”, garantiu a chef ao mesmo jornal.
“Não estou apenas a dizer que estou a acrescentar carne à ementa para conseguir mais clientes“, acrescentou Engelhart. “Estou a dizer que penso que o caminho mais importante para capturar o dióxido de carbono é através dos bovinos na relva e, para que isso aconteça em grande escala, precisamos que as pessoas o apoiem”, garantiu.